quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Conexão emocional

* Por Fernando Yanmar Narciso

Todo mundo um dia já fez isso. Você liga a TV numa hora fugida e está passando um jogo de futebol. Nenhum dos dois times é o seu, mas o anfitrião conseguiu chegar ao início do 2º tempo com uma vantagem de 2 a 0 contra o visitante. O jogo nem é grande coisa, mas a menos que você seja um desalmado, vai se encontrar torcendo por uma virada do time que está na pior. E sentimos orgulho se eles conseguem, não é verdade? Uma das atitudes mais reprováveis em qualquer esporte é o clima de “já ganhou”. Quantas vezes já não vimos o atleta ou time que está no topo da cadeia alimentar chegar ao estádio com o salto mais alto que a torre da catedral, botando banca e querendo ditar as regras do jogo? Então, eles esbarram com o azarão do torneio logo na estréia e levam um sacode vergonhoso. Glória!

A Copa do Mundo é a melhor das professoras. 1982, 1998, 2006, 2010... Toda vez que a seleção brasileira saiu do país “com o caneco garantido”, acabou tropeçando na própria sombra. Nas cinco copas que vencemos, pegamos o avião pela porta dos fundos, criticados pelos especialistas e desrespeitados pela torcida. Mas aconteceu uma série de milagres e a cada nova vitória a confiança do país foi sendo reconquistada e os canecos foram se acumulando na bagagem. Por isso o chamam de caixinha de surpresas.

Salvas as proporções, a disputa eleitoral poderia ser considerada uma competição esportiva. Meus colegas de Ensino Médio diziam, em tom de deboche, que aqueles candidatos mais mirrados, que sabem que não têm a menor chance, nem deviam se candidatar. Mas, no geral, os candidatos nanicos são os que ficam na memória popular. Políticos folclóricos de cada região, artistas tentando conseguir outro tipo de boquinha, cães raivosos esquerdóides, sobreviventes do século XIX... Sem eles o horário político teria menos ibope que a Voz do Brasil. A falta que, por exemplo, um cara como o Enéas faz na política nacional é incalculável. O homem inaugurou o voto de protesto no país, antes disso se transformar em “voto desperdiçado”. Seus esgares furiosos e ideais rocambolescos eram indispensáveis em toda festa da democracia. Confessa, um dia você já torceu por ele em segredo! E pensar que o barbudo colérico conseguiu a extraordinária 4ª posição nas urnas em 1994 e até conseguiu virar deputado em 2002...

Chamem-me de doente mental, mas no grande julgamento do Mensalão, estou do lado dos mensaleiros. Deixemos um ponto bem claro aqui: O povo brasileiro tá pouco se lixando para um julgamento justo, a gente quer é ver aque3le bando de sádicos insensíveis despencando do cadafalso. Compreendo perfeitamente que eles causaram e continuam causando muito mal ao povo brasileiro, mas dessa vez o fio da faca se inverteu. Absolutamente tudo está contra os caras, chega a dar um tipo de pena masoquista. Mesmo que nenhum deles saia impune, não consigo deixar de torcer pela absolvição do atual “azarão” José Dirceu, ele deve estar se sentindo tão acanhado agora, tendo todo seu poder de outrora extraído de suas mãos como um dente estragado... Todos os réus merecem punição exemplar, não há dúvida disso, mas pensem nas possibilidades! Para Dirceu, seria muito pior se o absolvessem. Se ele fosse absolvido, ficaria na cara que o juiz foi subornado e, mesmo em liberdade, ele teria que viver como O.J Simpson, que não pode nem colocar o bico do sapato pra fora de casa que o povo arranca as tripas dele.

Mas falemos de coisas mais “amenas”.

O verdadeiro assunto do momento é só um: Avenida Plasil. JEC conseguiu o verdadeiro milagre de criar uma vilã carismática, apoiada por 100% do país. Pelo que leio por aí, todos querem que Carminha se dê bem no final e Rita/Nina se atire de um precipício enquanto segura uma faca contra o peito e toma soda cáustica. Até as colunistas de sites de fofocas têm torcida uniformizada pela “mulher de branco”. E isso por quê? Por causa do tão anunciado plano de vingança de Nina. A forma como ela torturou psicológica e fisicamente a “coitadinha” da Carminha, que roubou e ajudou a matar o pai dela, largou a menina no lixão, casou com o lesado do Tufão e o chifrou por uma década debaixo do próprio teto com o cunhado/comparsa Max, qualificou Nina como psicopata e transformou a Carminha na grande vítima do conto. Como se fosse pouco o passado, parece ainda que a audiência se esqueceu que ela enterrou Nina viva, tentou matá-la afogada, cortar o pulso dela no dia de seu casamento, e ainda vai tentar colocar fogo na mansão com ela dentro. Vai entender as pessoas...

*Designer e escritor. Site: HTTP://terradeexcluidos.blogspot.com.br

Um comentário:

  1. É quase natural torcer pelo lado mais fraco, aquele que não tem nenhuma chance. Quem gosta de sofrer desenvolve essa aptidão de só torcer para quem está por baixo, para time ruim. Bom falar também dos fracos. Quanto a novela, com a sua dupla de vilãs, já está além do absurdo. Depois dela poderão ser catalogadas as maldades possíveis e impossíveis, com novos critérios qualificar o grau de vilania.

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