Caro Poeta
* Por Alberto Cohen
Você não vê que seus olhos de devassar sentimentos
são periscópios voltados para o mais fundo da alma,
radiografias de coisas que jazem bem escondidas
debaixo do faz-de-conta que maquila tantas vidas?
Quantos anos envidados para amordaçar lembranças,
acorrentar o passado no porão do sofrer menos,
e, de repente, um poema, abrindo frestas nas portas,
liberta mil pesadelos, revive paixões já mortas
que tomam conta da casa, pulam muros, saem na rua
em busca das esperanças que, há muito, foram perdidas,
mas, sempre, estiveram perto, vestidas de alegorias,
cartas, olhares, sorrisos, álbuns de fotografias.
Melhor não ler com seus olhos de devassar sentimentos,
melhor não juntar seus versos com o que dorme na alma.
Escondido no silêncio das lágrimas não choradas,
manter, para sempre, o livro com as duas capas fechadas.
• Poeta e escritor paraense
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
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