Envelhecer é…
*
Por Tatiany Cavalcante
É engraçado pensar no
envelhecer. Vejo minha avó e não consigo imaginá-la jovem. Pensar
no ser humano desde o seu nascimento até sua morte, perfeição do
corpo, divindade. Como é possível nascer um ser de outro ser e com
o tempo envelhecer? Mistérios da vida. Imaginar-se mais velho, notar
os mais velhos, perceber que envelhecemos desde o primeiro dia de
nossas vidas. Tentar desvendar a morte, tentar desvendar todos os
mistérios da vida. As mil faces da vida.
Tudo começa na infância. Ser
criança é brincar, correr, pular, gritar e ser feliz. Crescer, ser
jovem, ter a força do corpo, as vontades à flor da pele, querer
tudo ao mesmo tempo, buscar, correr, procurar e não cansar. A
sensação de ser jovem é única experiência que não se repete
jamais. E os medos de envelhecer? De repente acordar, olhar no
espelho e ver o quanto o tempo passou. São questionamentos
infindáveis, os quais persistem incansavelmente na mente.
A juventude, assim como é inimaginável pensar no envelhecer, pensar nas rugas. O tempo passa, parece um relógio de tic tac, tic tac, só que não ouvimos o tempo passar e quando se percebe o tempo passou. É tudo muito rápido, de repente. Olho para trás e me vejo pequena, brincando de casinha com minha irmã. Olho para o hoje, já sou uma adulta. Meu Deus, como o tempo passou!
A morte, assim como a velhice, na cabeça de um jovem, é inimaginável. Só é possível pensar nela vivenciando, ao perder alguém querido. O processo pelo qual o envelhecimento ocorre é imperceptível e devagar, aos poucos, se percebe o quanto cresceu. Depois percebe que seu cabelo já não é mais o mesmo. Aos poucos, o corpo vai se modificando, as suas vontades também. Já não é mais a mesma pessoa, vivaz, forte, até, chegar na 3ª idade.
O mais engraçado de tudo
isso, é pensar na personalidade. Essa não muda de jeito nenhum. Com
o tempo, ela se aperfeiçoa. O tempo amadurece, finda conhecimento.
Outro dia, estava no metrô. Notei uma senhora bem idosa, que estava sentada ao meu lado. Olhei detalhadamente os traços de seu rosto – ela deve ter pensado, “por que essa menina está olhando pra mim?” – percebi detalhe por detalhe, assim como suas mãos, as quais estavam brancas e pálidas. Dava para ver a cor da sua veia, quase preta. Imediatamente, olhei as minhas mãos. Vi a diferença. Pensei na juventude e na velhice. Imaginei: “como teria sido a juventude dela?” Senti curiosidade, vontade de perguntar, mas omiti. Quantos pensamentos!
A velhice e juventude compartilham o mesmo espaço, perfeição divina. No momento de percepção daquela senhora, tive medo de envelhecer – pode parecer covardia –, pensei também na morte, nos meus entes queridos que se foram, na minha vovozinha que eu amo e senti mais ainda vontade de viver. Percebi a importância da vida, amigos, família, momentos de felicidade e tudo que existe de bom. Percebi que pensar em quando irei envelhecer não faz bem, mas envelhecer e curtir cada fase da vida é a melhor coisa do mundo. É viver.
*Tatiany Cavalcante é
repórter.
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