A despedida
* Por
Mouzar Benedito
Quando Elias completou
31 anos como lateral esquerdo da Esportiva Nova Resende, resolveram fazer para
ele uma festa de despedida do futebol. Um detalhe: os 31 anos não eram de idade
(que devia estar por volta dos 50), mas só de titular do time. Se deixassem,
ele continuaria ainda. A festa foi um jeito sutil de tirá-lo pelo menos da
equipe principal.
A despedida seria
contra o time da Ventania, que topou o acerto: a primeira bola que fosse na sua
área, um zagueiro deveria pôr a mão intencionalmente. O Elias seria encarregado
de bater o pênalti e o goleiro tinha a obrigação de não defendê-lo. Aí seria
feita uma grande badalação, com discursos e tudo o mais. Depois recomeçaria o
jogo, já com outro titular na lateral esquerda da Esportiva. E alguém daria
também um pênalti intencional a favor do time da Ventania. Só daí pra frente o
jogo seria pra valer.
Desde meia hora antes
do início do jogo, todos os seresteiros da cidade se revezaram num microfone
improvisado em cima de um caminhão, cantando “Ave Maria do Morro”, a música
preferida do Elias.
Com todo mundo em
campo, fez-se um minuto de silêncio em homenagem a um ex-craque da Esportiva,
que tinha morrido dias antes. Em seguida o juiz deu o início à partida e tudo
correu conforme o combinado.
Aos cinco minutos de
jogo, veio o pênalti. Elias bateu e marcou o gol, foi carregado pelos jogadores
até o caminhão que servia de palanque. O presidente do time discursou
rememorando os grandes momentos do jogador que se despedia, o prefeito falou em
seguida sobre o grande cidadão, que honrava a cidade e, pra completar, foi
designado para falar, representando os jogadores, o meia-direita Luizinho do
Lica. O que ele fez não foi bem um discurso, falou apenas uma frase:
— Só de minuto de silêncio,
o Elias tem um ano e meio!
Livro Serra, Mar e Bar
* Jornalista
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