
Um poema de Montez Magno
* Por Luiz Carlos Monteiro
Em 1978, o poeta e pintor pernambucano Montez Magno publicou Floemas, volume de poemas que se caracterizam por uma economia interna da condensação e da brevidade. Tais poemas encontram-se permeados de uma ironia vibrante e contundente, às vezes leve, com laivos de uma metafísica para cultivo próprio e de quem se dispuser a lê-lo. O primeiro poema de Floemas, cujo título aparece apenas no índice do livro como sendo o mesmo do primeiro verso, “Folhas livres, intactas, caindo”, traduz um firme contato com a natureza, a contemplação ativa dos elementos em volta e o roteiro áspero da memória:
Folhas livres, intactas, caindo
no chão macio do ar envolto em finas
substâncias e acaso.
Olho, e enquanto cai a folha se repete
pura e leve no gesto imaginado
na manhã de silêncios e afagos.
Traço no tempo, solta, a memória
de inúmeras esperas,
de imagens arquivadas, desenhos construídos e firmados
dos quais me lembro apenas a demora.
Aqui o movimento das folhas faz-se material pelo que as compõe de substância viva e ainda pulsante, e imaterial pelo acaso das imagens e sombras desenhadas. As folhas, em ambiência aleatória, se movem sem direção ordenada previamente até o solo. Há um momento em que alguém as observa e recria artisticamente, retirando-as da memória que não se emerge nem se manifesta com facilidade. Poemas com essa disposição contemplativa do movimento das “folhas” repetem-se em vários instantes da obra de Montez Magno, a partir de outros elementos como a chuva, o rio, o monte, o sol, a floresta, o deserto, o céu e a fonte.
* Poeta, crítico literário e ensaísta, blog www.omundocircundande.blogspot.com
* Por Luiz Carlos Monteiro
Em 1978, o poeta e pintor pernambucano Montez Magno publicou Floemas, volume de poemas que se caracterizam por uma economia interna da condensação e da brevidade. Tais poemas encontram-se permeados de uma ironia vibrante e contundente, às vezes leve, com laivos de uma metafísica para cultivo próprio e de quem se dispuser a lê-lo. O primeiro poema de Floemas, cujo título aparece apenas no índice do livro como sendo o mesmo do primeiro verso, “Folhas livres, intactas, caindo”, traduz um firme contato com a natureza, a contemplação ativa dos elementos em volta e o roteiro áspero da memória:
Folhas livres, intactas, caindo
no chão macio do ar envolto em finas
substâncias e acaso.
Olho, e enquanto cai a folha se repete
pura e leve no gesto imaginado
na manhã de silêncios e afagos.
Traço no tempo, solta, a memória
de inúmeras esperas,
de imagens arquivadas, desenhos construídos e firmados
dos quais me lembro apenas a demora.
Aqui o movimento das folhas faz-se material pelo que as compõe de substância viva e ainda pulsante, e imaterial pelo acaso das imagens e sombras desenhadas. As folhas, em ambiência aleatória, se movem sem direção ordenada previamente até o solo. Há um momento em que alguém as observa e recria artisticamente, retirando-as da memória que não se emerge nem se manifesta com facilidade. Poemas com essa disposição contemplativa do movimento das “folhas” repetem-se em vários instantes da obra de Montez Magno, a partir de outros elementos como a chuva, o rio, o monte, o sol, a floresta, o deserto, o céu e a fonte.
* Poeta, crítico literário e ensaísta, blog www.omundocircundande.blogspot.com
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