segunda-feira, 12 de abril de 2010




Um texto antigo sobre um problema mais antigo ainda

* Por Renato Manjaterra

O 16 e o 12

Em seu dialeto, um publicitário confessava diante da câmera de um colunista social que o objetivo da Ballantines Party era atingir um target de uma faixa etária mais baixa: Vender uísque para gente cada vez mais nova. A festa estava começando, a playboyzada estava chegando...

A cento e cinqüenta metros dali a PM “exuzava” mais uma favela.
Naquele dia eles até que quiseram fazer tudo direitinho: não passaram em cima de ninguém com a Blazer, não recortaram nenhum favelado a tiros de metralhadora, nem uma torturinha, de leve, nada. Só seguiram a lei e encaminharam os dois jovens detidos ao DP.

Um era branco e, bem trajado, estava indo para a festa do Ballantines, tomar uísque de graça até a hora de pegar seu importado e sair à caça de uma vítima, bem louco. O outro era negro, morava por ali e não tinha passagem. O Cabo os grampeou segurando, ambos, com as duas mãos, o dinheiro e a droga. Uma situação típica de compra e venda de maconha. Foi um no artigo dezesseis e o outro no doze.

Dali em diante, quando a lei foi seguida, nasceu o ridículo. No Distrito, o delegado de plantão foi obrigado por lei a aplicar ao usuário (o jovem que estava comprando) uma pena alternativa. Ele não fica frito nem que passe a mão na bunda do guarda. E fim de papo.

O negro (o que estava vendendo), por sua vez, viu a casa cair. Sua bronca é “ponta a ponta”. Hediondo. Sem progressão de regime. Hediondo. Tráfico. Hediondo.
Como seqüestro, só que menos rentável.

* Jornalista e escritor, Autor do livro “Colinas, Pará” com prefácio do Senador Eduardo Suplicy, bacharel em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCAMP, blog http://manjaterra.blogspot.com

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