Os
sapos
* Por
Manuel Bandeira
Enfunando
os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em
ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
— “Meu pai foi à guerra!”
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”.
Berra o sapo-boi:
— “Meu pai foi à guerra!”
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”.
O
sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: — “Meu cancioneiro
É bem martelado.
Parnasiano aguado,
Diz: — “Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede
como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O
meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai
por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.
Clame
a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas…”
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas…”
*
Poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura,
tradutor e membro da Academia Brasileira de Letras.
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