segunda-feira, 13 de julho de 2009


Cadê o livro?

Muito bem, meu amigo escritor: você finalmente concluiu aquele livro no qual vinha trabalhando há dois anos, empenhou-se, ao máximo, para garantir qualidade e decidiu publicá-lo. Gastou mais tempo para encontrar um título inteligente e chamativo do que para escrevê-lo. Mas, finalmente, bolou um que lhe pareceu genial. Contratou um bom webdesigner para elaborar uma capa que fosse como um outdoor na vitrine de qualquer livraria. O preço foi um pouco salgado, mas você não se importou.
De posse de todo esse material, negociou com várias editoras, até que chegou a um bom acordo com uma delas. Seu livro foi revisado, obteve o devido registro, foram rodadas algumas provas, nas quais você fez as derradeiras correções, foi prefaciado por um escritor bastante conhecido, seu amigo, teve as “orelhas” da capa meticulosamente redigidas e, finalmente, ficou pronto.
Antes do lançamento oficial, você fez a tradicional “romaria” às redações, dando, é claro, aos editores de Cultura, um exemplar, na esperança de que publicassem alguma matéria a respeito. Finalmente, conseguiu a façanha de um dos jornais (justo o de menor circulação) fazer menção à sua obra-prima, embora numa escondida notinha de pé de página. Participou de cinco noites de autógrafos, em cinco cidades diferentes, eventos nos quais gastou os tufos. “Não faz mal”, conformou-se. “As vendas vão cobrir tudo isso”.
Cumpridas todas essas etapas, esfregou as mãos e disse, satisfeito, a si mesmo: “Agora é por conta dos leitores. Meu livro vai bombar em vendas”. Nas primeiras semanas, consultou, até mesmo, a relação dos mais vendidos de “Veja”, certo de que veria sua obra ali. Não viu. “É cedo”, pensou, conformado. Passaram-se seis meses, e nada de pingar um único e reles centavo de direitos autorais em sua conta bancária. “A editora deve ter se confundido”, imaginou.
Ao cabo de oito meses, sem nenhum resultado, você decidiu pesquisar para descobrir o que estava acontecendo. Esteve em cinco cidades, vizinhas à sua, e visitou todas suas livrarias. Nenhuma tinha seu livro à venda. Ficou intrigado. Essa era a região em que se concentravam seus leitores potenciais, que acompanhavam suas crônicas semanais em um grande jornal regional e lhe davam retorno, com vasta correspondência.
Só depois é que você ficou sabendo de um fato que o deixou pasmo e aturdido. Descobriu que dos mais de seis mil municípios brasileiros, pouco mais de cem tinham livrarias. Isso mesmo. Praticamente apenas uma centena. Todas essas cidades, é bom que se diga, dos mais variados portes e populações, têm bordéis. Mas livrarias... Algumas não contam sequer com bancas de jornais. Finalmente, você chegou à conclusão que o problema maior para se tornar um best-seller não está na qualidade da obra, no título ou na divulgação. Está na distribuição, que é nosso grande calcanhar de Aquiles.
O que você fez na seqüência? Resolveu conferir como estavam as vendas em São Paulo. A terceira maior cidade do mundo conta com uma infinidade de livrarias. Entrou na primeira, uma das maiores, e não viu seu livro na vitrine. Pediu-o ao balconista e este respondeu que não tinha. A pretexto de conferir um palpite, disse que queria comprar uma obra que há muito estava fora de catálogo. Seu estratagema deu certo. Para sua sorte, o atendente lembrou que devia ter um exemplar no depósito. Resolveu acompanhá-lo até lá e teve uma surpresa que o deixou pasmo e irritado. Viu pacotes e mais pacotes do seu livro empilhados num canto, sem terem sido sequer mexidos, do jeitinho que a editora os tinha remetido. Assim, não há como vender mesmo!
Casos como esse, infelizmente, não são exceções. Constituem-se, praticamente, em regra. Cito-os não com o objetivo de desanimar ninguém, mas para alertar meus amigos escritores, que freqüentam esta nossa especial confraria, que isso acontece aos montes e que temos que nos precaver. Creio que nenhum espaço é mais adequado para debater esse tipo de assunto do que o Literário.
Felizmente, as editoras estão apostando, crescentemente, em vendas pela internet. Por enquanto, porém, esse tipo de negócio ainda é muito tímido, face ao infinito potencial que apresenta. Os sites têm que ser mais divulgados, se possível, até, com propagandas maciças em jornais, revistas, rádios e principalmente TV. Esse tipo de anúncio é caro? Sem dúvida, é. Principalmente no veículo televisão. Mas se for feito com inteligência e persistência, tenho certeza de que o investimento haverá de gerar resultados praticamente imediatos.

Boa leitura.

O Editor.

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