domingo, 12 de setembro de 2010


Coréia do Norte

* Por Fabiana Bórgia


Tive um sonho muito estranho. Na verdade, pesadelo. Sonhei que estava prestes a mudar para a Coréia do Norte. Mas por quê? Por que o "eixo do mal"?
Se os sonhos traduzem mensagens do nosso inconsciente, eu só sei que então estou indo para aonde não desejo. Algum lugar onde meus sonhos de vida, de repente, estão sendo tolhidos.

Não queria ir para a Coréia do Norte. Queria ir para algum lugar onde minha liberdade de expressão fosse a máxima. Onde a liberdade de ser o que eu realmente sou fosse o limite. Um limite imposto por mim. Por minhas próprias escolhas.

Meu Deus! Mas eu estou aqui no Rio de Janeiro. Por que sonhei com a Coréia do Norte? Hoje li a revista Veja da semana passada e constatei reportagens interessantes: uma delas falava sobre a imensa dificuldade dos cubanos que ousam levantar sua voz contra o regime comunista de Fidel. A outra reportagem bacana, que nada tem a ver com o assunto, é o excesso de proteção dos pais, que impossibilita que a criança se torne um adulto seguro, capaz de escolher seus caminhos e de enfrentar os seus desafios.

Sim, enfrento os meus desafios com louvor. E sinto que ainda isso é muito pouco perante os oprimidos, como os jovens cubanos que tentam se expressar por meio de blogs, mesmo correndo sérios riscos de vida. Lendo a reportagem, tive a sensação de que não enfrento quase nada, perto do que eles passam. Eles sim andam enfrentando alguma coisa. Aliás, nós, brasileiros, somos muito acomodados perante os fatos, perante a corrupção, perante esta democracia disfarçada.
Acredito que seja uma revolucionária latente. Tenho dentro de mim um "algo" que dá vontade de romper barreiras. Por uma causa maior, nobre. Mas a minha revolução é interna. E vem à tona por meio da escrita. Como dizia Clarice, "Terminei sendo uma pessoa que procura o que profundamente se sente e usa a palavra que o exprima. É pouco, é muito pouco”.

Enfim, não estou aqui para falar do governo. E nem da literatura. Nem do regime cubano. Estou apenas para demonstrar a minha indignação com meu sonho, por ter sido obrigada a ir para a Coréia do Norte. E sem saber o motivo.

• Escritora por vocação e advogada por formação. Paulista por natureza e carioca por estado de espírito. Engenheira de sonhos: alguém em eterna construção. Autora do livro “Traços de Personalidade”

Um comentário:

  1. Geralmente meus sonhos são estranhos. Ontem tive um pesadelo horrível: sonhei que eu me perdia nos lugares em que mais conhecia. Pior do que estar na Coréia do Norte é não saber onde está.

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