sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Pílulas literárias 135

* Por Eduardo Oliveira Freire

NÃO SE IMPORTA
Escrever errado, interpretar equivocadamente, tropeçar na calçada, sujar a roupa quando come, esquecer o zíper da calça aberto, deixar alguma coisa quebrar. Isso prova que é humano e que vive todos os dias para se tornar numa pessoa melhor.


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ANCESTRAL
Vejo um jovem vender seus poemas na rua. De repente, suas roupas modernas mudam; ele está nos anos quarenta, sentado numa escrivaninha batendo a máquina. Depois, encontro-o com uma peruca branca, a escrever a pena, vários manuscritos. Em seguida o observo registrar, na pedra, suas inscrições. Sem saber, ele carrega uma ancestralidade artística, reencarnando várias vezes como poeta.



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UNIVERSO
Sou leão que caça a presa e a presa que foge dele. Gota d’água que cai da folha e se desmancha no chão. Também a fruta podre na calçada quente. O bebê que chora com fome, a mãe que oferece seu seio para saciá-lo. O guerreiro que defende seu povo contra os inimigos, o feiticeiro que faz longos rituais para a chuva molhar a terra ressequida. O vinho compartilhado numa reunião em família, as lágrimas que percorrem a pele. Decomponho-me em vários e nos labirintos de formas, percebo que tudo é uma coisa só, mas que varia de acordo com o olhar de cada um.

* Eduardo Oliveira Freire é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, com Pós Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é aspirante a escritor

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