terça-feira, 10 de novembro de 2009




Urgência

* Por Evelyne Furtado

Que tempo é esse em que as horas escorrem em entardeceres sucessivos? Não tenho pressa, mas é quase Natal e ainda ontem o Natal era uma longa espera. Agora a data parece colada ao carnaval em meu calendário interior que não se iguala nunca ao oficial. Quem determinou tal aceleramento? A que atribuir a disparada dos dias?

Não sei, apenas especulo, mas não interessa aqui discorrer sobre as minhas teorias. Desisti de brigar, mas ainda me pego em vigília tentando evitar que as crianças cresçam rápido demais, que as flores não morram de súbito e que a idade não me amarele os sonhos.

A empreitada além de fracassada é pouco inteligente, por isso aprendo a relaxar diante dessa urgência de viver. Ainda me agarro a algumas lembranças, mas me despeço de outras enquanto o amanhã sem tardar chega à minha janela.

Na correria os sentimentos misturam-se: onde foi lágrima é riso frouxo e a graça é interrompida em segundos pela melancolia. Os valores também se embaralham entre o antigo e o novo na margem estreita entre passado e futuro.

O tempo não se rende, não, rendida estou eu diante dele tentando salvar o melhor que vivi e cultuando a esperança para o porvir.

* Poetisa e cronista de Natal/RN

3 comentários:

  1. Essa sensação de ficar correndo atrás do rabo e da imparmanência do vivido também é um fantasma que me atormenta. Passam os dias, meses, anos e o que fica é uma pálida ideia dessa sucessão toda. Belo e verdadeiro texto, amiga Evelyne!

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  2. É como no rodeio: a gente monta na garupa do tempo e se esforça para não cair, enquanto ele corcoveia. Só que não há prêmio no final, apenas cabelos brancos...e a sensação de que vivemos mesmo à mercê. Mas vc disse melhor. Parabéns.

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  3. É pura sensatez, sem o ardor da pressa, ou o verdor de anos atrás. Vontade de lhe roubar a lucidez, e estar bem de todo modo: no riso e na lágrima.

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