Inverno rigoroso
* Por Solange Sólon Borges
“En
efecto, la poesia es deseo” - Octavio Paz
O inverno vai polindo almas
castas que entregam seus mistérios. Se engrandecem com o que é ácido: nomes
crus, folhas secas, o pássaro a quebrar a velocidade dos campos com sua
simetria.
Sofro com os dias felizes como se
um rio se afastasse carregando pedras, vestígios do mundo e seu rumor que não é
arte. A fêmea seviciada pelas águas correntes porque não pode indagar mais o
que foi arrancado com tamanha profundidade. Porque vê demais nos incêndios.
Porque as chuvas foram extintas e se aplainou a superfície.
Sofro com os dias felizes ao
sentir os excessos. Será que todo ruído revela a experiência do nada? Qualquer
canto deve ter mesmo um nome?
A alma que tem seus ossos
quebrados se espanta diante da mínima beleza.
Não aprendi a usar o silêncio
como arte, quando os caudalosos rios me açoitam como oceanos.
* Jornalista, dedica-se a diversos gêneros literários. Entre outras
atividades, atua em alguns programas “O prefácio”, sobre livros e literatura.
Um deles é o programa Comunique-se, levado ao ar pela TV interativa ALL TV
(2003/2004). Apresentou, também, “Paisagem Feminina”, pela Rádio Gazeta AM
(1999), além de crônicas diárias na Rádio Bandeirantes e na Rádio Gazeta —
emissoras das quais foi redatora, repórter, locutora e editora.
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