Contra
o poder, exercite sua memória
* Por
José Ribamar Bessa Freire
A
luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o
esquecimento”.
Milan
Kundera (1979)
O
escritor tcheco Milan Kundera já estava exilado em Paris, em 1979,
vagabundando pelo Quartier Latin, quando publicou aos 50 anos “O
livro do riso e do esquecimento”, dividido em sete narrativas, que
discutem, entre outras coisas, o esquecimento que o poder nos impõe
e que acabamos aceitando. O direito de lembrar não está incluído
na Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela ONU,
onde a palavra “memória” sequer é citada. Esse direito,
frequentemente, nos é negado. O esquecimento, que gera impunidade, é
o que leva uma nação inteira a reeleger delinquentes e assaltantes
dos cofres públicos.
Taí
o Collor e o Maluf que não me deixam mentir. O senador Romero Jucá
(PMDB-RR vixe vixe), que figura na lista de propineiros, sabia disso
quando cantou a pedra, numa gravação que se tornou pública, mas
que já esquecemos: “Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o
governo [de Dilma] pra estancar essa sangria por meio de um acordo
com o Supremo, com tudo”. O estancamento proposto não é apenas da
Operação Lava-Jato, mas sobretudo de suas consequências sobre a
memória coletiva com o apagamento do que foi revelado nas delações
premiadas.
Por
essa razão, o Data Taquiprati, depois do teste sobre a corrupção
no Amazonas de 1996, recentemente atualizado, elaborou novo teste
hoje, desta vez para avaliar a memória do leitor sobre a corrupção
nacional, o que contribui para que novos escândalos não apaguem os
anteriores. Verifique:
1.
O governador do Amazonas José Melo Merenda (PROS, vixe vixe) teve
seu mandato cassado nesta quinta-feira (4) pelo TSE porque:
a)
Furtou no Supermercado DB um disfarce para calvície da Super Billion
Hair.
b)
Comprou votos nas eleições de 2014 e usou em seu favor a Polícia
Militar.
c)
Desviou em 1995, quando secretário de educação, duas mil toneladas
de merenda escolar no valor de R$ 6 milhões.
d)
Contribuiu para 70 mortes ocorridas na Penitenciária Anísio Jobim.
e)
Surrupiou da Penitenciária de Bangu a peruca do Eike Batista.
2.
Os crimes imputados ao bilionário Eike Fuhrken Batista, solto
domingo passado pelo ministro do STF, Gilmar Mendes, são:
a)
Imposição de coleira no pescoço de sua ex-esposa Luma de Oliveira.
b)
Fraude, em 2008, na licitação revelada pela Operação Toque de
Midas da PF.
c)
Manipulação criminosa do mercado e lavagem de mais de US$ 100
milhões.
d)
Contrabando de fios de ouro para sua peruca dourada e ondulada tecida
com “monkey’s pubic hair”.
e)
Pagamento de propina de 16,5 milhões de dólares ao ex-governador
Sérgio Cabral.
3.
Sérgio Cabral (PMDB, vixe vixe), trancafiado em Bangu à espera de
ser solto por Gilmar Mendes, foi preso porque:
a)
Cometeu crimes de corrupção 49 vezes e lavagem de dinheiro 164
vezes.
b)
Recebeu 5% nos contratos de reforma do Maracanã e Arco
Metropolitano.
c)
Comprou R$ 6 milhões de joias para sua cara metade Adriana Ancelmo
só numa joalheria e quebrou o Estado do Rio e a UERJ.
d)
Construiu em sua mansão de Angra privada informatizada com vaso
sanitário cravejado de rubis, painel eletrônico, sensor para
descarga e temperatura, controle de jato do bidê e do ventinho para
secar a bunda.
e)
Desviou R$ 224 milhões matando de inveja Moreira Franco que também
governou o Rio (1987 a 1990), mas não “exagerou”, foi comedido.
4.
Moreira Franco, presente nas planilhas de propina com o codinome
“Angorá”, ao ser nomeado ministro foi blindado contra
denúncias:
a)
Peculato culposo e maracutaias na obra do Porto Maravilha (RJ)
b)
Cerca de 34 irregularidades denunciadas por executivo da Odebrecht.
c)
Flagra de furto de um desodorante Axe numa rede de supermercados.
d)
Propina recebida no leilão de aeroportos, incluindo o do Galeão.
e)
Roubo de duas galinhas do quintal de Eliseu Padilha, seu sucessor no
Ministério da Aviação Civil.
5.
Eliseu Padilha, “O Primo” das planilhas de propinas, é acusado
de:
a)
Ordenar pagamento superfaturado de R$ 2 milhões a uma empresa quando
foi ministro dos Transportes do governo FHC (1997-2001).
b)
Cobrar propinas para concessão de aeroportos, segundo delação de
Marcelo Odebrecht.
c)
Desviar para uso particular 500 caminhões de areia quando foi
prefeito de Tramandaí – RS (1989-1992)
d)
Receber R$ 10 milhões para o caixa 2 do PMDB segundo delação de
Cláudio Melo da Odebrecht.
e)
Jantar com Temer e Yunes, quando pediu ao último receber pacote de
dinheiro entregue por Lúcio Funaro, operador de Eduardo Cunha.
6.
Eduardo Cunha, usufrutuário de uma cela em Curitiba, já condenado
em primeira instância:
a)
Recebeu US$ 5 milhões em propina por contratos de aluguel de
navios-sonda da Petrobrás.
b)
Roubou em uma joalheria um colar de esmeraldas para presentear a
esposa Cláudia Cruz, a Arregalada.
c)
Mantinha quatro contas secretas em bancos da Suíça, com depósito
de 1,3 milhão de francos suíços em uma delas.
d)
Passou os cinco dedos num tênis Nike em uma loja da Barra da Tijuca.
e)
Deu a dica para Aécio Neves abrir contas secretas em Liechtenstein.
7.
Aécio Neves, presidente do PSDB (vixe vixe), aparece nas delações
premiadas pelos seguintes crimes?
a)
Recebeu R$ 9 milhões da Odebrecht, segundo o ex-presidente da
empreiteira.
b)
Abocanhou um terço da propina de Furnas, segundo Dimas Toledo,
ex-direitor de Engenharia da empresa.
c)
Construiu com dinheiro público um aeroporto particular na fazenda da
família em Cláudio (MG).
d)
Almoçou com Gilmar Mendes, com quem viajou para Portugal.
e)
Jantou com Moro, com quem conversou para incriminar Lula.
8.
Lula, que vai depor em Curitiba no próximo dia 10, vai ter que
explicar uma série de acusações:
a)
Comprou um apartamento de 11 milhões de euros na av. Foch, em Paris,
e colocou no nome de Fernando Henrique Cardoso (FHC)
b)
Comprou um tríplex em Guarujá no valor de 487 mil euros e colocou
no nome de um “amigo”.
c)
Chefiou um esquema de roubo na Petrobrás em Furnas que beneficiou,
entre outros, Cunha e Aécio Neves.
d)
Ganhou das empreiteiras dois pedalinhos, em nome dos filhos, e um
sitio em Atibaia em nome de um “amigo”.
e)
O amigo não é Moro, nem Gilmar Mendes, nem José Serra.
9.
José Serra, codinome “Vizinho” e “Careca”, aparece nas
delações premiadas como:
a)
Receptador de R$ 4,67 milhões em 2004 sobre obras da Linha 2-Verde
do Metrô de São Paulo, o valor correspondente a 3% do contrato.
b)
Abiscoitador de R$ 23 milhões da Odebrecht via Caixa 2, em 2010, o
que equivale em valor corrigido pela inflação a R$ 35 milhões.
c)
Titular de conta em banco suiço, onde o grupo Brasif depositou US$ 2
milhões e a Odebrecht R$ 4 milhões por conta do Rodoanel.
d)
Responsável pelo corte do half direito Euclides, o Dadá, da seleção
brasileira no Chile, conforme delação não premiada do Taquiprati.
(ver http://www.taquiprati.com.br/cronica/869-serra-e-a-derrota-do-brasil)
e)
Estreitou amizade com Adhemar César Ribeiro, cunhado de Geraldo
Alckmin.
10.
José Geraldo Alckmin, que aparece em várias delações premiadas
com o codinome “Santo”:
a)
Recebeu R$ 10,7 milhões em propinas que a Odebrecht repassou a ele
através de seu cunhado. (Cunhado não é parente, Alckmin pra
presidente)
b)
Nas campanhas eleitorais de 2010 e 2014, abocanhou recursos ilícitos
contabilizados no Departamento de Operações Estruturadas da
Odebrecht.
c)
Privilegiou obras de empresas citadas na Lava-Jato com suplementação
polêmica de verbas.
d)
Na sua infância, em Pindamonhangaba, revelou seus dotes em trapaça,
apoderando-se das bolas de gude de seu melhor amigo.
e)
Leu escondido “O Código Da Vinci”, que revela “o grande
segredo” combatido pela Opus Deus: Jesus Cristo teve filhos com
Maria Madalena.
Avaliação
final: Se
acertou todas as questões, parabéns. Se todos fossem iguais a você,
os corruptos estariam presos e permaneceriam na cadeia.
De
7 a 10 respostas certas, existe possibilidade de que não vote errado
nas próximas eleições, mas é bom tomar cuidado.
De
3 a 6, não se queixe, você pode reeleger trapaceiros.
Entre
1 a 2, você é um alienado e candidato a bater panelas contra os
inimigos da TV Globo, acreditando que dessa forma combate a
corrupção.
Nenhuma
resposta certa: os corruptos existem, porque você existe.
*
Jornalista e historiador.
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