Fantasma de dores de cotovelo passadas
* Por
Fernando Yanmar Narciso
Dia de ficar na fossa
de novo... Desde menino pareço sofrer do complexo de Jon Arbuckle, dono do
Garfield: Devo ter nascido com um tipo de repelente exalado pelas glândulas
sudoríparas, que faz o sexo oposto ignorar minha presença por completo ou fugir
de mim como se tivesse visto a Tati Quebra-Barraco se depilando. Mas por quê?
Confesso, com alguma
modéstia, que sou um cara relativamente jovem, bonito, culto e, dizem, de bom
papo. E mesmo assim, não importa se eu estou na academia, no shopping ou na
fila do supermercado, para elas sou um fantasma! Já fiquei ligadão em poucas
fêmeas na minha vida, mas quando me apego a alguém, fico doente de paixão pra
valer. No entanto, toda vez que tento deixar a amizade pra lá e propor a elas
algo mais sério, caio de cabeça do cavalo: Ou são casadas ou gays.
O que me consola é que,
pelo menos uma vez nesses trinta anos de vida, esse rumo pareceu mudar. Uma
curta e intensa glória no meio de uma coleção de derrotas... Foi uma professora
do curso de design gráfico que me deu a dica. A menina tinha um grupo de
discussão sobre cultura oriental na faculdade rival, e essa professora percebeu
que eu e ela podíamos ter algo em comum.
Sem ter o que perder,
fui conhecer a moça... E o Cupido me acertou com uma marretada na testa! Inteligente,
geniosa, com gostos parecidos com os meus. Aquela boca carnuda, o cabelo loiro,
o jeitinho meio desengonçado de se mover, o corpo em modelo compacto... Nem
prestei atenção na aula de mangá dela, de tão mesmerizado que estava.
E ela, por sua vez, não
conseguia entender por que aquele cara doidinho não tirava os olhos dela.
Enquanto flutuava de volta para minha faculdade, com a certeza que ficaria sem
sono pelo resto do mês, ela veio correndo atrás de mim para se apresentar
melhor. Trocamos o número de celular, os contatos do bom e velho MSN e prometi
voltar na próxima aula. E nas próximas também.
Com alguns dias de
conversa, já sabia de muita coisa a respeito dela: Se mudou pra cidade sozinha
aos 15 anos, era faixa marrom em caratê, vivia de favor com uma amiga doceira,
para quem fazia bicos pra se sustentar, queria se formar em História e fugir
para o Japão- Tinha inclusive feito um cursinho de língua japonesa por
correspondência- e, infelizmente pra mim, já namorava há dois anos, com um
sujeitinho, segundo ela, meio dado a ocultista, que sacrificava pombas e
mandava bichos peçonhentos pra quem tinha praticado bullying contra ele no
colégio...
Ou seja, o pouco juízo
que tenho e minha intuição me indicavam que era melhor manter distância dela,
pra me precaver contra qualquer represália do cultistinha de meia-tigela. Mas
eu nem imaginava a força daquela mulher! A gente não se conhecia nem há um mês
e ela já estava disposta a triturar os dois anos de namoro- Dizia estar tudo
bem entre os dois, me procurar onde quer que eu esteja e se declarar a mim,
como de fato aconteceu. E aquela noite foi de pura magia!
Foram os quatro meses
em que minha existência enfim ganhou um propósito. Sem a ajuda dela, eu nem
teria conseguido tirar nota máxima no TCC, mas foi uma questão de tempo até o
caldo engrossar pro nosso lado. Ela sempre ocupada com a faculdade e obcecada
com seu diploma, não raro chegava meio inebriada aos nossos encontros. Eu, com
minha inexperiência com o sexo oposto, continuava fazendo as coisas à minha
maneira, sem mudar meus modos, minha forma de me apresentar. Ela se arrumava
toda pra me visitar e eu sem nem um perfume no pescoço ou trocar de roupa pra
recebê-la...
Foi um namoro
inesquecível nos primeiros dois meses, mas depois não deu mais pra ela
continuar insistindo. Depois dela, nunca mais tive sorte com as moças. Claro
que ser portador de déficit de atenção, síndrome de Asperger, dono de uma
timidez que chega a constar na Wikipédia e não ser fã de jogar conversa fora
são fatores que dificultam as coisas pra mim, mas bem que as mulheres podiam
facilitar as coisas pra gente!
Quer dizer, como
estamos na era do “eu me amo”, da autossuficiência acima de tudo e de moças que
se recusam a ser Olívia Palito nas mãos do Brutus, bem que vocês podiam deixar
de lado o manjado joguinho do “Adivinha o que eu tô pensando”, que tanto irrita
o sexo oposto... Por que sentem tanta dificuldade para ser diretas, objetivas?
Homem não suporta o clichê “Eu disse isso? Então faz o contrário do que eu
disse!” Nem todo homem tem inteligência o bastante pra sacar essas sutilezas.
Sejamos sinceros, relacionamentos só servem pra trazer problemas e
dor-de-cabeça. Uma dor sem a qual a vida não tem sentido...
* Escritor
e designer gráfico. Contatos:
HTTP://www.facebook.com/fernandoyanmar.narciso
HTTP://www.facebook.com/terradeexcluidos
cyberyanmar@gmail.com
Não chore mais não. Este será o último Dia dos Namorados no qual passará sozinho. E que este lindo desabafo lhe traga novas chances no amor e boa sorte!
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