Pote de
pepino
* Por Rodrigo Ramazzini
Do banheiro, a esposa que se secava após o banho,
gritou para o marido, que descansava sentado no sofá da sala:
- Amor! Vai abrindo o pote de pepino pra mim e
lavando-os. Estou atrasada e ainda preciso terminar a salada para levar! É o pote
de vidro com a tampa branca que está dentro do armário aéreo!
Apesar da sensação de preguiça, o instinto
masculino aflorou. Afinal, uma das funções de um homem em uma casa é socorrer a
donzela quando estiver em dificuldades e sair como herói. Ou seja, no caso, a
missão é justamente abrir a tampa do pote travada. Então, o marido levantou-se
do sofá com pompa e foi atender ao pedido da esposa. Localizou o pote e na
primeira tentativa não conseguiu girar a tampa. Soergueu a sobrancelha e pensou
“apertada”. Tentou novamente, mas sem sucesso. De novo e nada. A esposa
questionou do banheiro:
- Achaste, amor?
- Arãn!, respondeu.
Resolveu pegar um pano de prato para auxiliar no processo de abertura da
tampa. Segurou firme e aplicando muita força tentou uma, duas, três vezes, mas
sem obter êxito. Colocou o pote de vidro em meio às pernas para fixar melhor e
tentou destravar a tampa mais três vezes. Nada. Começou a suar e a se irritar
também.
- Já estou saindo, amor!
“E agora?”, indagou-se. Refletiu brevemente e a solução saltou em seus
pensamentos “Com a faca!”. Pegou uma faca no secador de louça e, colocando o
pote de cabeça para baixo, começou lentamente a introduzir a pontinha do objeto
entre o frasco de vidro e a tampa. “Saindo a pressão, essa merda abre!”, conjecturou.
Tentou, tentou, tentou, mas por algum motivo o método não deu o resultado
esperado. Bateu na “bundinha” do pote e repetiu a tentativa de desenroscar mais
uma vez. Nada. A irritação começou a tomar conta.
- Conseguiste, amor?
- Está quase!, replicou.
Sabia de um método de abrir em que se esquentava a tampa em uma panela
com água, porém achava-o arriscado. Tentou pela última vez no braço mesmo.
Nada. Mesmo já em um alto nível de irritabilidade com a situação, conseguiu
raciocinar e cogitar em pedir auxílio a um vizinho, mas logo a ideia fora
descartada, afinal, entraria em questão a sua masculinidade.
“A saída é quebrar o pote, simulando que fora um acidente!”, afirmou
olhando para o cachorro, como se esperasse do animal a confirmação de esta seria
a melhor alternativa para não mostrar a sua fragilidade masculina. Entretanto,
o cachorro
deitado na porta de casa assistia a cena com um olhar que se pudesse ser traduzido
em palavras diria “vai dar merda isso!”. Mesmo assim, ignorando o recado canino,
o marido pegou o martelinho de amaciar carne, posicionou o vidro de pepino
dentro da pia da cozinha e, no momento que daria uma batida seca no pote, a
esposa saiu do banheiro gritando:
- O que é isso, amor?
- Eu ia...
- Não! Pelo amor de Deus! Não sabe fazer nada
mesmo. Me dá isso aqui que estou atrasada...
Então, mostrando a inteligência suprema feminina, a
esposa pegou o pote e sentenciou em meio a um sorrido para o marido:
- Era só fazer isso: tira o lacre removível, a
pressão sai e se gira a tampa. Pronto. Viu como era fácil? Há! Há Há!
Irritando, o marido saiu para sala balbuciando
sozinho e na passada descontou a raiva culpando o cachorro pelo ocorrido
dando-lhe um chute no traseiro...
* Jornalista
e contista gaúcho
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