Depois do pôr-do-sol
* Por
Vitor Orlando Gagliardo
Dizem por aí que estou
ficando velho. E não se trata daquelas lendárias piadas de aniversário. O
assunto é sério. Não há espaço para brincadeiras. Dizem-me que estou ficando
para tio e idoso para conseguir meu emprego. Não me importo em ter sobrinhos.
Pelo contrário – adoro crianças. Só não quero, e não posso, perder minhas
perspectivas. Ah! Isso não.
Mas será que estou
ficando velho? Como em um cálculo matemático (pelo menos essa foi a idéia)
tentei refletir sobre minha existência e o tempo. A situação pedia um vinho,
mas como não tinha, peguei um copo de Coca-Cola.
Sou fã de Raul Seixas e
por vezes me pego cantando suas músicas. Hoje, em especial, escutei ‘Eu nasci
há 10 mil anos atrás’. Analisando seus versos, percebo que não tive a oportunidade
de acompanhar, de ver, Cristo sendo crucificado, não vi Babilônia sendo riscada
do mapa e nem Zumbi fugindo com os negros para o Quilombo dos Palmares.
Mas então por que me
chamam de velho?
Bom, de início,
perdoam-me por lembrar que sim, sou do século passado. Mas alguns fatos
precisam ser esclarecidos: não fui amigo de Machado de Assis (seria um prazer),
não era nascido durante a ditadura militar (embora viva no regime dos
traficantes e das milícias) e não fui em nenhum show da Legião Urbana (minha
maior frustração).
Acredito que,
infelizmente, você verá, assim como eu, fome, miséria, corrupção, impunidade e
repetidas cenas de guerra civil. Mas sabe de uma coisa, não me arrependo de
viver no meu tempo. Eu vi o retorno da democracia, um presidente deposto, o
Fluminense ser campeão, o Brasil ser penta. Eu vi ... Senna.
Não derramei lágrimas em vão. Sou do tempo que os
filhos pediam bênção aos pais e respeitavam os avós; que as crianças
acreditavam em Coelhinho da Páscoa e Papai Noel; que cantávamos todas as
segundas-feiras o Hino Nacional antes das aulas; que jogávamos futebol e
soltávamos pipa nas ruas.
Não me arrependo e não
desisto. Assim como diz naquela música (1), acredito que todos nós temos nosso
próprio tempo e não é porque certas pessoas tentem nos desmotivar, que iremos
desistir de nossos sonhos.
Inutilia Truncat (2)
(1)
– Tempo Perdido, da Legião Urbana
(2)
– Acabe com as inutilidades.
*
Jornalista
Nenhum comentário:
Postar um comentário