A certidão de nascimento do rock
O rock and roll, esse ritmo frenético que ainda mobiliza e
apaixona bilhões de pessoas ao redor do mundo, sobretudo jovens (mas não somente
eles), sofreu e vem sofrendo influências várias, de tantas outras vertentes
musicais, e se transformando ao longo do tempo, posto que sem perder as
características básicas da sua origem. É fruto do inconformismo de uma geração
específica, a que era adolescente nos primeiros e complicados anos do
pós-guerra, que encontrou nele uma maneira de expressar rebeldia, uma forma de
protesto contra o “establishment” e os mandos e desmandos de um sistema oficial
que resultaram na quase destruição da espécie com os conflitos bélicos de
1914-1918 e com seu conseqüente, o de 1939-1945. Simboliza todo um estilo de
vida de uma juventude que, a despeito da imaturidade, exigia ser ouvida e
acatada pelos mais velhos.
Quando o rock “nasceu” de fato, ganhou as ruas, conquistou o
público, se expandiu e se consolidou? Há muita controvérsia a respeito. Alguns
situam sua origem, ou pelo menos sua proto-história, nos anos finais da década
de 40 do século XX e nos iniciais dos anos 50. Não precisam, todavia, uma data.
Há quem diga que algo parecido com esse ritmo foi apresentado pela primeira vez
em 1910. Se de fato foi, não teve continuidade e muito menos registro. É
verdade que na época praticamente inexistiam os meios de gravação de sons e
imagens que hoje temos. O cinema mal engatinhava e ainda era mudo. Televisão?
Nem pensar! E a indústria fonográfica sequer estava em cogitação. O que se pode
identificar, com certeza, são as influências que o rock sofreu: do blues, da
música country, do rhytm and blues, do folk, do jazz e até da música clássica.
Toda essa “salada rítmica” combinou-se resultando em uma estrutura simples, que
era “rápida, dançável e pegajosa”, conforme caracterização da publicação
especializada “All Music Guide”.
Mas é possível determinar uma data específica do “nascimento” do rock? Entendo que sim. E esta
é o dia 21 de março de 1955. E qual a razão disso? É que nessa ocasião se
ouviu, pela primeira vez, uma execução de rock tendo o grande público por
testemunha. Bill Halley e seu conjunto (“The Comets”) cantaram “Rock Around the
Clock”, que é considerada, pela maioria dos historiadores de música popular,
como a inequívoca “certidão de nascimento” do novo ritmo. E este, desde então,
não tardaria em se transformar, também, em vigoroso movimento da contracultura,
espalhando-se, primeiro, por todo o território norte-americano e,
posteriormente, para o resto do mundo. Há, admito, intensa polêmica a propósito
dessa origem. Mas ninguém conseguiu documentar outra data se não esta.
Dessa forma, portanto, em 21 de março de 2015, vão se
completar, oficialmente, 60 anos do nascimento do rock. Bill Halley e “The
Comets” cantaram “Rock Around the Clock” no filme “Blasckboard Jungle”, cuja
trilha sonora ficou a seu cargo, exibido pela primeira vez nessa data. Tratou-se
de produção (que no Brasil recebeu o título de “Sementes da Violência”)
dirigida e roteirizada por Richard Brooks. Contou, no seu elenco, com Glen
Ford, Anne Francis, Louis Calhern, Margareth Hayes, John Hoyt, Richard Kiley,
Emille Meyer, Warner Anderson, Basil Ruysdael, Sidney Poitier, Vic Morrow, Dan
Terranova, Paul Mazursky, Horace MacMahon e o ator dominicano Rafael Campos.
Quando o filme (e, por conseqüência, o rock) completou 30 anos da sua estréia,
ou seja, em 1985, escrevi longa matéria a respeito, publicada no jornal Correio
Popular de Campinas, na edição de 4 de abril daquele ano.
No texto, destaquei, com ênfase especial, a entrevista
concedida à agência United Press International (UPI) pelo único ator de fala hispânica
dessa histórica produção, o dominicano Rafael Campos. Na ocasião, ele estava
internado no hospital de Woodland Hills, na Califórnia, refazendo-se de uma
cirurgia para a retirada de um tumor maligno no estômago. Quando o filme foi
rodado, ele tinha, somente, 18 anos de idade. Protagonizou o personagem Pete
Morales, adolescente de fala espanhola de um bairro de Nova York. Era um dos
estudantes rebeldes do enredo, que fizeram o professor, protagonizado por Glen
Ford, passar maus bocados. “Eu me sinto muito orgulhoso de ter tomado parte
nessa histórica produção”, declarou Campos à UPI, em 1985, na entrevista
telefônica que então deu, de seu apartamento no hospital em que estavas
internado.
O ator dominicano – que morreu em 9 de julho de 2010, muito
popular nas décadas de 50, 60 e 70 e que hoje está esquecido até mesmo em sua
terra natal – lembrou que o beatle John Lennon disse, várias vezes, que o filme
“Blackboard Jungle” o havia inspirado para se dedicar ao rock. “É irônico que
eu tenha começado minha carreira artística com o diretor Richard Brooks e que,
justamente, com ele tenha feito o último trabalho, ‘The fever’, antes de ficar
doente”, observou. Campos morreu, 25 anos depois, justamente por causa do
câncer de estômago que havia retirado em 1985, mas que voltou tempos depois.
“Elvis Presley também foi influenciado por ‘Blacboard Jungle’,
conforme me disse depois que nos tornamos amigos”, acrescentou o ator
dominicano na citada entrevista à UPI. E depois de “Rock Around the Clock”, que
para os entendidos (que não é o meu caso) foi uma mescla de blues e do country
(em voga nos Estados Unidos, nas décadas de 40, 50 e 60), este novo gênero
musical se impôs firmemente nas paradas de sucesso. Seus responsáveis foram
vários cantores. Entre estes, destacaram-se, especialmente, Chuck Berry
(Maybelline”) e Elvis Presley (“Baby Lets Play the House”). Esta é uma história
polêmica que merece ser melhor contada, o que me proponho a fazer, embora,
reitero, não seja, propriamente, nenhum roqueiro.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
A mágica do rock merece todo destaque, e, sinto-me simpática a sua tese.
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