sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Pote de pepino

* Por Rodrigo Ramazzini

Do banheiro, a esposa que se secava após o banho, gritou para o marido, que descansava sentado no sofá da sala:
- Amor! Vai abrindo o pote de pepino pra mim e lavando-os. Estou atrasada e ainda preciso terminar a salada para levar! É o pote de vidro com a tampa branca que está dentro do armário aéreo!

Apesar da sensação de preguiça, o instinto masculino aflorou. Afinal, uma das funções de um homem em uma casa é socorrer a donzela quando estiver em dificuldades e sair como herói. Ou seja, no caso, a missão é justamente abrir a tampa do pote travada. Então, o marido levantou-se do sofá com pompa e foi atender ao pedido da esposa. Localizou o pote e na primeira tentativa não conseguiu girar a tampa. Soergueu a sobrancelha e pensou “apertada”. Tentou novamente, mas sem sucesso. De novo e nada. A esposa questionou do banheiro:
- Achaste, amor?
- Arãn!, respondeu.

Resolveu pegar um pano de prato para auxiliar no processo de abertura da tampa. Segurou firme e aplicando muita força tentou uma, duas, três vezes, mas sem obter êxito. Colocou o pote de vidro em meio às pernas para fixar melhor e tentou destravar a tampa mais três vezes. Nada. Começou a suar e a se irritar também.
- Já estou saindo, amor!

“E agora?”, indagou-se. Refletiu brevemente e a solução saltou em seus pensamentos “Com a faca!”. Pegou uma faca no secador de louça e, colocando o pote de cabeça para baixo, começou lentamente a introduzir a pontinha do objeto entre o frasco de vidro e a tampa. “Saindo a pressão, essa merda abre!”, conjecturou. 

Tentou, tentou, tentou, mas por algum motivo o método não deu o resultado esperado. Bateu na “bundinha” do pote e repetiu a tentativa de desenroscar mais uma vez. Nada. A irritação começou a tomar conta.
- Conseguiste, amor?
- Está quase!, replicou.

Sabia de um método de abrir em que se esquentava a tampa em uma panela com água, porém achava-o arriscado. Tentou pela última vez no braço mesmo. Nada. Mesmo já em um alto nível de irritabilidade com a situação, conseguiu raciocinar e cogitar em pedir auxílio a um vizinho, mas logo a ideia fora descartada, afinal, entraria em questão a sua masculinidade.

“A saída é quebrar o pote, simulando que fora um acidente!”, afirmou olhando para o cachorro, como se esperasse do animal a confirmação de esta seria a melhor alternativa para não mostrar a sua fragilidade masculina. Entretanto, o cachorro deitado na porta de casa assistia a cena com um olhar que se pudesse ser traduzido em palavras diria “vai dar merda isso!”. Mesmo assim, ignorando o recado canino, o marido pegou o martelinho de amaciar carne, posicionou o vidro de pepino dentro da pia da cozinha e, no momento que daria uma batida seca no pote, a esposa saiu do banheiro gritando:
- O que é isso, amor?  
- Eu ia...
- Não! Pelo amor de Deus! Não sabe fazer nada mesmo. Me dá isso aqui que estou atrasada...

Então, mostrando a inteligência suprema feminina, a esposa pegou o pote e sentenciou em meio a um sorrido para o marido:
- Era só fazer isso: tira o lacre removível, a pressão sai e se gira a tampa. Pronto. Viu como era fácil? Há! Há Há!

Irritando, o marido saiu para sala balbuciando sozinho e na passada descontou a raiva culpando o cachorro pelo ocorrido dando-lhe um chute no traseiro...



* Jornalista e contista gaúcho 

Nenhum comentário:

Postar um comentário