Consolo clubístico
* Por Rodrigo Ramazzini
Leonardo
saiu de casa naquela noite estrelada de sexta-feira com um único objetivo:
fazer uma análise sociológica do universo feminino. Em outras palavras,
apreciar a mulherada mesmo, e, se possível, conquistar uma das belas que
estariam na festa. A tal festa era em uma praça pública e aberta à comunidade,
com shows de artistas locais e estaduais, em comemoração ao aniversário da
cidade.
O
primeiro panorama ao chegar à praça foi dos melhores possíveis. Mulheres para
todos os lados. Loiras, morenas, ruivas, de cabelo cumprido, cabelo curto,
enfim...
Para
entrar no clima, Leonardo comprou uma cerveja de um ambulante e posicionou-se
estrategicamente em um ponto na qual tivesse visão ampla do local e do fluxo de
pessoas, naquele vai e vem constante característico das festas.
A
primeira mulher a chamar-lhe a atenção era uma loira, com olhos verdes, cabelos
longos bem penteados. Usava uma blusa branca e um short da mesma cor, que
realçava a beleza do rosto. “Que linda!”, pensou. “Mas, muito para o meu
caminhão”, complementou o raciocínio. Estava certo. A bela passou em sua frente
e nem ao menos notou a sua presença.
Mesmo
sendo ignorado pela loira e sem sentir qualquer efeito em relação a isso,
Leonardo seguiu com a análise proposta para noite. Em meio a um grupo de oito
mulheres, notou a morena de sorriso largo, boca provocante e olhos levemente
“puxadinhos”. Ela usava uma calça jeans e uma camisa, que sutilmente
contornavam as belas curvas do seu corpo. “Bah, que bunda!”, refletiu como
conhecedor do assunto. “Mulher de bunda grande é outra coisa”, continuou a
pensar.
Assim,
por quase uma hora, Leonardo ficou a analisar todas as mulheres da festa que
entravam em seu campo de visão. Isso durou até ver a morena que o fez exclamar
em tom audível:
-
Meu Deus do céu! Que mulher é essa!
Era
uma morena que se encaixava perfeitamente com os sonhos de Leonardo. Cabelos
compridos e brilhantes, rosto bonito com traços que pareciam desenhados, peitos
grandes, cintura finíssima, coxas torneadas e, o principal, tinha os glúteos
perfeitamente arredondados.
-
Deusa!, resumiu.
Ela
passou a cerca de 30 metros de distância à sua frente. Leonardo acompanhou-a
com os olhos. Era um mulherão que valia a tentativa e o insucesso não seria
considerado fracasso. O êxito seria a glória. A autoestima já subia e os
pensamentos de como estrategicamente se aproximaria da morena já começavam a
transitar vertiginosamente pelo seu cérebro. Foi então que o sentimento de
euforia se transformou em desânimo em poucos segundos. “Putz! Ela tem namorado!
Não acredito!”, esbravejou.
Inconsolável,
ficou bebericando uma cerveja e a distância cortejando a sua deusa. Para seu
azar (ou sorte), quinze minutos depois o casal acabou se aproximando de
Leonardo e parando cerca de 5 metros à sua direita. Assim, ele pode apreciar
(discretamente) ainda mais a perfeição da morena, segundo os seus critérios.
Anestesiado
bela beleza da “deusa”, Leonardo não havia reparado em seu namorado. Ao
encará-lo, como a maioria dos homens, fez o julgamento básico. “Que louco feio!
Só pode ter dinheiro para ter uma mulher destas”, analisou subitamente.
Ao
seguir analisando o casal, minutos depois, ao perceber a roupa que o namorado
vestia, chegou a uma reflexão que serviu de consolo para a sua situação de mero
espectador da morena. Recorrendo à sua outra paixão depois das mulheres, o
futebol, sendo torcedor fanático do Internacional, confortou-se pensando: “Se
eu não vou pegar, pelo menos é um colorado que está pegando!”.
* Jornalista e contista gaúcho
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