terça-feira, 13 de abril de 2010




Abril

* Por Evelyne Furtado

Há gente na rua, o céu é de um azul intenso e o calor amainou. Cansada da paisagem interior ela deu uma pausa na introspecção. No momento não sente vontade de se justificar. Não desistiu de se compreender ou de compreender o mundo, apenas dedica-se simplesmente a ver a vida.

De sua varanda o asfalto parece-lhe coberto de prata. Tem a impressão de que todos os carros são prateados. Preferência dos consumidores ou imposição das fábricas de automóveis? Certamente o motivo está relacionado ao lucro.

Alongando a visão se gratifica em um ponto no outro lado da rua. É uma casa amarela com um jardim pequeno e bonito: Ixórias e construção formando um conjunto harmonioso.

A casa antiga entre edifícios modernos é um presente para os olhos e âncora em meio às transformações incessantes da cidade em mutação. É também um ícone de resistência. Debruça-se sobre uma das vias que levam ao mar. Dizem que há décadas ouvia-se o marulho de onde hoje ela observa a vida ouvindo os sons dos motores e dos trabalhadores em edificações vizinhas.

Agora nuvens se formam, venta bastante na varanda e o céu já não está tão azul. É abril, ela se dá conta, ao mesmo tempo em que lembra que tem um texto para escrever, uma matéria para estudar e uma vida para viver.

* Cronista e poetisa de Natal/RN

4 comentários:

  1. Ilhada pela insaciável especulação imobiliária, e de roldão a indústria automobilística com a sua frota monocromática. Mudei de carro, e preferi um vermelho para quebrar a monotonia, assim como a casa em meio aos prédios e a moradora cheia de planos.

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  2. Como é possível extrair poesia de um abril tão trivial? Respostas com Evelyne. Parabéns por mais este, amiga.

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  3. Aprendi a gostar do mês de abril através
    das palavras de um velho amigo e filósofo
    de botequim. Depois de tanta chuva as flores
    amarelinhas teimam em abrir...em abril.
    Beijos

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  4. Obrigada, queridos. Gosto muito de abril. Beijos

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