sábado, 23 de novembro de 2013

José Soares, o poeta repórter

* Por Clóvis Campêlo

José Francisco Soares nasceu na cidade de Alagoa Grande, na Paraíba, em 5 de janeiro de 1914.

Segundo Marcelo Soares, seu filho, ainda menino, o poeta se encantou com os desafios entre violeiros-repentistas, emboladores de coco e com os folhetos de feira que os poetas declamavam.

Em 1928, aos 14 anos, publicou seu primeiro folheto descrevendo o Brasil através dos seus estados.

Para sobreviver, fez biscates como agricultor e almocreve e, em 1934, foi para o Rio de Janeiro trabalhar como pedreiro, sem jamais deixar de publicar suas obras.

Voltou ao Recife em 1940, quando montou uma banca de folhetos no oitão do Mercado de São José, onde vendia suas obras e as de outros poetas.

Nos anos 1960, tornou-se proprietário da Gráfica Tricolor, no bairro recifense de Casa Amarela, que manteve por três anos, passando a publicar na Encadernográfica Capibaribe, no bairro do Arruda.

Entre 1979 e 1980 assumiu, por pouco tempo, a direção da Gráfica da Casa das Crianças de Olinda, onde publicou e editou folhetos de sua autoria e de outros poetas. Seus principais folhetos são A renúncia de Jânio Quadros (60 mil exemplares vendidos); O assassinato do presidente Kennedy (45 mil exemplares), A lamentável morte do deputado Alcides Teixeira (55 mil exemplares); A lamentável morte do cantor Evaldo Braga (65 mil folhetos) e A morte do bispo de Garanhuns, Dom Expedito Lopes, que vendeu mais de 100 mil exemplares só em Pernambuco.

Seus temas recorrentes variam entre o gracejo, o futebol, os folhetos de encomenda, além dos folhetos de época e de acontecimentos políticos e circunstanciais, que o levaram a se autodenominar poeta-repórter.

Indagado, certa vez, sobre quantos folhetos havia escrito até então, respondeu, com o sorriso que o caracterizava: “Trezentos e dez títulos”. E completou: “Duzentos e oitenta publicados. Mas espero poder escrever ainda outro tanto”.

Não pôde. A morte antecipou-se a esse feito. Do que escreveu ficou evidente a sua vocação de comunicador popular. Ainda segundo Marcelo, uma das lembranças deixadas pelo poeta popular foi a de, todas as noites, assistir aos noticiários da televisão, tendo sempre lápis e papel pautado à mão para anotar os temas que exploraria depois.

Torcedor convicto do Santa Cruz, foi testemunha ocular da boa fase vivida pelo clube pernambucano nos anos 60 e 70, registrando com versos os feitos do Mais Querido, como na série Pedi um pente e me deram um penta, escrita para comemorar o pentacampeonato pernambucano de futebol conquistado de 1969 a 1973, e no folheto Chegou o Santa Cruz, a máquina de fazer gols, escrito para comemorar a vitoriosa excursão do Santinha ao Oriente Médio e Europa, em 1979, e que abaixo transcrevemos.

José Soares, o poeta repórter, faleceu em Timbaúba, no dia 9 de janeiro de 1981.

CHEGOU O SANTA CRUZ, A MÁQUINA DE FAZER GOLS

“O Santa Cruz no Oriente
bancava e pintava o sete
quem joga a bola quadrada
não entra que se derrete
em todo Oriente Médio
o Santa virou vedete.

Joel sacudia a bola
na cabeça de Pedrinho
Pedrinho deitava a pelota
morta nos pés de Betinho
que jogava na esquerda
para o olé de Joãozinho.

Carlos Alberto Barbosa
era o dono da pelota
plantou-se na sua área
não saiu da sua rota
driblava com a direita
chutava com a canhota.

Volnei pintava bolinha
naquela defesa fula
Paranhos roçava estrovenga
do mesmo jeito que Lula
Alfredo Santos também
só batia na micula.

Betinho deitava e rolava
dava olé que nunca vi
a torcida do Oriente
angariou para si
tornou-se a maior vedete
do Mais Querido daqui.

Carlos Roberto deitava
e comandava o olé
vestindo a camisa 10
só dava bola no pé
muita gente se enganava
pensando que era Pelé.

Jadir com a camisa 7
pegava a maior pechincha
dava drible e banho de cuia
naquela defesa micha
muitos gringos perguntavam
se era Mané Garrincha.

Neinha dentro da área
dançava num lá e cá
empolgou de uma maneira
que a torcida de lá
ficou dizendo que ele
é um segundo Vavá”.


* Poeta, jornalista e radialista

Nenhum comentário:

Postar um comentário