quarta-feira, 11 de novembro de 2009




Respostas

* Por Marcos Alves

Procurava por respostas e então consultei os monges. Descobri então a nobreza da virtude. Mas não aprendi como elevar-me acima da vida mundana. Sequer consegui livrar-me de alguns pequenos vícios, em mim impregnados como uma segunda pele. Forcei arrependimento, convencido que estava pelas palavras puras, e travei luta interna contra os pecados do corpo, da mente e da alma. Depois de um começo promissor, acabei de novo caindo em tentação. Ouvi: és um humano miserável, fraco e sem vontade.

Busquei então a companhia dos intelectuais, humanos como eu, mas donos de um pensamento sofisticado e símbolos da grandeza da raça. As palavras certas, no lugar certo poderiam inspirar-me e operar o milagre do renascimento. Mas tantas verdades ditas sem pudor quase me ferem de morte... Espantado, fugi, protegido justamente por minha humanidade falível e inconseqüente. Melhor não pensar, inferi, e de novo voltei às antigas perguntas.

Insatisfeito e melancólico, tive então a necessidade de proteção. Busquei-a nos poucos amigos, nos braços de gente próxima. Recebi carinho, recebi atenção. Mas quando abri meu coração por completo senti o diálogo se tornar um monólogo, os braços que me envolviam se afastaram e, tal qual objeto decorativo, exemplo vivo de desgraça por ninguém desejada, colocado fui a um canto. E dos outros me tornei deplorável criatura, exemplo do que não ser. “Pare com isso!”, foram as últimas palavras que escutei antes de dar as costas e de novo partir.

Cansado, atordoado, fechei-me em pensamentos e chorei sozinho. O espelho se tornou ameaçador e insuportável. A alegria das crianças, o vôo dos pássaros, o caminhar distraído das moças, o zunir do vento nas árvores, o azul do céu, o marulhar das ondas, o balé dos peixes, o som das mais belas canções – nada me consolava.

Perdido fiquei a olhar o mundo pela janela. E não compreendia o sentido daquilo tudo, afinal. Respostas. Lentamente o silêncio foi preenchendo o vazio daquela manhã. E eu não desejava mais do que o silêncio naquele momento. E formulei uma pergunta diferente: Por que o silêncio em vez das respostas? Menos confuso, menos triste, menos atordoado, ergui o corpo, fechei a janela e passei um café.

Olhei de novo minha imagem no espelho e lembrei-me que nada é para sempre. Um dia, não sei quando, vou partir. Provavelmente sem ter a menor idéia do destino. Quando esse dia chegar, estarei pronto, independente de ter sido preparado, mesmo contra a vontade, ainda que não compreenda o sentido. Nesse dia, possivelmente irei olhar para trás e ver que perdi muito tempo procurando explicações. Talvez não, mas aí isso realmente não terá mais tanta importância.

Do pó vieste e ao pó voltarás. A única certeza desse mundo, segundo os monges, intelectuais e pessoas como eu. Nesse dia acho que terei as respostas, sem muita complicação. Mas sendo assim não é preciso pressa. Nem para viver, nem para morrer. Se viver sem pressa de encontrar respostas, estarei dando um passo e tanto – nesse momento descobri. E agora, o caminho parece bem mais simples. Nem quero saber por quanto tempo. Essa resposta eu terei, todos teremos, de uma forma ou de outra, cedo ou tarde. Portanto, não importa.

*Jornalista, www.marcos-alves.blogspot.com

2 comentários:

  1. Núbia


    Boa tarde Marcos


    Quanto mais eu me pergunto menos respostas eu tenho. Segura de mim fui consultar o meu oráculo, ele dizia que tudo era solucionável, que tudo tem fim. O oráculo era minha mãe, que se foi cheia de dúvidas e tormentos. Hoje, procuro as respostas no silêncio. No dia em que me for e se Deus tiver paciência, peço a Ele pra tudo me contar. Então amigo, me aguarde...eu volto pra te falar.
    beijos

    ResponderExcluir
  2. Viver com serenidade é uma grande sabedoria.
    Quanto mais procuro respostas e muitas vezes encontro, mais perguntas me faço.
    E as respostas estão dentro da gente.
    E a vida roda. Roda vida.
    Texto filosófico.
    Beijão !

    ResponderExcluir