terça-feira, 24 de julho de 2018

A pedra angular de Drummond - Euclides Farias


A pedra angular de Drummond


* Por Euclides Farias


Não gostaria de deixar a segunda-feira escapar impunemente, como se nela não tivesse ocorrido o transcurso dos 90 anos de “No meio do caminho”, o mais conhecido poema do mineiro Carlos Drummond de Andrade, publicado pela primeira vez em julho de 1928 pela modernista Revista de Antropofagia. O poema, amado e execrado pela crítica e sob grande polêmica, voltaria a ser publicado em “Alguma poesia”, livro de estreia de Drummond, em 1930.

Tenho predileção antiga pelo poema. Ele reside na minha memória juvenil como o mais nítido sinal das leituras que fiz da obra drummondiana, seja em verso ou prosa. Lia o noventão “No Meio do caminho” com muito mais interesse estético do que os poemas obrigatórios dos bancos escolares, naqueles tempos de descobertas literárias na Macapá dos anos 60 e 70 do século passado.

Divertido, Drummond lançou em 1947 uma “biografia do poema” para reunir em livro as cobras e lagartos e o reconhecimento ao valor daqueles versos inseridos no que se chama de estilística da repetição. “Tinha uma pedra no meio do caminho. No meio do caminho tinha uma pedra. (...) Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra. (...).

Felizmente, 90 anos depois, o poema segue liberto das reações contrárias que o viam como pueril e objeto de tropeço estético - e não como pedra angular do pendor drummondiano pelo movimento inaugurado pela Semana de Arte Moderna. Nasceu ali um gênio da raça.


* Jornalista da Amazônia. Trabalhou em O Liberal, A Província do Pará, Agência Nacional dos Diários Associados e Rádio Cultura. Atuou, como freelancer, na Folha de S. Paulo e Jornal da Tarde.




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