terça-feira, 4 de setembro de 2018

Incêndio do Museu Nacional - Eduardo Oliveira Freire


Incêndio do Museu Nacional

* Por Eduardo Oliveira Freire

Qual é mais importante? Fazer Direito? Engenharia?Administração? Medicina? Na verdade, todas as profissões e as faculdades são importantes. Por isso, peço aos jovens que almejam ingressar nos cursos de Arqueologia, Museologia, Artes, História, Biblioteconomia e Ciências Sociais, que não desistam por favor. Vocês serão os profissionais que que irão manter nossa memória.

Mesmo que só consigam trabalhar lá fora, não desistam. Sei que é um pedido complicado. Vive-se em um mundo onde o dinheiro possui muito valor. Mas, acredito na paixão que vocês têm.

Fiz Ciências Sociais, não me arrependo. Entretanto, eu nunca tive perfil de cientista social. Não culpo o curso de não ser bem sucedido. O problema foi comigo
por até hoje não encontrar meu perfil profissional.

Enfim, é desolador
a a destruição do Museu Nacional. Mostra como não se valoriza o patrimônio histórico do país. Com certeza, muitos jovens questionarão se vale a pena fazer estes cursos "desvalorizados" pelo mercado.

Porém, se escolher o pragmatismo mercadológic
o, não possuiremos mais memória e pensamento reflexivo. As elites oligárquicas desejam isto, um povo acéfalo e autômato. A destruição dos patrimônios históricos é um crime hediondo contra o país e a humanidade.

Não estou a desenvolver uma teoria da conspiração. Mas, quando soube da notícia do incêndio do Museu Nacional, fiz uma relação com o romance Fahrenheit 451.

Na história do romance, o livro é um fogo que faz as pessoas transcenderem, por isso se precisava do fogo para destruí-lo. Ao longo de nossa vida, quantos livros foram destruídos? Em Fahrenheit 451, a literatura é um veneno terrível para uma sociedade consumista, fria, eufórica e que só quer assistir programas televisivos sem refletir. Os livros significam a memória histórica e mostram como a gente sempre repete os erros de nossos antepassados.

O Brasil vive um processo de sucateamento nas faculdades e na preservação dos bens culturais e históricos. Nunca houve uma gestão pública eficiente para estimular o conhecimento científico, cultural e histórico por aqui, prejudicando a memória de nosso país. As autoridades estão preocupadas com outras coisas, como, por exemplo, aumentar os próprios salários.

Este descaso com a memória histórica do País não deixa de ser criminoso, visto que as gerações futuras não terão mais acesso ao que aconteceu no passado. O Museu Nacional não foi o único consumido pelas chamas; O Museu da Linguagem em São Paulo, inclusive.

Estou melancólico. Lembro-me que ia ao Museu Nacional, quando criança, e ficava encantado quando me deparava com outros tempos. Era um lugar de base, todos os domingos, famílias iam para lá, davam um pulo no zoológico e faziam até piquenique na Quinta da Boa Vista.

Não foi só Museu que foi destruído, nossa memória também. Uma sociedade que vive no pragmatismo e não conhece sua história, não possui uma crítica autorreflexiva. Tudo será naturalizado: “É assim mesmo, o lance é aceitar e manter as regras”.

Quantos outros patrimônios históricos terão o mesmo destino?


* Formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense. Pós-Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é aspirante a escritor.




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