

Quem é Deus?*
**Por José Calvino de Andrade Lima
No Farol da Mata foram presas diversas pessoas, banqueiros de jogo de azar, cambistas, inclusive o escritor que criticava a revolução, dizendo ter sido um golpe militar. A polícia apreendeu diversos panfletos que estavam sendo distribuídos em praça pública, um deles era sobre a divindade de Deus. Os guardas municipais arrancavam as propagandas coladas nos postes, muros, prédios da Prefeitura... O povo se revoltava com a prisão do escritor. Chamavam o prefeito de quizila, o delegado de polícia de alcoviteiro, o cônego de pedófilo. Estava igual ao Estado Novo de Getúlio Vargas. Existia a censura oficial através do então DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda).
Novamente os muros foram pichados e panfletos foram colados até na Igreja. As beatas diziam “ser o fim do mundo fazer aquilo na casa de Deus”... Os carolas se benziam, fazendo o sinal-da-cruz: “O escritor é ateu, Deus me livre querer negócio com ele. Tenho filhos pra criar...” “Minha Nossa Senhora, por que prenderam o escritor?” “Eles prendem quem não faz mal ao povo, por isso nos vem a dúvida: aonde iremos nós? quem é Deus?
Quem é Deus?
Apesar dos avanços da humanidade, continuamos a indagar e questionar a presença de um ser superior entre nós. Não conseguimos avançar um milímetro em toda esta incógnita universal. Pregamos e acreditamos em dogmas e leis que não são mais condizentes com o conhecimento humano em relação ao universo e sua evolução. Continuamos a pregar o cristianismo das cruzadas, que em sua época conduziu o homem à idade das trevas. Sendo estas as verdades divulgadas e aceitas.
Um atraso de centenas de anos, onde o simples discordar implicava em um tribunal de inquisição, assim a doutrina cristã através dos homens desvirtuou os ensinamentos de Jesus Cristo. O jogo do poder da igreja atropelou a tudo e a todos, jogando-nos às suas pseudosofias, fazendo-nos acreditar que ter fé era obrigação de todos.
No início da humanidade, com os medos e o desconhecimento dos fenômenos naturais, aliados à falta de uma estrutura jurídica estabelecida, encontraram um terreno fértil para apregoar-se as leis fundamentais, para a propagação de um conceito religioso, criando Deuses mitológicos, politeístas e com poderes inconcebíveis aos mortais.
O desenvolvimento através dos séculos e milênios mudou alguns desses dogmas. Mas ainda assistimos o proliferar de inúmeras seitas, crenças e religiões (os chamados no Brasil nos anos 50 de Nova Seita), sempre no embasamento da presença do divino entre nós, muitas vezes fugindo a uma linha da razão e da lógica.
Temos um Deus que é a nossa imagem e semelhança, em um trono divino e com poderes sobre as forças do universo, cercado de uma hierarquia dos santos, anjos, querubins e espíritos de luz. Esses conceitos, divulgados através da humanidade, persistem até os dias atuais.
Evoluímos no campo científico, passamos a conhecer com maior profundidade o universo e sua mágica na existência do infinito. E, mesmo assim, não passamos a conhecer a nossa realidade no âmbito do universo.
São bilhões de galáxias, trilhões de planetas e uma infinidade de sistemas solares.
Apesar de tudo isso, continuamos a questionar, Quem é Deus? Muitas são as atribuições a ele concebidas. Os nossos infortúnios e suas graças são predeterminadas e ditadas, não obstante as tantas injustiças cometidas à raça humana, temos terremotos, enchentes, guerras e grandes catástrofes. Sempre atribuímos esse poder decisório a Deus.
Assim, a fé se fez presente ao longo da história universal, independente de crenças ou de correntes a seguir: O dedo de Deus, nos conduz e dita-nos as suas leis e vontades, sempre apregoando as suas bondades. Fazendo-nos temer ousar em discordar. Acreditar sem ver? Esse é o verdadeiro jogo da fé. Os registros das manifestações divinas foram amplamente divulgados através das crenças religiosas.
Assim, os homens narraram e descreveram o que eles acreditavam ser o contato do divino com os mortais. No mar morto alguns pergaminhos encontrados falam com exatidão sobre esse fascinante contato entre os homens e a linguagem divina. De Buda a Cristo e ao profeta Maomé, as religiões criaram raízes e foram amplamente aceitas, não obstante a todo desconhecimento da nossa existência. A morte? Essa fascinante e desconhecida incógnita, independente de credo, nos aproxima da presença de Deus. Para que isso ocorra, temos que seguir mesmo que obrigatoriamente os seus ensinamentos. A eterna busca da paz celeste nos obriga a aceitar como verdade absoluta os seus ensinamentos.
Deus é amor. Essa é a virtude decantada ao longo de nossa existência. Foi assim que aprendemos a deslumbrar essa luz.
Todavia nos agigantamos no aprendizado da intolerância e da insensatez, marcas registradas dos seres humanos de ambos os hemisférios. As religiões de nada serviram para edificarmos um aprendizado melhor e pregamos palavras soltas, relatadas em livros sagrados. Apesar de todo nosso desconhecimento em relação à onipresença e à onipotência, divina, não conseguimos entender o sacrifício imposto a Jesus Cristo, que teve a sua presença marcada na bondade e no verdadeiro amor. Conseguimos desvirtuar todos os seus ensinamentos, não colhendo o fruto daquilo que propôs a sua vinda a este planeta. Não absorvemos um só milímetro de suas verdades. Continuamos a não entender este fantástico mundo em que vivemos, e, com toda religiosidade, continuamos a não saber Quem é Deus?
Aprendemos ao longo dos séculos que a figura abstrata do criador é quem tem os poderes sobre os destinos e desígnios. E que é dele a sua bondade, sua misericórdia e o seu perdão. Tanto nos abençoa como pode nos jogar uma eterna maldição.
Um Deus sem misericórdia e impiedoso, capaz de amaldiçoar uma geração inteira, fazendo que descendentes paguem pelos pecados dos seus antepassados.
Aprendemos que com sua bondade infinita ele é capaz de abençoar os seus escolhidos! Demonstrando assim uma parcialidade nos destinos dos filhos de ambos os hemisférios, tendo alguns a vida alicerçada na plenitude da felicidade, na estrutura familiar e com qualidade de vida boa. Outros são eternamente subjugados e espoliados, jogados à própria sorte, sem a interferência, nem a misericórdia do divino.
Todos os fatos ligados aos fenômenos naturais ou não, são atribuições de suas vontades: as grandes catástrofes, os desastres, as epidemias e os fenômenos naturais, ou seja, nada neste universo funciona sem o seu consentimento, nos fazendo acreditar que há muito as forças maléficas encontram-se inertes sem precisar atuar, pois o destino do planeta encontra-se só nas mãos de Deus. Mesmo que isto se traduza em uma infindável injustiça, só nos restando a opção de acreditar sem relutar, sem o direito a questionar e indagar: Quem é Deus?
Assim a humanidade edificou as suas verdades, distanciando-se sobre a real razão de nossa existência, a nossa presença e qual a função da vida no planeta terra. Aonde iremos nós? Quem é Deus?
* Capítulo XVIII do livro "Drogas & Crimes", ed. do autor (2003) - pp. 60-4.
Gravado em disco, mar 2003.
** Escritor, poeta e teatrólogo
**Por José Calvino de Andrade Lima
No Farol da Mata foram presas diversas pessoas, banqueiros de jogo de azar, cambistas, inclusive o escritor que criticava a revolução, dizendo ter sido um golpe militar. A polícia apreendeu diversos panfletos que estavam sendo distribuídos em praça pública, um deles era sobre a divindade de Deus. Os guardas municipais arrancavam as propagandas coladas nos postes, muros, prédios da Prefeitura... O povo se revoltava com a prisão do escritor. Chamavam o prefeito de quizila, o delegado de polícia de alcoviteiro, o cônego de pedófilo. Estava igual ao Estado Novo de Getúlio Vargas. Existia a censura oficial através do então DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda).
Novamente os muros foram pichados e panfletos foram colados até na Igreja. As beatas diziam “ser o fim do mundo fazer aquilo na casa de Deus”... Os carolas se benziam, fazendo o sinal-da-cruz: “O escritor é ateu, Deus me livre querer negócio com ele. Tenho filhos pra criar...” “Minha Nossa Senhora, por que prenderam o escritor?” “Eles prendem quem não faz mal ao povo, por isso nos vem a dúvida: aonde iremos nós? quem é Deus?
Quem é Deus?
Apesar dos avanços da humanidade, continuamos a indagar e questionar a presença de um ser superior entre nós. Não conseguimos avançar um milímetro em toda esta incógnita universal. Pregamos e acreditamos em dogmas e leis que não são mais condizentes com o conhecimento humano em relação ao universo e sua evolução. Continuamos a pregar o cristianismo das cruzadas, que em sua época conduziu o homem à idade das trevas. Sendo estas as verdades divulgadas e aceitas.
Um atraso de centenas de anos, onde o simples discordar implicava em um tribunal de inquisição, assim a doutrina cristã através dos homens desvirtuou os ensinamentos de Jesus Cristo. O jogo do poder da igreja atropelou a tudo e a todos, jogando-nos às suas pseudosofias, fazendo-nos acreditar que ter fé era obrigação de todos.
No início da humanidade, com os medos e o desconhecimento dos fenômenos naturais, aliados à falta de uma estrutura jurídica estabelecida, encontraram um terreno fértil para apregoar-se as leis fundamentais, para a propagação de um conceito religioso, criando Deuses mitológicos, politeístas e com poderes inconcebíveis aos mortais.
O desenvolvimento através dos séculos e milênios mudou alguns desses dogmas. Mas ainda assistimos o proliferar de inúmeras seitas, crenças e religiões (os chamados no Brasil nos anos 50 de Nova Seita), sempre no embasamento da presença do divino entre nós, muitas vezes fugindo a uma linha da razão e da lógica.
Temos um Deus que é a nossa imagem e semelhança, em um trono divino e com poderes sobre as forças do universo, cercado de uma hierarquia dos santos, anjos, querubins e espíritos de luz. Esses conceitos, divulgados através da humanidade, persistem até os dias atuais.
Evoluímos no campo científico, passamos a conhecer com maior profundidade o universo e sua mágica na existência do infinito. E, mesmo assim, não passamos a conhecer a nossa realidade no âmbito do universo.
São bilhões de galáxias, trilhões de planetas e uma infinidade de sistemas solares.
Apesar de tudo isso, continuamos a questionar, Quem é Deus? Muitas são as atribuições a ele concebidas. Os nossos infortúnios e suas graças são predeterminadas e ditadas, não obstante as tantas injustiças cometidas à raça humana, temos terremotos, enchentes, guerras e grandes catástrofes. Sempre atribuímos esse poder decisório a Deus.
Assim, a fé se fez presente ao longo da história universal, independente de crenças ou de correntes a seguir: O dedo de Deus, nos conduz e dita-nos as suas leis e vontades, sempre apregoando as suas bondades. Fazendo-nos temer ousar em discordar. Acreditar sem ver? Esse é o verdadeiro jogo da fé. Os registros das manifestações divinas foram amplamente divulgados através das crenças religiosas.
Assim, os homens narraram e descreveram o que eles acreditavam ser o contato do divino com os mortais. No mar morto alguns pergaminhos encontrados falam com exatidão sobre esse fascinante contato entre os homens e a linguagem divina. De Buda a Cristo e ao profeta Maomé, as religiões criaram raízes e foram amplamente aceitas, não obstante a todo desconhecimento da nossa existência. A morte? Essa fascinante e desconhecida incógnita, independente de credo, nos aproxima da presença de Deus. Para que isso ocorra, temos que seguir mesmo que obrigatoriamente os seus ensinamentos. A eterna busca da paz celeste nos obriga a aceitar como verdade absoluta os seus ensinamentos.
Deus é amor. Essa é a virtude decantada ao longo de nossa existência. Foi assim que aprendemos a deslumbrar essa luz.
Todavia nos agigantamos no aprendizado da intolerância e da insensatez, marcas registradas dos seres humanos de ambos os hemisférios. As religiões de nada serviram para edificarmos um aprendizado melhor e pregamos palavras soltas, relatadas em livros sagrados. Apesar de todo nosso desconhecimento em relação à onipresença e à onipotência, divina, não conseguimos entender o sacrifício imposto a Jesus Cristo, que teve a sua presença marcada na bondade e no verdadeiro amor. Conseguimos desvirtuar todos os seus ensinamentos, não colhendo o fruto daquilo que propôs a sua vinda a este planeta. Não absorvemos um só milímetro de suas verdades. Continuamos a não entender este fantástico mundo em que vivemos, e, com toda religiosidade, continuamos a não saber Quem é Deus?
Aprendemos ao longo dos séculos que a figura abstrata do criador é quem tem os poderes sobre os destinos e desígnios. E que é dele a sua bondade, sua misericórdia e o seu perdão. Tanto nos abençoa como pode nos jogar uma eterna maldição.
Um Deus sem misericórdia e impiedoso, capaz de amaldiçoar uma geração inteira, fazendo que descendentes paguem pelos pecados dos seus antepassados.
Aprendemos que com sua bondade infinita ele é capaz de abençoar os seus escolhidos! Demonstrando assim uma parcialidade nos destinos dos filhos de ambos os hemisférios, tendo alguns a vida alicerçada na plenitude da felicidade, na estrutura familiar e com qualidade de vida boa. Outros são eternamente subjugados e espoliados, jogados à própria sorte, sem a interferência, nem a misericórdia do divino.
Todos os fatos ligados aos fenômenos naturais ou não, são atribuições de suas vontades: as grandes catástrofes, os desastres, as epidemias e os fenômenos naturais, ou seja, nada neste universo funciona sem o seu consentimento, nos fazendo acreditar que há muito as forças maléficas encontram-se inertes sem precisar atuar, pois o destino do planeta encontra-se só nas mãos de Deus. Mesmo que isto se traduza em uma infindável injustiça, só nos restando a opção de acreditar sem relutar, sem o direito a questionar e indagar: Quem é Deus?
Assim a humanidade edificou as suas verdades, distanciando-se sobre a real razão de nossa existência, a nossa presença e qual a função da vida no planeta terra. Aonde iremos nós? Quem é Deus?
* Capítulo XVIII do livro "Drogas & Crimes", ed. do autor (2003) - pp. 60-4.
Gravado em disco, mar 2003.
** Escritor, poeta e teatrólogo
Esse é mais um livro ótimo de José Calvino. Mas Drogas & Crimes tem muito mais. Num desfecho os leitores ficarão sabendo quem são os verdadeiros assassinos de duas adolescentes do grande Recife.
ResponderExcluirSó lendo para entender. Muito bom!
Parabéns!
Beijos de sua fã,
Dilma Carras
Esse é um questionamento "pra lá de metro" diria
ResponderExcluirmeu avô.
Para ele, que era semi-analfabeto por ocasião
e autodidata por disposição, Deus estava representado
nos ventos que trazem as tormentas, no sol que crestava
o chão e no verme que corrói o homem...
É uma linda definição.
Beijão Zé.
No dizer de Buimarães: "Realmente a incógnita persiste"! "Só lendo para entender..."
ResponderExcluirJá o crime não foi uma incógnita para a polícia...
Mais uma vez, fico muitíssimo contente.
Obrigado, queridas!
Beijos
Há quem não tenha coragem nem de perguntar. Questionar já seria uma grande heresia. Reflitamos pois.
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