
O maior dos problemas
A vida é, literalmente (parodiando o poeta Gonçalves Dias) uma “luta renhida. Viver é lutar!”. E não se trata de nenhuma metáfora, de exagero ou de pessimismo em relação à natureza humana e sua possibilidade de convívio justo, harmonioso e pacífico com os semelhantes. Raciocinem comigo. Para qualquer ser vivo (animal) sobreviver, é preciso que outro deixe de viver. Isso não ocorre com vegetais (embora haja exceções, no caso as plantas carnívoras), que são as maiores vítimas da natureza.
Para viver, é preciso, óbvio, alimentar-se. E vocês conhecem alguma pessoa, bicho, peixe, inseto, ameba, bactéria etc. que se alimente de minerais? Eu desconheço. Estes até entram em dietas, mas suplementar e i8ncidentalmente. Caso exista (e não creio nessa existência) quem sobreviva se alimentando de pedras ou de sais, será rigorosa e notável exceção das exceções. Vida apenas se sustenta com o sacrifício de outras vidas (animais e/ou vegetais). É assim que a natureza funciona.
O convívio entre as bilhões de espécies que povoam o Planeta (e são tantas, que volta e meia os pesquisadores descobre novas, que recentemente eram desconhecidas), é sempre conflituoso. Só o mais forte ou, principalmente, o mais hábil, sobrevive. E no quesito “habilidade” o Homo Sapiens é insuperável, dá de goleada em outros seres. Daí ser o senhor da Terra.
Objetivamente, seria de se esperar que nossa espécie produzisse poucos espécimes em relação aos insetos, peixes e alguns outros animais. A idade reprodutiva ideal gira em torno dos vinte anos. A gestação é relativamente demorada, de nove meses, e salvo raríssimas exceções, nasce somente uma pessoa de cada vez. O desenvolvimento humano também é tardio. Enquanto que um potro, por exemplo, com dois anos e meio, já é praticamente adulto, o Homo Sapiens atinge somente a plena maturidade por volta dos vinte e um anos.
O convívio entre espécimes da nossa espécie sempre se caracterizou pelo conflito. Ao longo da história, as várias guerras serviram como regulador populacional. E mais do que elas, as mais diversas doenças, com mortalíssimas epidemias, impediram a “superlotação” do Planeta com seres humanos. Isso funcionou bem, de certa maneira, por determinado tempo. Mas um fator, intrinsecamente positivo, mas paradoxalmente uma bomba de tempo, desequilibrou esse perverso, mas natural esquema. E qual é ele? É a inteligência, que propiciou ao homem desenvolver habilidades de proteção individual e, por extensão, da espécie, como nenhum outro ser vivo.
Estes estranhos animais que nós somos aprenderam a construir abrigos seguros e salubres, a selecionar os alimentos mais saudáveis e nutritivos, a se defender dos diversos riscos à sobrevivência representados por outros tantos seres e pelos da própria espécie, a prevenir e curar doenças e a prolongar as próprias vidas. E a despeito dos cruéis e inflexíveis mecanismos da natureza para a regulação das populações, estas se multiplicaram em velocidade muito maior do que se poderia prever. Esse excesso de exemplares do Homo Sapiens, sempre visto como algo positivo, transformou-se no principal problema da humanidade, entre tantos que a convivência engendra.
Não sou eu que afirmo isso. É a realidade que o mostra. São os estudiosos que o detectam, mas que não vêem outra solução se não contrariar o instinto básico da vida (de qualquer vida): o de reprodução. As alternativas para a regulação populacional, até dispensáveis de serem citadas, convenhamos, são mais terríveis e apavorantes. A solução mais racional e justa seria a autolimitação da natalidade. Isso é possível? Bem... é, embora envolva inúmeras questões éticas, religiosas e de direito. Mas é provável? Creio que não.
Aldous Huxley escreveu, no livro “Volta ao Admirável Mundo Novo”: “O problema dos números, que rapidamente se multiplicam em relação aos recursos naturais, à estabilidade social e ao bem-estar dos indivíduos, é a questão fundamental da humanidade; e permanecerá sendo o problema crucial por outro século e talvez por muitos outros séculos no futuro. Supõe-se que uma nova era se iniciou a 4 de outubro de 1957. Porém, no contexto presente, toda a nossa exuberante conversa pós-Sputnik é irrelevante. Se tomarmos como ponto de referência as massas de humanidade, a era vindoura não será a Era do Espaço e sim a Era da Superpopulação”.
Isso foi escrito no final dos anos 50. E o que ocorreu desde então? Uma explosão populacional como nunca se deu antes na História. O Planeta atingiu, em outubro de 2011, a espetacular cifra de 7 bilhões de habitantes. Projeções feitas para 2016 – ou seja, para num piscar de olhos, para o ano da próxima Olimpíada, depois da de Londres de 2012, a do Rio de Janeiro – seremos dez bilhões de tripulantes na espaçonave Terra!!! Não vou sequer entrar nas questões logísticas para alimentar, proteger e proporcionar oportunidades de uma vida decente a este monumental contingente.
Vejam só, foram necessários pelo menos 13 mil anos – contando a partir da data que se convencionou como a do surgimento das primeiras comunidades “civilizadas” – para que o mundo chegasse ao primeiro bilhão de habitantes, o que ocorreu em 1850. Para chegar ao segundo bilhão, em 1925, passaram-se apenas reles 75 anos. E a despeito de duas guerras mundiais, de guerras localizadas, de guerras civis etc., que causaram estimados 150 milhões de mortes, bastaram só 37 anos para se chegar ao terceiro bilhão, em 1962. Para o quarto, em 1975, transcorreram 13 anos. Para o quinto, em 1985, foram doze. Para o sexto, em 1998, foram, de novo, treze anos, e o mesmo tempo para se chegar ao sétimo, em outubro de 2011.
Há tempos, especialistas vêm chamando a atenção para o problema, sem que se lhes dê ouvido – ou por falta de alternativas (por enquanto a única aceitável seria uma tentativa de conscientização das pessoas para que controlassem e reduzissem o número de filhos) ou, o que é mais comum, por alienação da imensa maioria quanto à questão.
O professor e economista francês Renê Dumont, por exemplo, em entrevista publicada pela revista “Visão”, na edição de 25 de setembro de 1972, constatou: “É muito difícil deter o crescimento demográfico (...)”. E, na sequência advertiu: “...No entanto, é uma questão de sobrevivência da humanidade. O problema se torna dramático”. Se o era naquela ocasião, quando o mundo não havia alcançado ainda os 4 bilhões de habitantes, imaginem agora!
Retorno ao livro de Aldous Huxley, “Volta ao Admirável Mundo Novo”, para transcrever mais este profético parágrafo: “É diante desse sinistro cenário biológico que se desenrolam os dramas políticos, econômicos, culturais e psicológicos do nosso tempo. À medida que se escoar o século XX e os novos bilhões se acrescentarem aos já existentes (haverá mais de cinco bilhões e meio de homens quando minha neta tiver 50 anos) este cenário biológico avançará”. Huxley, que não era nenhum primor de otimismo, errou, e errou feio quanto à sua previsão familiar. O mundo chegou ao quinto bilhão de habitantes quase uma década antes da neta completar 50 anos. Voltarei, certamente, ao inmstigante (e preocupante) tema.
Boa leitura.
O Editor.
A vida é, literalmente (parodiando o poeta Gonçalves Dias) uma “luta renhida. Viver é lutar!”. E não se trata de nenhuma metáfora, de exagero ou de pessimismo em relação à natureza humana e sua possibilidade de convívio justo, harmonioso e pacífico com os semelhantes. Raciocinem comigo. Para qualquer ser vivo (animal) sobreviver, é preciso que outro deixe de viver. Isso não ocorre com vegetais (embora haja exceções, no caso as plantas carnívoras), que são as maiores vítimas da natureza.
Para viver, é preciso, óbvio, alimentar-se. E vocês conhecem alguma pessoa, bicho, peixe, inseto, ameba, bactéria etc. que se alimente de minerais? Eu desconheço. Estes até entram em dietas, mas suplementar e i8ncidentalmente. Caso exista (e não creio nessa existência) quem sobreviva se alimentando de pedras ou de sais, será rigorosa e notável exceção das exceções. Vida apenas se sustenta com o sacrifício de outras vidas (animais e/ou vegetais). É assim que a natureza funciona.
O convívio entre as bilhões de espécies que povoam o Planeta (e são tantas, que volta e meia os pesquisadores descobre novas, que recentemente eram desconhecidas), é sempre conflituoso. Só o mais forte ou, principalmente, o mais hábil, sobrevive. E no quesito “habilidade” o Homo Sapiens é insuperável, dá de goleada em outros seres. Daí ser o senhor da Terra.
Objetivamente, seria de se esperar que nossa espécie produzisse poucos espécimes em relação aos insetos, peixes e alguns outros animais. A idade reprodutiva ideal gira em torno dos vinte anos. A gestação é relativamente demorada, de nove meses, e salvo raríssimas exceções, nasce somente uma pessoa de cada vez. O desenvolvimento humano também é tardio. Enquanto que um potro, por exemplo, com dois anos e meio, já é praticamente adulto, o Homo Sapiens atinge somente a plena maturidade por volta dos vinte e um anos.
O convívio entre espécimes da nossa espécie sempre se caracterizou pelo conflito. Ao longo da história, as várias guerras serviram como regulador populacional. E mais do que elas, as mais diversas doenças, com mortalíssimas epidemias, impediram a “superlotação” do Planeta com seres humanos. Isso funcionou bem, de certa maneira, por determinado tempo. Mas um fator, intrinsecamente positivo, mas paradoxalmente uma bomba de tempo, desequilibrou esse perverso, mas natural esquema. E qual é ele? É a inteligência, que propiciou ao homem desenvolver habilidades de proteção individual e, por extensão, da espécie, como nenhum outro ser vivo.
Estes estranhos animais que nós somos aprenderam a construir abrigos seguros e salubres, a selecionar os alimentos mais saudáveis e nutritivos, a se defender dos diversos riscos à sobrevivência representados por outros tantos seres e pelos da própria espécie, a prevenir e curar doenças e a prolongar as próprias vidas. E a despeito dos cruéis e inflexíveis mecanismos da natureza para a regulação das populações, estas se multiplicaram em velocidade muito maior do que se poderia prever. Esse excesso de exemplares do Homo Sapiens, sempre visto como algo positivo, transformou-se no principal problema da humanidade, entre tantos que a convivência engendra.
Não sou eu que afirmo isso. É a realidade que o mostra. São os estudiosos que o detectam, mas que não vêem outra solução se não contrariar o instinto básico da vida (de qualquer vida): o de reprodução. As alternativas para a regulação populacional, até dispensáveis de serem citadas, convenhamos, são mais terríveis e apavorantes. A solução mais racional e justa seria a autolimitação da natalidade. Isso é possível? Bem... é, embora envolva inúmeras questões éticas, religiosas e de direito. Mas é provável? Creio que não.
Aldous Huxley escreveu, no livro “Volta ao Admirável Mundo Novo”: “O problema dos números, que rapidamente se multiplicam em relação aos recursos naturais, à estabilidade social e ao bem-estar dos indivíduos, é a questão fundamental da humanidade; e permanecerá sendo o problema crucial por outro século e talvez por muitos outros séculos no futuro. Supõe-se que uma nova era se iniciou a 4 de outubro de 1957. Porém, no contexto presente, toda a nossa exuberante conversa pós-Sputnik é irrelevante. Se tomarmos como ponto de referência as massas de humanidade, a era vindoura não será a Era do Espaço e sim a Era da Superpopulação”.
Isso foi escrito no final dos anos 50. E o que ocorreu desde então? Uma explosão populacional como nunca se deu antes na História. O Planeta atingiu, em outubro de 2011, a espetacular cifra de 7 bilhões de habitantes. Projeções feitas para 2016 – ou seja, para num piscar de olhos, para o ano da próxima Olimpíada, depois da de Londres de 2012, a do Rio de Janeiro – seremos dez bilhões de tripulantes na espaçonave Terra!!! Não vou sequer entrar nas questões logísticas para alimentar, proteger e proporcionar oportunidades de uma vida decente a este monumental contingente.
Vejam só, foram necessários pelo menos 13 mil anos – contando a partir da data que se convencionou como a do surgimento das primeiras comunidades “civilizadas” – para que o mundo chegasse ao primeiro bilhão de habitantes, o que ocorreu em 1850. Para chegar ao segundo bilhão, em 1925, passaram-se apenas reles 75 anos. E a despeito de duas guerras mundiais, de guerras localizadas, de guerras civis etc., que causaram estimados 150 milhões de mortes, bastaram só 37 anos para se chegar ao terceiro bilhão, em 1962. Para o quarto, em 1975, transcorreram 13 anos. Para o quinto, em 1985, foram doze. Para o sexto, em 1998, foram, de novo, treze anos, e o mesmo tempo para se chegar ao sétimo, em outubro de 2011.
Há tempos, especialistas vêm chamando a atenção para o problema, sem que se lhes dê ouvido – ou por falta de alternativas (por enquanto a única aceitável seria uma tentativa de conscientização das pessoas para que controlassem e reduzissem o número de filhos) ou, o que é mais comum, por alienação da imensa maioria quanto à questão.
O professor e economista francês Renê Dumont, por exemplo, em entrevista publicada pela revista “Visão”, na edição de 25 de setembro de 1972, constatou: “É muito difícil deter o crescimento demográfico (...)”. E, na sequência advertiu: “...No entanto, é uma questão de sobrevivência da humanidade. O problema se torna dramático”. Se o era naquela ocasião, quando o mundo não havia alcançado ainda os 4 bilhões de habitantes, imaginem agora!
Retorno ao livro de Aldous Huxley, “Volta ao Admirável Mundo Novo”, para transcrever mais este profético parágrafo: “É diante desse sinistro cenário biológico que se desenrolam os dramas políticos, econômicos, culturais e psicológicos do nosso tempo. À medida que se escoar o século XX e os novos bilhões se acrescentarem aos já existentes (haverá mais de cinco bilhões e meio de homens quando minha neta tiver 50 anos) este cenário biológico avançará”. Huxley, que não era nenhum primor de otimismo, errou, e errou feio quanto à sua previsão familiar. O mundo chegou ao quinto bilhão de habitantes quase uma década antes da neta completar 50 anos. Voltarei, certamente, ao inmstigante (e preocupante) tema.
Boa leitura.
O Editor.
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Contribuí pouco para a superpopulação: tive apenas um filho.E foi intencional.
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