
Dilemas da divulgação
Todo escritor, por mais experiente e escolado que seja, tem, bem no fundo da sua consciência, ao lançar um novo livro, a esperança de que ele venda muito, e rápido, e se transforme (quem sabe) em um “best-seller”.
Não tarda muito, porém, para se frustrar. A menos que se trate de um Paulo Coelho, poderá se dar por muito satisfeito se conseguir esgotar, e num prazo de dois anos ou mais, reles edição de um mil exemplares. E isso após muito esforço, muito tempo perdido, muitas decepções e imensa dose de sorte.
Supondo que tenha sido sumamente feliz na escolha do título para o seu livro (fator que tratamos no editorial de ontem), o escritor terá pela frente, tão logo ele esteja impresso, a indigesta tarefa de divulgar o produto aos quatro ventos. Alguns deixam isso exclusivamente a cargo das editoras. Raramente funciona. Afinal, estas têm, via de regra, dezenas, quando não centenas de lançamentos a divulgar.
Nestas circunstâncias, nosso escritor sai, com um pacote imenso, de algumas dezenas de exemplares, sob o braço, em uma cansativa e chata romaria pelas redações de jornais, em busca de uma reles notinha, mesmo que seja em pé de página, da sua obra. Para isso, precisa gastar. Tem que comprar algumas dezenas do livro que ele próprio escreveu, já que os dez exemplares a que tem direito por contrato (isso quando não banca do próprio bolso a publicação) são insuficientes, sequer, para dá-los aos parentes. E experimente não dar para algum!
Essa romaria, salvo raríssimas exceções, é revestida de uma sucessão de frustrações. Caso consiga, por exemplo, ser recebido (raramente consegue) por algum editor de Cultura (na maioria dos jornais, essa editoria recebe o pomposo nome de “Artes & Variedades”, quando não Caderno B, C, D ou seja o raio que for), esse o acolhe com tremenda má-vontade, como se se tratasse de um rei, ou de um presidente da República fazendo uma concessão muito especial para ouvir, entediado, um anônimo plebeu. Se conseguir uma notinha de pé de página, reitero, já será um triunfo.
Muitas vezes, nosso teimoso escritor decide convocar os “amigos” para auxiliar na divulgação do seu livro. Outra “furada”. As mesmas pessoas que antes do lançamento da obra davam a entender que a aguardavam com extrema ansiedade, se fazem, então, de desentendidas. Mas exigem, claro, seus exemplares (e autografados), mas gratuitamente. Sequer se darão o trabalho de ler. E ai de quem não fizer essa doação. Se tiver uma “centena” de amigos, imagine o prejuízo” Este se multiplicará à estratosfera, se forem levadas em conta as doações que precisa fazer aos parentes. E não pode se esquecer de ninguém. Se o fizer... adeus amizades.
Muitos depositam suas esperanças em noites (ou manhãs, ou tardes, não importa) de autógrafos. Caso esses eventos sejam promovidos por suas editoras, a frustração será menor, pois pelo menos não haverá custos a cobrir. Em caso contrário... O escritor irá gastar uma fortuna em bebidas, salgadinhos e outras porcarias e venderá tão pouco, que terá sorte se conseguir cobrir metade do que gastar. Se a promoção for noticiada pela imprensa, o prejuízo, talvez, não seja tão grande. Caso contrário...
Estes problemas, frise-se, não são enfrentados apenas por escritores novatos, mas até por vários “medalhões”, tidos e havidos (na maioria das vezes com justiça) como baluartes das letras nacionais. Para tentar fugir um pouco desses problemas, há alguns anos, Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade e Rubem Braga se uniram e criaram a “Editora Sabiá”. E o negócio não prosperou.
Como se vê, um bom título para o livro e uma eficiente (e inteligente) divulgação são importantes para assegurar boas vendas. Mas só esses dois fatores não bastam. A menos que você distribua gratuitamente todos os exemplares. Quanto à leitura... Bem, desta você não terá nunca a menor garantia. Mesmo que você cumpra com persistência e objetividade essas duas etapas, os efeitos positivos serão minúsculos, caso a obra não conte com eficaz distribuição. Mas... este já é um assunto que fica para amanhã.
Boa leitura.
O Editor.
Todo escritor, por mais experiente e escolado que seja, tem, bem no fundo da sua consciência, ao lançar um novo livro, a esperança de que ele venda muito, e rápido, e se transforme (quem sabe) em um “best-seller”.
Não tarda muito, porém, para se frustrar. A menos que se trate de um Paulo Coelho, poderá se dar por muito satisfeito se conseguir esgotar, e num prazo de dois anos ou mais, reles edição de um mil exemplares. E isso após muito esforço, muito tempo perdido, muitas decepções e imensa dose de sorte.
Supondo que tenha sido sumamente feliz na escolha do título para o seu livro (fator que tratamos no editorial de ontem), o escritor terá pela frente, tão logo ele esteja impresso, a indigesta tarefa de divulgar o produto aos quatro ventos. Alguns deixam isso exclusivamente a cargo das editoras. Raramente funciona. Afinal, estas têm, via de regra, dezenas, quando não centenas de lançamentos a divulgar.
Nestas circunstâncias, nosso escritor sai, com um pacote imenso, de algumas dezenas de exemplares, sob o braço, em uma cansativa e chata romaria pelas redações de jornais, em busca de uma reles notinha, mesmo que seja em pé de página, da sua obra. Para isso, precisa gastar. Tem que comprar algumas dezenas do livro que ele próprio escreveu, já que os dez exemplares a que tem direito por contrato (isso quando não banca do próprio bolso a publicação) são insuficientes, sequer, para dá-los aos parentes. E experimente não dar para algum!
Essa romaria, salvo raríssimas exceções, é revestida de uma sucessão de frustrações. Caso consiga, por exemplo, ser recebido (raramente consegue) por algum editor de Cultura (na maioria dos jornais, essa editoria recebe o pomposo nome de “Artes & Variedades”, quando não Caderno B, C, D ou seja o raio que for), esse o acolhe com tremenda má-vontade, como se se tratasse de um rei, ou de um presidente da República fazendo uma concessão muito especial para ouvir, entediado, um anônimo plebeu. Se conseguir uma notinha de pé de página, reitero, já será um triunfo.
Muitas vezes, nosso teimoso escritor decide convocar os “amigos” para auxiliar na divulgação do seu livro. Outra “furada”. As mesmas pessoas que antes do lançamento da obra davam a entender que a aguardavam com extrema ansiedade, se fazem, então, de desentendidas. Mas exigem, claro, seus exemplares (e autografados), mas gratuitamente. Sequer se darão o trabalho de ler. E ai de quem não fizer essa doação. Se tiver uma “centena” de amigos, imagine o prejuízo” Este se multiplicará à estratosfera, se forem levadas em conta as doações que precisa fazer aos parentes. E não pode se esquecer de ninguém. Se o fizer... adeus amizades.
Muitos depositam suas esperanças em noites (ou manhãs, ou tardes, não importa) de autógrafos. Caso esses eventos sejam promovidos por suas editoras, a frustração será menor, pois pelo menos não haverá custos a cobrir. Em caso contrário... O escritor irá gastar uma fortuna em bebidas, salgadinhos e outras porcarias e venderá tão pouco, que terá sorte se conseguir cobrir metade do que gastar. Se a promoção for noticiada pela imprensa, o prejuízo, talvez, não seja tão grande. Caso contrário...
Estes problemas, frise-se, não são enfrentados apenas por escritores novatos, mas até por vários “medalhões”, tidos e havidos (na maioria das vezes com justiça) como baluartes das letras nacionais. Para tentar fugir um pouco desses problemas, há alguns anos, Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade e Rubem Braga se uniram e criaram a “Editora Sabiá”. E o negócio não prosperou.
Como se vê, um bom título para o livro e uma eficiente (e inteligente) divulgação são importantes para assegurar boas vendas. Mas só esses dois fatores não bastam. A menos que você distribua gratuitamente todos os exemplares. Quanto à leitura... Bem, desta você não terá nunca a menor garantia. Mesmo que você cumpra com persistência e objetividade essas duas etapas, os efeitos positivos serão minúsculos, caso a obra não conte com eficaz distribuição. Mas... este já é um assunto que fica para amanhã.
Boa leitura.
O Editor.
Embora realista achei que o Editorial pendeu para o pessimismo, o que não é da sua veia, caro Pedro. Mas não deixa de chegar bem perto da verdade. Quando lancei meu livro tive a sorte de conseguir, pelo tema, uma matéria de mais de cinco minutos no Jornal local da Rede Globo ao meio dia, e ainda um programa de entrevistas de uma hora na TV local da Rede Cultura e que teve reprise. Tive reportagens de meia página no Jornal Estado de Minas, e outras matérias em jornais locais. Vendi 94 livros no café de lançamento, que banquei. Quase todas as pessoas leram o livro rápido,e algumas me pararam na rua para me contar que o leram -288 páginas-, em 4 a 5 horas sem parar. Fui chamada para dar palestras sobre a hiperatividade em cursos de inclusão feitos na universidade estadual local. Mesmo assim, ainda tenho 50 livros, e já se passaram 4 anos. Foram feitos 300 livros, que na ocasião, e tudo incluído, me levaram 6 mil reais. O meu livro fez mais fama local do que venda. Ainda assim me dou por satisfeita. O que levantou Pedro,tem sim, muita verdade.
ResponderExcluirSei muito bem o que é isso. Quando lancei o meu primeiro livro (Notícias que Marcam), na minha turma de pos-graduação tinha gente que quis ler até o original do word. Quando falei que ia lançar o livro, me perturbaram quando sairia. Quando saiu as que perguntaram não foram no lançamento. Uma me convenceu para que eu fizesse buffet. Gastamos 600 reais e a mulher que exigiu não foi. No dia seguinte a Saraiva já tirou o livro da vitrine. Duas semanas depois fui a aula levando um saco pesado e cheio de livros. Só vendi 3 e ainda assim depois de muita insistência. Com Indecisos, a editora me entregou o convite na véspera do lançamento, o livro saiu sem isbn, código de barras e catalogação. Pedi para se encarregarem da distribuição e venda. Mas somente agora, um ano depois, descobri que fui tratado como um autor que queria lançar um livro para amigos com tiragem de apenas 40 exemplares (embora tenha visto mais).
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