quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Karnal ensina errado o imperativo categórico


Karnal ensina errado o imperativo

categórico

* Por Paulo Ghiraldelli Jr.

Não sirvo para patrão. Nem para chefe. Por uma razão simples: não sei mandar e odeio corrigir. Dou o exemplo, ensino, mas mandar e ficar corrigindo não é meu forte. Quando estava na universidade, ensinava dez vezes o mesmo aluno. Mas quando tinha de corrigi-lo no sentido de dizer para ele que estava errado no que eu já havia ensinado dez vezes, eu me aborrecia. Não é difícil se aborrecer com o aluno burro que se pensa sabido – o sabichão da turma.

O que vou escrever aqui e agora é uma tortura. Vou corrigir o Karnal, professor de história e palestrante de autoajuda. Afinal, autoajuda pode ser bobagem, mas não pode ser algo que ensine errado. Aí já é demais! Karnal não sabe o que é o imperativo categórico, mas quer falar sobre. Ele acha que pode falar de ética, de Kant, mas não pode. Ele não estudou, não tem formação para tal, embora se fosse um pouco inteligente perceberia que não sabe.

Ele disse que os animais se movem por imperativo categórico, por exemplo, a fome. Ele imagina que a palavra “categórico” seja algo de grande força. É de grande força, mas justamente por não se referir a nada empírico. Imperativo categórico é algo do âmbito da liberdade, exatamente o que o animal não tem. Vem como uma lei lógica pela qual os humanos, com consciência, podem optar. Optam sem qualquer motivo empírico para tal. Imperativo categórico: age segundo uma máxima que pode ser tomada como a máxima de todos (Kant). Por exemplo: não mentir. Se eu minto pelo bem de alguém, isso é algo que posso fazer, por motivos variados; mas não devo assim fazer para ser ético, e não por qualquer outra coisa senão pelo fato de que a máxima “mentir em favor da humanidade” não pode ser universalizada. Ela cria uma contradição; ela geraria a própria indistinção entre mentira e verdade e inviabilizaria a comunicação. Nenhum motivo empírico (fome, pena, dó, paixão, amizade, utilidade, esperteza, dinheiro) entra aí para me proibir de “mentir em favor da humanidade” (mentir para esconder meu amigo ladrão); o que entra para me proibir de “mentir em favor da humanidade” é simplesmente o fato de que não posso universalizar tal procedimento como uma máxima. Imperativo categórico, portanto, está fora do campo da sensibilidade, do empírico, do mundo causal, e se situa fora do “reino da necessidade” para hospedar-se no “reino da liberdade”.

Qualquer manual de filosofia do ensino médio ensina isso que Karnal não sabe. Ele não fez direito não só a faculdade, mas o ensino médio.

Por que Karnal erra? Por má formação mas, também, por se achar sabidão. Ele não leu Kant, não estudou. Qualquer garoto de colégio sabe o imperativo categórico. Mas Karnal se acha tão bom que ele leu a palavra “categórico” e imaginou que poderia falar dela. Não percebeu que filosofia é um assunto técnico. E eis que inventou que a fome no animal é um imperativo categórico. Ou seja, animais para ele não têm ética, ora, mas já que seguem um imperativo categórico, então, deveríamos alertá-lo, são os animais que têm ética! Acho que se eu disse isso a ele, nada adiantaria, não perceberia a ironia.

O mais triste disso tudo é saber que tipos como o Karnal, se lerem esse meu puxão de orelha, não vão parar de dar palestras e voltar a estudar. Não, vão continuar fazendo o serviço porco, pegando dinheiro de gente que não sabe que está aprendendo errado. É muito ruim que o Brasil esteja assim, muito mesmo. Antes, quem cometia esses erros eram os autodidatas, agora, é professor universitário! Putz! Como chegamos nisso?!



* Filósofo, escritor e professor.




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