Tudo por uma boa pegada...
* Por Aliene Coutinho
Elas eram amigas há anos, sabiam
tudo uma da outra, estavam sempre juntas, até que Sara conheceu o Pedro. Dani
não entendeu nada. Eles não combinavam. Ela gostava de filme de arte, ele de
suspense policial, ela de lugares requintados, ele de botecos, o mais “pé sujo”
que houvesse. Ela chique, corpinho em forma, ele gordo, largadão. Não deu
outra. Chamou a amiga no canto e tentou abrir os olhos dela: não vai dar certo.
Sara, calmamente, disse que não se preocupava com o futuro e que a amiga estava
era com ciúmes. Brigaram pela primeira vez.
Foram meses sem se encontrar, nem
por acaso. Afinal, Sara não freqüentava mais os mesmos lugares, vivia a
tiracolo do brutamontes, que ainda por cima lutava jiu-jtsu, e muitas vezes saía do treino com o quimono
todo molhado de suor, sem tomar banho, para pegar a amiga no trabalho. Dani não
conseguia engolir essa história, ninguém muda tanto em tão pouco tempo.
Tentou esquecer o casal. Começou
a sair com outras pessoas, viajou, e sempre que chegava em casa, olhava a
secretária eletrônica na esperança de ver um recado da amiga, de preferência,
dizendo que aquele romance havia acabado
e que ela tinha mesmo razão em dizer que não ia dar certo. Em vão.
Curiosa como toda mulher e morta
de saudades da amiga, Dani resolveu investigar. Começou a passar – sem querer –
na frente do trabalho de Sara, na rua onde ela morava, até se arriscou a ir a
alguns daqueles bares barulhentos, que só servem lingüiça calabresa frita e
chopp quente. Numa das investidas, os viu. Pareciam felizes. Sara sorria
abraçada com Pedro. Estava diferente também por fora. Usava jeans, camiseta, o
cabelo estava sem escova e mesmo de longe deu para ver que estava sem
maquiagem.
Para quem não saia de casa sem
rímel e batom, Dani achou aquilo uma extravagância. Pior foi quando em certo
momento, Sara, a elegante Sara, assoviou chamando o garçom e os dois caíram na
gargalhada. Era quase impossível de acreditar que se tratava da mesma pessoa,
uma amiga tão íntima, se mostrar tão
estranha.
Quase um ano depois, e sem
notícias da amiga, Dani saiu de casa numa tarde fria de domingo para tomar um
chá. Ficara sabendo da inauguração de uma nova creperia e foi até lá conhecer e
matar um pouco o tédio. Ao entrar deu de cara com Sara. Estava sozinha, ainda
sem maquiagem, mas vestida discretamente com um simples e belo vestido. Ela se
aproximou, cumprimentou a amiga que se levantou, a abraçou e pediu para que
sentasse com ela.
Estavam meio sem jeito. Trocaram
as primeiras palavras como simples conhecidas, mas em poucas horas já trocavam
lembranças do que viveram, das viagens que fizeram juntas, e dos namorados... aí
não deu para resistir. Dani se encheu de coragem e perguntou por Pedro. Sara
encheu os olhos d’água e contou que o romance havia acabado há quase três
meses, lamentou o final e disse que Pedro não aceitava as diferenças entre
eles, e que por mais que ela tivesse tentado, nunca conseguiu viver no mundo
dele.
Dani consolou a amiga e com mais
coragem ainda perguntou o que aquele homem tinha de tão especial para fazê-la
mudar tanto, ou pelo menos fazer que ela tentasse mudar. Em poucas palavras,
Sara resumiu e explicou o que qualquer pessoa entende: “Ele tinha uma “pegada”
que eu jamais vou esquecer em toda vida”. Não precisava dizer mais nada. E lá se
foram de braços dados combinando o próximo encontro.
* Jornalista e professora de Telejornalismo
Nenhum comentário:
Postar um comentário