Livro que, talvez, jamais seja publicado
* Por Pedro J. Bondaczuk
"O País da Luz"
propõe-se a ser mais do que mero título sonoro de uma das crônicas que compõem
meu novo livro, recém-concluído e que, talvez, jamais seja publicado. É, antes
de tudo, uma proposta temática, uma metáfora com vários significados. Tanto
pode ser um determinado território físico, no caso o Brasil, situado em um
ponto privilegiado do Planeta, nos Trópicos, amplamente iluminado o ano todo,
com suas vastas e (na maioria) selvagens praias, quanto um lugar imaginário e
ideal, com o qual os poetas e idealistas de todos os tempos sempre sonharam.
Pode ser o mundo da razão,
representado pela ciência. Pode ser o "país" da poesia e do
encantamento, das emoções refinadas, criado por homens iluminados e luminosos.
Pode, igualmente, não se tratar de um lugar, mas de uma época de boas
lembranças e de sonhos delirantes a conquistar. Talvez a tão propalada, mas não
existente, "Idade de Ouro" da humanidade. Cada qual, aliás, tem a sua,
singular e personalizada.
Para alguns, esse período radioso
e inesquecível, sem tensões e preocupações, seria a infância, com a sua
inocência e magia, aureolada pelas fantasias, na mente das pessoas. Para
outros, é a adolescência, atrevida e audaz, perigosa e fascinante. Para
terceiros, outra fase qualquer da vida, que tenha despertado saudades, pelas
circunstâncias favoráveis que proporcionou (ou que julgam ter proporcionado),
recuperada pelo frágil instrumento da memória.
Todas as crônicas desse livro
seguem esta linha temática. Algumas, chegam a ser poesia (não sei se boa ou
má), travestida de prosa. Outras, descambam, nitidamente, para o ensaio, com as
reflexões pessoais do autor (eu) sobre temas como arte, ciências, comportamento
e psicologia, entre tantos outros. O que conta, no entanto, não é somente o
aspecto físico desse "país da luz".
São relevantes, também, as
figuras que o "iluminam", com suas singularidades e idiossincrasias,
com sua ação, suas idéias, sua inteligência e seus ideais, não importa se factíveis
ou não. Daí a farta citação de cientistas, escritores, poetas e filósofos,
alguns mencionados mais vezes do que outros, deixando clara a preferência
pessoal do autor (reitero, eu) longe de ser consensual.
Foi um livro que me deu imenso
prazer em escrever. Nem
todos dão. O ato de criação, em geral, é revestido de angústias e terrores. O
medo do ridículo, por exemplo, está sempre presente, atormentando o
profissional da palavra, roubando, ou pelo menos reduzindo, a satisfação de
elaborar textos descomprometidos, que não se proponham a ensinar coisa alguma,
mas apenas a serem monólogos, diante de milhares, quiçá milhões, de leitores,
de formações e períodos diferentes uns dos outros, que podem, ou não,
estabelecer interação mental (ou espiritual?) com o cronista.
A "briga" com a
gramática é outro pesadelo constante, nessa língua maravilhosa e musical, no
entanto repleta de armadilhas, como é a nossa, portuguesa, semeada de regras e
mais regras, com as respectivas exceções para complicar. Um terceiro temor
refere-se ao estilo, que pode agradar alguns e receber sérias restrições de
tantos outros, entre os quais os implacáveis (e nem sempre justos ou coerentes)
críticos literários. O que fazer? Esta é a minha forma de comunicação com o
mundo. Não sei dizer as coisas de maneira diferente desta. É aceitar ou
rejeitar, jamais restringir.
Fosse destacar o que, na minha autocrítica, é o principal
mérito desse livro, citaria, sem pestanejar, sua simplicidade. Complexos
conceitos sociológicos, artísticos, filosóficos e comportamentais são abordados
de formas a que qualquer pessoa, com instrução mediana, que saiba interpretar
textos simples, como os de jornais e revistas, entenda o que o autor (insisto,
eu) pretendeu dizer. Não são utilizados, portanto, os jargões característicos
dessas disciplinas, tão ao gosto dos eruditos (e dos nem tanto, mas que
procuram dar a impressão de detentores de uma erudição que não possuem).
Minha proposta foi a de
transformar essas reflexões em uma conversa leve, descomprometida, espontânea e
inteligente, daquelas que mantemos com os amigos nos finais de tarde, após o
cumprimento de uma jornada de trabalho, em algum bar ou botequim da nossa
predileção. Leveza, no entanto, não deve ser confundida com superficialidade,
com fatuidade ou com mera pirotecnia verbal.
Minha preocupação foi com o
conteúdo, embora uma leitura apressada e desatenta possa não dar essa impressão
aos desavisados. Muito mais do que meramente divertir, a proposta é a de
induzir à reflexão. Mas quem esperar arroubos de pessimismo, de derrotismo, de
niilismo e de desencanto com a vida e com as pessoas que me cercam, certamente
vai se decepcionar. Minha formação não é dessa natureza.
Sou um crente incorrigível na
grandeza e transcendência humanas e na força da racionalidade do homem. Isto
não quer dizer que seja alienado e não enxergue os crimes, as injustiças e as
loucuras cometidos pelo mundo afora, através dos tempos, pelos mais variados
tiranos, psicopatas e pilantras. Estou para lá de consciente disso, até em
decorrência da minha formação profissional, como editor de jornal diário. Mas,
como a "história nunca se repete, a não ser em forma de farsa..."
Creio no futuro. Acredito que um dia, não importa quando, o homem fará a razão
preponderar sobre os instintos, dominando seus "demônios interiores"
e aprendendo a se relacionar harmoniosamente com os semelhantes e com a
natureza.
Outro mérito que destacaria nesse livro, que talvez jamais
venha a ser publicado (o que é mais provável)
é a fluência dos textos, expurgados de inúteis repetições, para que no
espaço normalmente destinado a tais reiterações, pudessem ser abordadas mais
idéias. Ele não foi escrito com a preocupação de modismos de quaisquer
espécies. Não é clássico, moderno e muito menos pós-moderno (expressão ambígua,
que pode significar tanta coisa, em voga em alguns círculos acadêmicos e
pedantes de hoje). Pretende (e às vezes sou pretensioso mesmo) ser eterno.
Espero, sobretudo, ser um competente anfitrião (caso algum editor contrarie a
lógica e se arrisque a publicá-lo), neste passeio descomprometido, que os
convido a empreender (reitero, se der zebra e ele vier a ser publicado) pelo
mágico e poético "País da Luz".
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio
Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor
do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico
de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos
livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos),
além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O
Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com.
Twitter:@bondaczuk
Volto todos os dias porque vale a pena ler tantos pensamentos em pílulas. Cato as ideias prontas, já que tenho preguiça de pensar, o que não significa que concorde. Levo para pensar, e acho bom. Acredito que o livro comentado seja um pouco do que se lê aqui, caro editor.
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