sábado, 5 de junho de 2010


O poeta aos cinqüenta anos

* Por Luiz Carlos Monteiro

1

São cinco décadas
que pareceram
mais cinco séculos

a idade dele
no ano invicto
de dois mil e sete

poeta em trânsito
a remover-se
nesta cidade

mauriciana
de mar e plano
que é o Recife

sempre atento
ao urbano
de suas tribos

nunca esquecido
da terra-matriz
que foi Sertânia

dos arredores
de sítio e mata
da sua infância

em Cacimbinha
no Rio da Barra
ou Jacuzinho.

2

P
ercurso estreito
este que fez
do nascimento
até aqui:

da clara infância
à juventude
mais malograda
que desregrada,

de tantos nadas
e tantos nãos
que enfrentou
sem se dobrar,

veredas falsas
e traiçoeiras
que desvendou
sem vacilar,

abraços frouxos
que devolveu
sem comoção
nem confiar.

3

Caminho raso
e enviesado
de nordestino
tímido e ambíguo,

pretenso e falho
como escritor.

Caminho obscuro
de estudante
desnorteado
e presunçoso,
e assim frustrado
como doutor.

4

Em cinco décadas
que se estenderam
quais cinco séculos
pagou bem caro
sua performance
desintegrada
em estilhaços
da agonia
louca e diária,
sem calmaria
mas necessária
da vida prática;

pagou com juros
sua poética
fragmentada
entre a escrita
precisa e rara
que concebeu
e o resultado
tacanho e parco
dessa poesia
que cometeu.

* Poeta, crítico literário e ensaísta, blog www.omundocircundande.blogspot.com

Um comentário:

  1. Análise ácida e depressiva de uma existência, e ao mesmo tempo um personagem cheio de coragem.

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