Incêndio
do Museu Nacional
*
Por Eduardo Oliveira Freire
Qual
é mais importante? Fazer Direito? Engenharia?Administração?
Medicina? Na verdade, todas as profissões e as faculdades são
importantes. Por isso, peço aos jovens que almejam ingressar nos
cursos de Arqueologia, Museologia, Artes, História, Biblioteconomia
e Ciências Sociais, que
não
desistam por favor. Vocês serão os profissionais que que irão
manter nossa memória.
Mesmo que só consigam trabalhar lá fora, não desistam. Sei que é um pedido complicado. Vive-se em um mundo onde o dinheiro possui muito valor. Mas, acredito na paixão que vocês têm.
Fiz Ciências Sociais, não me arrependo. Entretanto, eu nunca tive perfil de cientista social. Não culpo o curso de não ser bem sucedido. O problema foi comigo por até hoje não encontrar meu perfil profissional.
Enfim, é desoladora a destruição do Museu Nacional. Mostra como não se valoriza o patrimônio histórico do país. Com certeza, muitos jovens questionarão se vale a pena fazer estes cursos "desvalorizados" pelo mercado.
Porém, se escolher o pragmatismo mercadológico, não possuiremos mais memória e pensamento reflexivo. As elites oligárquicas desejam isto, um povo acéfalo e autômato. A destruição dos patrimônios históricos é um crime hediondo contra o país e a humanidade.
Não
estou a desenvolver uma teoria da conspiração. Mas, quando soube da
notícia do incêndio do Museu Nacional, fiz uma relação com o
romance Fahrenheit 451.
Na
história do romance, o livro é um fogo que faz as pessoas
transcenderem, por isso se precisava do fogo para destruí-lo. Ao
longo de nossa vida, quantos livros foram destruídos? Em Fahrenheit
451, a literatura é um veneno terrível para uma sociedade
consumista, fria, eufórica e que só quer assistir
programas televisivos sem refletir. Os livros significam a memória
histórica e mostram como a gente sempre repete os erros de nossos
antepassados.
O
Brasil vive um processo de sucateamento nas faculdades e na
preservação dos bens culturais e históricos. Nunca houve uma
gestão pública eficiente para estimular o conhecimento científico,
cultural e histórico por aqui, prejudicando a memória de nosso
país. As autoridades estão preocupadas com outras coisas, como, por
exemplo, aumentar os próprios salários.
Este
descaso com a memória histórica do País não deixa de ser
criminoso, visto que as gerações futuras não terão mais acesso ao
que aconteceu no passado. O Museu Nacional não foi o único
consumido pelas chamas; O Museu da Linguagem em São Paulo,
inclusive.
Estou
melancólico. Lembro-me que ia ao Museu Nacional, quando criança, e
ficava encantado quando me deparava com outros tempos. Era um lugar
de base, todos os domingos, famílias iam para lá, davam um pulo no
zoológico e faziam até piquenique na Quinta da Boa Vista.
Não
foi só Museu que foi destruído, nossa memória também. Uma
sociedade que vive no pragmatismo e não conhece sua história, não
possui uma crítica autorreflexiva. Tudo será naturalizado: “É
assim mesmo, o lance é aceitar e manter as regras”.
Quantos
outros patrimônios históricos terão o mesmo destino?
*
Formado
em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense.
Pós-Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é
aspirante
a escritor.
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