segunda-feira, 14 de abril de 2014

Mi casa, su casa?*

** Por Daniel Santos

Considerada continuidade da África na Europa, a Espanha amarga, há tempos, o menosprezo do próprio continente, onde xenofobia é tradição.

Nem por isso, deixa de devolver na mesma moeda. Mas não a seus detratores, geralmente louros e ricos. Morenos que lhe servem de incômodo espelho são as suas atuais vítimas; entre elas, os brasileiros.

Claro, há ressalvas quando se trata de prostitutas, travestis e jogadores de futebol. Já um físico nuclear está perdido: caso consiga entrar na pátria de Cervantes, terá de comer, antes, muita paella estragada.

Significa que vai ouvir repetidos insultos, escárnio, provocações e deboche; quando não, desrespeito e até humilhações ... porque é brasileiro – primata ainda bem pouco evoluído em relação a esses novos arianos.

Nossa diáspora, é certo, expulsou os menos cultos, gente sem colocação no mercado e que cria, por isso, problemas de toda ordem, a respeito do que o Itamaraty deveria ser mais atuante e representativo.

Mas, e quem se dana de tanto trabalhar? Além do mais, foi o Brasil, e não o contrário, que sempre disse “mi casa, su casa” a muitos milhares de imigrantes espanhóis que aqui proliferaram em vasta descendência.

Melhor que a presunção de superioridade, é nossa memória afetiva. Afinal, a bonança um dia acaba – sabe o ibero que enricou com o ouro dos incas, antes de passar tudo aos ingleses. E empobrecer de novo!

* Provérbio espanhol


** Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.




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