sexta-feira, 13 de junho de 2014

A despedida

* Por Mouzar Benedito

Quando Elias completou 31 anos como lateral esquerdo da Esportiva Nova Resende, resolveram fazer para ele uma festa de despedida do futebol. Um detalhe: os 31 anos não eram de idade (que devia estar por volta dos 50), mas só de titular do time. Se deixassem, ele continuaria ainda. A festa foi um jeito sutil de tirá-lo pelo menos da equipe principal.

A despedida seria contra o time da Ventania, que topou o acerto: a primeira bola que fosse na sua área, um zagueiro deveria pôr a mão intencionalmente. O Elias seria encarregado de bater o pênalti e o goleiro tinha a obrigação de não defendê-lo. Aí seria feita uma grande badalação, com discursos e tudo o mais. Depois recomeçaria o jogo, já com outro titular na lateral esquerda da Esportiva. E alguém daria também um pênalti intencional a favor do time da Ventania. Só daí pra frente o jogo seria pra valer.

Desde meia hora antes do início do jogo, todos os seresteiros da cidade se revezaram num microfone improvisado em cima de um caminhão, cantando “Ave Maria do Morro”, a música preferida do Elias.

Com todo mundo em campo, fez-se um minuto de silêncio em homenagem a um ex-craque da Esportiva, que tinha morrido dias antes. Em seguida o juiz deu o início à partida e tudo correu conforme o combinado.

Aos cinco minutos de jogo, veio o pênalti. Elias bateu e marcou o gol, foi carregado pelos jogadores até o caminhão que servia de palanque. O presidente do time discursou rememorando os grandes momentos do jogador que se despedia, o prefeito falou em seguida sobre o grande cidadão, que honrava a cidade e, pra completar, foi designado para falar, representando os jogadores, o meia-direita Luizinho do Lica. O que ele fez não foi bem um discurso, falou apenas uma frase:

— Só de minuto de silêncio, o Elias tem um ano e meio!

Livro Serra, Mar e Bar


* Jornalista

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