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Vida diante da tela
* Por Fernando “Yanmar” Narciso
Desde as saudosas Telefunkens e Philco-Fords a válvula, até essas televisões de LCD de imagem esticada e tão nítida que chega a ser ofuscante, esse aparelho tem sido responsável pela alienação generalizada de zilhões de pessoas ao redor do mundo.
Os menos jovens (hoje em dia é politicamente incorreto chamar alguém de velho) se lembram com saudades dos tempos que a televisão tinha não mais que 5 canais. Bons tempos aqueles em que a gente tinha que se levantar pra mudar o canal. Aquele botão enorme que fazia som de catraca de ônibus toda vez que se girava. E o que o caixote nos mostrava naqueles tempos? Os programas de auditório, onde qualquer coisa era desculpa para mostrar mulheres seminuas (reclamam hoje dos frutos da tal “bundalização” da cultura brasileira nos anos 90, mas isso vem de looooonga data...), enquanto um palhaço com um disco de telefone (lembram dos telefones de disco?) e uma buzina de vendedor de pão pendurados no pescoço esculachava seus convidados. Éééééééé, o Velho Guerreiro...
E que tal o Bolinha, que fazia exatamente a mesma coisa que o Chacrinha, mas em vez de se vestir de palhaço, se vestia igual o Ace Ventura? Que tal o Gugu, que no início de carreira dançava com o Pintinho Amarelinho e a Galinha Azul no palco?
Faustão e Jô Soares, no tempo que eles ainda eram engraçados? E o Silvio Santos, que ocupava a programação de Domingo praticamente inteira, sendo... Silvio Santos?
De lá pra cá, pouca coisa mudou – apenas os apresentadores prosseguem competindo entre si pra ver quem consegue ser o mais inconveniente e puxa-saco de famosos.
Programação esportiva... Sempre achei que programas como Esporte Espetacular, Alterosa Esportes e afins deveriam se chamar Futebol Espetacular e Alterosa Futebol, dado ao ênfase quase exclusivo dado a esse esporte. Não é à toa que o Brasil é um dos maiores azarões das Olimpíadas, brasileiro só corre atrás de bola se ela estiver no chão.
E as novelas, então? Catequizando milhões de brasileiros há mais de 50 anos. Todas elas são universos paralelos dignos do Spielberg, onde ninguém fala, age, trabalha, respira ou se veste como brasileiro. Até os mendigos têm Diploma em Língua Portuguesa na maioria das novelas, em particular nas da Globo, e se bobearem, poderiam dar um banho em qualquer professor de Inglês também.
Há alguns anos, um grande intelectual chamado Ratinho disse a ilustre frase: “Quem quiser programação de qualidade, que assine TV a cabo”. Naqueles tempos, quando tudo era novidade, poderia até ser. Mas agora, que quase todo mundo pode pagar por uma (isso sem falar nas “TVs a gato” espalhadas pelos morros), os canais por assinatura viraram basicamente extensões dos canais abertos, ou seja, é quase impossível ficar num mesmo canal por 15 minutos seguidos. É certo que ainda tem um ou outro canal digno de seus seguidores, mas a grande maioria resolveu “seguir a maré” e moldar a sua programação de acordo com o gosto que nós supostamente temos. A proliferação de Reality Shows e desenhos cada vez menos acolhedores e mais escrachados nesses canais, sem falar nos filmes que SEMPRE voltam, acabaram por estagnar a programação e levar alguns canais outrora gloriosos para a areia movediça.
Não é de se estranhar que nessa década a TV tenha deixado de ser o maior meio de comunicação, e esteja perdendo cada vez mais espaço para o computador. Os responsáveis pela programação mais parecem um bando de sapos com olhos vendados e narizes tapados tentando pescar uma mosca com a língua num quarto de luzes apagadas. Há tempos eles pararam de se importar com nós, pobres telespectadores. A única coisa que tem valor pra essa gente é o IBOPE, mais nada. Fomos transformados em números numa tela, em estatísticas. Nesses quase 60 anos de TV no Brasil, as emissoras aprenderam a sentir pavor de correr riscos, por isso tem cada vez menos gente com os olhos na tela. Se eles pretendem recuperar o fôlego, digo, se eles querem MESMO ganhar mais espaço, creio que a única solução seria apagar tudo. Encerrar todos os programas existentes e recomeçar a programação toda do zero. Afinal, não é possível que TODA a criatividade dos produtores, roteiristas, diretores, apresentadores e atores tenha desaparecido. Se as emissoras não tiverem coragem de se arriscar de forma tão colossal, seria melhor terminarem de bater os pregos no caixão de plástico preto.
Ps: Vocês provavelmente devem ter notado a falta de críticas aos telejornais e à programação infantil. Esses serão os temas de minhas próximas crônicas.
* Fernando Yanmar Narciso, 25 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com
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* Por Fernando “Yanmar” Narciso
Desde as saudosas Telefunkens e Philco-Fords a válvula, até essas televisões de LCD de imagem esticada e tão nítida que chega a ser ofuscante, esse aparelho tem sido responsável pela alienação generalizada de zilhões de pessoas ao redor do mundo.
Os menos jovens (hoje em dia é politicamente incorreto chamar alguém de velho) se lembram com saudades dos tempos que a televisão tinha não mais que 5 canais. Bons tempos aqueles em que a gente tinha que se levantar pra mudar o canal. Aquele botão enorme que fazia som de catraca de ônibus toda vez que se girava. E o que o caixote nos mostrava naqueles tempos? Os programas de auditório, onde qualquer coisa era desculpa para mostrar mulheres seminuas (reclamam hoje dos frutos da tal “bundalização” da cultura brasileira nos anos 90, mas isso vem de looooonga data...), enquanto um palhaço com um disco de telefone (lembram dos telefones de disco?) e uma buzina de vendedor de pão pendurados no pescoço esculachava seus convidados. Éééééééé, o Velho Guerreiro...
E que tal o Bolinha, que fazia exatamente a mesma coisa que o Chacrinha, mas em vez de se vestir de palhaço, se vestia igual o Ace Ventura? Que tal o Gugu, que no início de carreira dançava com o Pintinho Amarelinho e a Galinha Azul no palco?
Faustão e Jô Soares, no tempo que eles ainda eram engraçados? E o Silvio Santos, que ocupava a programação de Domingo praticamente inteira, sendo... Silvio Santos?
De lá pra cá, pouca coisa mudou – apenas os apresentadores prosseguem competindo entre si pra ver quem consegue ser o mais inconveniente e puxa-saco de famosos.
Programação esportiva... Sempre achei que programas como Esporte Espetacular, Alterosa Esportes e afins deveriam se chamar Futebol Espetacular e Alterosa Futebol, dado ao ênfase quase exclusivo dado a esse esporte. Não é à toa que o Brasil é um dos maiores azarões das Olimpíadas, brasileiro só corre atrás de bola se ela estiver no chão.
E as novelas, então? Catequizando milhões de brasileiros há mais de 50 anos. Todas elas são universos paralelos dignos do Spielberg, onde ninguém fala, age, trabalha, respira ou se veste como brasileiro. Até os mendigos têm Diploma em Língua Portuguesa na maioria das novelas, em particular nas da Globo, e se bobearem, poderiam dar um banho em qualquer professor de Inglês também.
Há alguns anos, um grande intelectual chamado Ratinho disse a ilustre frase: “Quem quiser programação de qualidade, que assine TV a cabo”. Naqueles tempos, quando tudo era novidade, poderia até ser. Mas agora, que quase todo mundo pode pagar por uma (isso sem falar nas “TVs a gato” espalhadas pelos morros), os canais por assinatura viraram basicamente extensões dos canais abertos, ou seja, é quase impossível ficar num mesmo canal por 15 minutos seguidos. É certo que ainda tem um ou outro canal digno de seus seguidores, mas a grande maioria resolveu “seguir a maré” e moldar a sua programação de acordo com o gosto que nós supostamente temos. A proliferação de Reality Shows e desenhos cada vez menos acolhedores e mais escrachados nesses canais, sem falar nos filmes que SEMPRE voltam, acabaram por estagnar a programação e levar alguns canais outrora gloriosos para a areia movediça.
Não é de se estranhar que nessa década a TV tenha deixado de ser o maior meio de comunicação, e esteja perdendo cada vez mais espaço para o computador. Os responsáveis pela programação mais parecem um bando de sapos com olhos vendados e narizes tapados tentando pescar uma mosca com a língua num quarto de luzes apagadas. Há tempos eles pararam de se importar com nós, pobres telespectadores. A única coisa que tem valor pra essa gente é o IBOPE, mais nada. Fomos transformados em números numa tela, em estatísticas. Nesses quase 60 anos de TV no Brasil, as emissoras aprenderam a sentir pavor de correr riscos, por isso tem cada vez menos gente com os olhos na tela. Se eles pretendem recuperar o fôlego, digo, se eles querem MESMO ganhar mais espaço, creio que a única solução seria apagar tudo. Encerrar todos os programas existentes e recomeçar a programação toda do zero. Afinal, não é possível que TODA a criatividade dos produtores, roteiristas, diretores, apresentadores e atores tenha desaparecido. Se as emissoras não tiverem coragem de se arriscar de forma tão colossal, seria melhor terminarem de bater os pregos no caixão de plástico preto.
Ps: Vocês provavelmente devem ter notado a falta de críticas aos telejornais e à programação infantil. Esses serão os temas de minhas próximas crônicas.
* Fernando Yanmar Narciso, 25 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com
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Quando você fala em novelas, lembro-me de
ResponderExcluirum questionamento que minha mãe levantou
há tempos...ela ficava impressionada com
a facilidade que o núcleo pobre tinha em
andar de táxi pra cima e pra baixo.
E os pobres do Leblon? Eles viviam do quê?
E pode acreditar... muita gente acreditava
naquilo ao pé da letra.
E não é esse o papel das novelas? Iludir
àqueles que preferem fugir da realidade.
Manda mais Fernando!
Beijos
Com toda essa repetição, prefiro ficar longe da TV.
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