Mandela
* Por
Emanuel Medeiros Vieira
“Certas
pessoas, raríssimas, parecem acima da condição humana. Nelson Mandela foi um
desses seres inexplicáveis. Passar na prisão 27 anos, com a consciência de que
só lhe acontecia assim por defender uma das mais grandiosas causas universais,
e emergir desse massacre sem ressentimento, com propósitos e atos de quem fosse
servido por 27 anos com o melhor da vida – isso excede o humano, O animal homem
não é assim.” (...)
(Jânio de Freitas)
Eu sei: “toneladas” de papéis já foram escritos
sobre Nelson Mandela.
Mas, brevemente, eu só queria ressaltar algo que
me tocou muito na sua vida – que é a existência de um dos maiores seres do
século XX (ou de todos os tempos).
Queria tentar iluminar um caminho para a reflexão:
a capacidade impressionante do Perdão. Sim. Perdão. Não o perdão facilitário
das telenovelas, de “boca”, que se diz todos os dias.
Algo profundamente enraizado no coração,
internalizado durante tantos anos de privação da liberdade.
Por um objetivo maior que ele mesmo: seu país e
seu povo.
Com muito esforço, contaremos nos dedos (de uma só
mão), seres desta estirpe. Dessa grandeza.
Saiu da prisão sem ressentimento, quando seria
capaz (com uma só conclamação) de colocar fogo na África do Sul.
São exemplos que ainda nos dão esperança na
espécie humana.
Tal esperança anda escassa, pela brutalidade dos
modelos existentes, pela exclusão, pela desigualdade obscena, pela traição dos
valores mais caros, pela negação do outro, pelo individualismo intenso, pela
prevalência dos corações secos e duros.
Pelo desejo constante de vingança.
Uma luz como Mandela, é um farol: de misericórdia,
de compaixão.
E uma sensação de orfandade invade o planeta,
repleto de guerras – mesmo no seu país, com tanta violência, com a Aids
atingindo taxas elevadíssimas.
Meu pai dizia que o Bem iria vencer – na batalha
final, dos Anjos contra os Demônios (do racismo, do egoísmo, do preconceito, da
mesquinharia, da inveja, da cobiça, enfim, dos baixos instintos).
Há momentos em que a gente chega a duvidar. Mas é
preciso acreditar E que façamos (diariamente) a nossa parte.
Ainda assim, Mandela foi maior que o seu tempo.
Foi maior que ele.
Ofertou-nos, como dádiva eterna, o mais precioso
presente: a esperança.
Mostrou que o perdão mais profundo – mesmo que
muito difícil – é possível.
Alvíssaras!
Vai, Mandela, ilumina outros espaços.
Dialeticamente, seguirás em frente.
Quem sabe, em um lugar pobre e modesto, talvez
numa manjedoura, apareçam outros mandelas.
(Brasília, dezembro de 2013)
Romancista,
contista, novelista e poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros
como “Olhos azuis – ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos
caminham comigo nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava
simpósios”, entre outros.
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