

Reflexão pascal
* Por Renato Manjaterra
Agora eu já me sinto mais isento para sentir algumas coisas católicas. Já fui católico quase praticante, na época do batismo, já fui o contrário. Já fiquei puto em saber que o Vaticano é de ouro, mas contei estórias de Papai Noel para o meu filho.
Por isso usar o tempo "agora". Porque passou tudo isso. Hoje eu me sinto livre para acreditar no que quiser. Não me sinto obrigado a crer nem em Jesus, mas não acho mais que crer seja menos do que saber.
Há bem poucos anos estava dirigindo e vendo propagandas de Natal nas fachadas e comecei a pensar que em poucos dias íamos cantar Parabéns Pra Você para Jesus, o filho do carpinteiro. O Natal, um dia foi a comemoração do dia do nascimento daquele turco comunista, que padeceu sob Pôncio Pilatos, você sabe...
Pois nesse finalzinho de quaresma a minha mãe ensinou do mesmo jeito prosaico, en passant, que ela ensinou tudo o que diz respeito à tradição católica. Minha mãe sabe. Aprendeu no Imaculada e releu tudo depois na Antropologia.
Acho que eu queria festejar, provavelmente já na quinta à noite, e ela lançou mais para embarreirar mesmo: Mas se a intenção era só me fazer ficar em casa, ela lançou umas coisas muito graves! Ela disse que os demônios estavam todos soltos nessas noites.
"Você sabe o que se comemora na Páscoa, filho?" Eu chutei certo: "A ressurreição de Cristo?"
Ela disse "Pois é... e na sexta-feira santa?", eu não sabia. Eu lembro até da ordem das palavras: "A morte dele, filho. Quer dizer, não se comemora, mas a gente lembra é da morte de Cristo na sexta-feira santa".
Daí que para ela entre a sexta-feira santa e a Páscoa eu não devia sair para bagunçar pois estávamos sem Deus na Terra. Nessa sexta eu cheguei na casa da minha avó e ela, que guarda no coração todas essas tradições estava de camisola, com o cabelo desgrenhado, logo ela que é uma velhinha tão cheirosinha.
Tentei interpretar a meu modo aquele dia e sugeri: “Fica feliz véia!” Aquela fita que fizeram com o Jesus foi há quase dois mil anos, ele tá bem já. Acho que ele ia ficar mais feliz em ver você feliz. Mas essas coisas todas são tão fortes que a minha avozinha sente mesmo. Vou ter que esperar o Domingo para vê-la sorrir.
* Jornalista e escritor, Autor do livro “Colinas, Pará” com prefácio do Senador Eduardo Suplicy, bacharel em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCAMP, blog http://manjaterra.blogspot.com
* Por Renato Manjaterra
Agora eu já me sinto mais isento para sentir algumas coisas católicas. Já fui católico quase praticante, na época do batismo, já fui o contrário. Já fiquei puto em saber que o Vaticano é de ouro, mas contei estórias de Papai Noel para o meu filho.
Por isso usar o tempo "agora". Porque passou tudo isso. Hoje eu me sinto livre para acreditar no que quiser. Não me sinto obrigado a crer nem em Jesus, mas não acho mais que crer seja menos do que saber.
Há bem poucos anos estava dirigindo e vendo propagandas de Natal nas fachadas e comecei a pensar que em poucos dias íamos cantar Parabéns Pra Você para Jesus, o filho do carpinteiro. O Natal, um dia foi a comemoração do dia do nascimento daquele turco comunista, que padeceu sob Pôncio Pilatos, você sabe...
Pois nesse finalzinho de quaresma a minha mãe ensinou do mesmo jeito prosaico, en passant, que ela ensinou tudo o que diz respeito à tradição católica. Minha mãe sabe. Aprendeu no Imaculada e releu tudo depois na Antropologia.
Acho que eu queria festejar, provavelmente já na quinta à noite, e ela lançou mais para embarreirar mesmo: Mas se a intenção era só me fazer ficar em casa, ela lançou umas coisas muito graves! Ela disse que os demônios estavam todos soltos nessas noites.
"Você sabe o que se comemora na Páscoa, filho?" Eu chutei certo: "A ressurreição de Cristo?"
Ela disse "Pois é... e na sexta-feira santa?", eu não sabia. Eu lembro até da ordem das palavras: "A morte dele, filho. Quer dizer, não se comemora, mas a gente lembra é da morte de Cristo na sexta-feira santa".
Daí que para ela entre a sexta-feira santa e a Páscoa eu não devia sair para bagunçar pois estávamos sem Deus na Terra. Nessa sexta eu cheguei na casa da minha avó e ela, que guarda no coração todas essas tradições estava de camisola, com o cabelo desgrenhado, logo ela que é uma velhinha tão cheirosinha.
Tentei interpretar a meu modo aquele dia e sugeri: “Fica feliz véia!” Aquela fita que fizeram com o Jesus foi há quase dois mil anos, ele tá bem já. Acho que ele ia ficar mais feliz em ver você feliz. Mas essas coisas todas são tão fortes que a minha avozinha sente mesmo. Vou ter que esperar o Domingo para vê-la sorrir.
* Jornalista e escritor, Autor do livro “Colinas, Pará” com prefácio do Senador Eduardo Suplicy, bacharel em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCAMP, blog http://manjaterra.blogspot.com
Acho válida todas as tradições
ResponderExcluire suas simbologias, desde que
as pessoas realmente parem para refletir.
Que olhem para os lados e que enxerguem
seus semelhantes.
òtimo texto
Abraços
Quando eu era menina meu pai não nos deixava cantar, sorrir, e nem ligar o rádio. Quem vendesse qualquer coisa estava vendendo Jesus, e quem comesse carne iria para o inferno. Também estudei no Colégio Imaculada Conceição, e as freiras estavam lá para garantir tudo isso. Todos ficavam de luto durante esse dia, principalmente às 15 hs, que foi o momento da morte de Cristo. Os anos passaram, hoje vejo Cristo como um gênio iluminado, mas meu filho come carne na sexta-feira santa, e eu não contesto e nem como carne, por tradição e respeito à minha mãe, já morta.
ResponderExcluirA Páscoa antecede a morte de Cristo. É uma comemoração que não se restringe apenas aos cristãos, nem apenas à morte de Jesus, embora para nós, cristãos, signifique que ele morreu nessa data.
ResponderExcluirAcho importantes os rituais que unem as famílias, hoje tão separadas, por mil e um motivos.