quarta-feira, 4 de agosto de 2010


Lucidez

* Por Alex Brasil

Não consigo ver o mundo
através do ópio
ou de qualquer vício.
Não sou passageiro da ilusão
ou de qualquer artifício.
Não consigo fugir na insensatez,
nas miragens, falsas felicidades,
em qualquer embriaguez
que me proteja da realidade.
Todas as fugas,
embora quisesse,
eu nem tentei,
de tão preso que estou
às garras do real absoluto,
feito de vermes e dentes, devorando flores;
de vida e morte em eterna luta
sobre a face do mundo.
Minha sensibilidade
em carne viva
em nervos expostos,
em neurônios ardentes
não repousa na quimera,
nas utopias, filosofias ou religiões.
Deus me fez poeta da antítese,
da vida fogo-e-gelo, sem igualdade;
fez-me prisioneiro das paixões
que não cabem no computador,
a retina fixa na realidade
em eterna ebulição de ódio e amor,
os olhos em torturante fixidez
a ver o mundo em noite e clarão
esvaindo-me o coração
na mais terrível, inescapável lucidez.

* Poeta, publicitário e membro da Academia Maranhense de Letras. Tem duas dezenas de livros publicados

Um comentário:

  1. Também não consigo conviver com nenhuma droga,só com a droga da realidade. Pode até ser mais fácil uma dose de bebida, de...sei lá o quê, mas acho que minha loucura já me basta.
    Gostei muito do seu poema, Alex.
    Abraços

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