

O nome e a pessoa
* Por Rosana Hermann
Qual era mesmo o nome daquele ator da Globo que parece com o Francis Hime? Esta a pergunta que martelava minha cabeça durante a gravação de uma entrevista de tv em que o maestro participava. Dantas. Era alguma coisa com Dantas. Sabe, aquele ator que fez a minissérie JK? Então, este. Mas não me lembro o nome dele. Só sei que ele é a cara do Francis Hime.
Ontem também, vi outro ator da Globo na ilha de edição. Ele já fez mais de sessenta novelas mas não sei o nome dele. É Otávio, parece. Não é o Tatá, aquele do Sai de Baixo, lembra? É outro. Mas não sei explicar quem.
Acontece muito, a gente não consegue ligar o nome à pessoa. Eu mesma, durante anos, quando trabalhei como apresentadora, ouvia das pessoas este comentário: “eu conheço você da televisão mas... qual é mesmo seu nome?” Lembro de uma passagem cômica em que fui gravar a festa surpresa de uma senhora que completava 80 anos, numa matéria em externa com os Trovadores Urbanos. Assim que cheguei perto da aniversariante dando os parabéns e avisando que estávamos na TV, ela me abraçou dizendo: “Eu adoro você, Madalena Bonfiglioli!”. Passei a noite como Madalena.
Deve ser por isto que muita gente que busca a notoriedade faz questão de projetar o nome junto com a imagem, nem que seja o nome da empresa. Deve ser isso que leva o dono de uma rede de farmácias a estampar sua cara em outdoors, ônibus, anúncios e folhetos de sua empresa. E, claro, ele próprio faz os comerciais da marca. Da mesma forma, uma famosa dona de imobiliárias em São Paulo passou a colocar suas fotos em todas as placas de vende-se, aluga-se ou passa-se o ponto, para ligar o nome à pessoa. No caso dela, seu nome era conhecidíssimo mas ela devia se ressentir de não ser reconhecida nas ruas. Depois de colocar sua foto, aconteceu. Até na televisão ela foi.
O desejo de ser reconhecido com nome, sobrenome e foto três por quatro é muito comum e compreensível. É a vontade de ter sua existência validada. Não nos basta, como seres humanos, a carteira de identidade para o território nacional, o passaporte para o resto do mundo. Queremos ter a certeza de que estamos aqui no Planeta de forma lícita, que somos aceitos, que valeu a pena ter nascido, apesar de não termos pedido para que acontecesse. Quando alguém reconhece seu rosto, seu nome, lembra de um trabalho que você fez e, eventualmente oferece um sorriso, é como se aquela pessoa carimbasse nosso visto de permanência na Terra. Melhor que isso, só crachá VIP para bastidores de show e acesso aos camarotes, com todo mundo reconhecendo seu rosto e dizendo seu nome.
Ah, sim, lembrei. É Daniel. Daniel Dantas, o ator. Ele é a cara do Francis Hime.
*Rosana Hermann é Mestre em Física Nuclear pela USP de formação, escriba de profissão, humorista por vocação, blogueira por opção e, mediante pagamento, apresentadora de televisão.
* Por Rosana Hermann
Qual era mesmo o nome daquele ator da Globo que parece com o Francis Hime? Esta a pergunta que martelava minha cabeça durante a gravação de uma entrevista de tv em que o maestro participava. Dantas. Era alguma coisa com Dantas. Sabe, aquele ator que fez a minissérie JK? Então, este. Mas não me lembro o nome dele. Só sei que ele é a cara do Francis Hime.
Ontem também, vi outro ator da Globo na ilha de edição. Ele já fez mais de sessenta novelas mas não sei o nome dele. É Otávio, parece. Não é o Tatá, aquele do Sai de Baixo, lembra? É outro. Mas não sei explicar quem.
Acontece muito, a gente não consegue ligar o nome à pessoa. Eu mesma, durante anos, quando trabalhei como apresentadora, ouvia das pessoas este comentário: “eu conheço você da televisão mas... qual é mesmo seu nome?” Lembro de uma passagem cômica em que fui gravar a festa surpresa de uma senhora que completava 80 anos, numa matéria em externa com os Trovadores Urbanos. Assim que cheguei perto da aniversariante dando os parabéns e avisando que estávamos na TV, ela me abraçou dizendo: “Eu adoro você, Madalena Bonfiglioli!”. Passei a noite como Madalena.
Deve ser por isto que muita gente que busca a notoriedade faz questão de projetar o nome junto com a imagem, nem que seja o nome da empresa. Deve ser isso que leva o dono de uma rede de farmácias a estampar sua cara em outdoors, ônibus, anúncios e folhetos de sua empresa. E, claro, ele próprio faz os comerciais da marca. Da mesma forma, uma famosa dona de imobiliárias em São Paulo passou a colocar suas fotos em todas as placas de vende-se, aluga-se ou passa-se o ponto, para ligar o nome à pessoa. No caso dela, seu nome era conhecidíssimo mas ela devia se ressentir de não ser reconhecida nas ruas. Depois de colocar sua foto, aconteceu. Até na televisão ela foi.
O desejo de ser reconhecido com nome, sobrenome e foto três por quatro é muito comum e compreensível. É a vontade de ter sua existência validada. Não nos basta, como seres humanos, a carteira de identidade para o território nacional, o passaporte para o resto do mundo. Queremos ter a certeza de que estamos aqui no Planeta de forma lícita, que somos aceitos, que valeu a pena ter nascido, apesar de não termos pedido para que acontecesse. Quando alguém reconhece seu rosto, seu nome, lembra de um trabalho que você fez e, eventualmente oferece um sorriso, é como se aquela pessoa carimbasse nosso visto de permanência na Terra. Melhor que isso, só crachá VIP para bastidores de show e acesso aos camarotes, com todo mundo reconhecendo seu rosto e dizendo seu nome.
Ah, sim, lembrei. É Daniel. Daniel Dantas, o ator. Ele é a cara do Francis Hime.
*Rosana Hermann é Mestre em Física Nuclear pela USP de formação, escriba de profissão, humorista por vocação, blogueira por opção e, mediante pagamento, apresentadora de televisão.
Há famosos muito estranhos. Lutam para sair do anonimato e depois que passam a ser alguém, esnobam os fãs fingindo irritação ao ser reconhecidos. Querem que as pessoas os vejam e finjam que não viram nada. Francamente!
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