Mi casa, su casa?*
** Por Daniel Santos
Considerada
continuidade da África na Europa, a Espanha amarga, há tempos, o menosprezo do
próprio continente, onde xenofobia é tradição.
Nem
por isso, deixa de devolver na mesma moeda. Mas não a seus detratores,
geralmente louros e ricos. Morenos que lhe servem de incômodo espelho são as
suas atuais vítimas; entre elas, os brasileiros.
Claro,
há ressalvas quando se trata de prostitutas, travestis e jogadores de futebol.
Já um físico nuclear está perdido: caso consiga entrar na pátria de Cervantes,
terá de comer, antes, muita paella
estragada.
Significa
que vai ouvir repetidos insultos, escárnio, provocações e deboche; quando não,
desrespeito e até humilhações ... porque é brasileiro – primata ainda bem pouco
evoluído em relação a esses novos arianos.
Nossa
diáspora, é certo, expulsou os menos cultos, gente sem colocação no mercado e
que cria, por isso, problemas de toda ordem, a respeito do que o Itamaraty
deveria ser mais atuante e representativo.
Mas,
e quem se dana de tanto trabalhar? Além do mais, foi o Brasil, e não o
contrário, que sempre disse “mi casa, su casa” a muitos milhares de imigrantes
espanhóis que aqui proliferaram em vasta descendência.
Melhor
que a presunção de superioridade, é nossa memória afetiva. Afinal, a bonança um
dia acaba – sabe o ibero que enricou com o ouro dos incas, antes de passar tudo
aos ingleses. E empobrecer de novo!
* Provérbio espanhol
** Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e
redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de
São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou
"A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e
"Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o
romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para
obras em fase de conclusão, em 2001.
Será uma espécie de vingança nossa.
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