segunda-feira, 2 de agosto de 2010




Ausência

* Por Aliene Coutinho



Conheci a Rute na casa de amigas. Sorriso fácil, simpática, cheia de histórias. Daquelas que a gente conhece e na mesma hora se sente íntima. E assim, ela me contou por mais uma fase de sua vida... De repente, ela se viu sozinha. Filhos para criar, contas por pagar, reuniões de escola, idas ao médico, dentista, fonos e terapeutas, trabalho. E os dias viraram semanas, meses, anos. No começo era tudo muito difícil, choro, depressão, vontade de chutar o balde. Ela achou que não ia dar certo, que a qualquer momento ia perder o controle da situação, afinal sempre pôde contar com a ajuda dele, que agora estava longe e por muito tempo. Depois as coisas foram se acertando, a agenda atrapalhada foi se organizando e o dia parecia mesmo que tinha mais de 24 horas. Ela cuidava dela e de todo resto.
Ainda sobrava tempo para um cinema às quartas-feiras com a amiga solteiríssima que não conseguia descolar um namorado, e as sextas com outra mais solteira ainda para um chope, ou melhor, chopes. Um clube aos domingos, programa com a meninada. A vida seguia seu rumo quebrado de vez em quando por telefonemas longos, e-mails telegráficos, conversas no skipe com direito a câmera e a pequenas viagens para matar a saudade, porque ninguém é de ferro. Mas, a ausência se tornou presente, e ela sabia que era ela e ela. Apenas.
Até que veio a notícia do regresso. Ela se esticou na cama, há tempo dormia atravessada com quatro travesseiros. Foi ao banheiro e começou a reservar espaço na bancada cheia de bugigangas só suas. O Box também deveria voltar a ter espaço para outros xampus e cremes de barbear. No armário, abarrotado apenas por suas roupas, ela nem sabe como isso aconteceu, também foi preciso abrir novas brechas para ternos, camisas e casacos masculinos. Se antes era assim, deveria voltar ao normal.
E ela comprou novas toalhas e lençóis, comprou flores, fez faxina em si mesma e na casa como se fosse receber um hóspede. Preparou um jantar especial, programou um fim de semana diferente, ou igual aos que já vivera com ele. Estava ansiosa. No dia da chegada, o coração disparou feio, ela suou e ficou preocupada: e se a gente não se acostumar mais um com o outro? E se estranhar a presença diária e sentir saudade da saudade?
Quer saber? Perguntou a si mesma e respondeu: vamos nessa! Se já vivemos o que vivemos, juntos e separados, o que vier será apenas mais uma fase. É só dar tempo ao tempo que tudo acaba entrando no eixo, e a gente, se for preciso, apresenta-se e passa a se conhecer, ou se reconhecer, um pouco a cada dia. De novo.


* Jornalista e professora de Telejornalismo

6 comentários:

  1. Aliene, que bom que você voltou. Todos estávamos sentindo a sua falta. Creio que, como eu, você também deva estar decepcionada com o baixo índiuce de participação dos leitores no nosso Literário. Agora entendo porque o Comunique-se nos fechou as portas. Estou cada dia mais desanimado e decepcionado com a falta de comentários e pensando seriamente em parar. Me encheram o saco para que escrevesse sobre as Copas que testemunhei e, agora que estou fazendo isso, só a Mara tem comentado meus textos. Caramba, se nem o futebol motiva os leitores a comentar, não sei mais o que fazer. Dá para entender a razão de nós, escritores, sermos tão pouco valoridaos neste País. Abraços, amiga, e desculpe ter utilizado o espaço sob sua excelente crônica, para este desabafo. Foi muito bom o seu retorno.

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  2. Militamos em ofício quixotesco, meu caro Pedro. E vivas à volta da Aliene.

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  3. Seja bem vinda Aliene!
    Foi publicado aqui sob o título: "Fiteiro Cultural":"Infelizmente alguns escritores, poetas e leitores, ao mostrar o então Fiteiro Cultural saíam às pressas, parecia até que estava mostrando a porta do inferno..." Por isso, devemos estar psicologicamente preparados para essa decepção. A luta continua!
    Abração do,
    José Calvino
    RecifeOlinda

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  4. Cheiro de história biográfica. Escrita de um sopro, tem todo o jeito de espontaneidade. Seja bem-vinda nessa sua nova etapa.

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  5. Caro Pedro, insistir sempre, desistir jamais!!!!
    que tal mudar o layout do blog e até o nome, outro dia precisei passar o nome para minha lista e havia esquecido, é tão difícil, mas vamos continuar. Que cada um de nós façamos a divulgação entre conhecidos e desconhecidos. vamso vencer!!!!!

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  6. Concordo com a Aliene (Bem- vinda!!!) desistir jamais. Vamos enviar e-mails aos amigos e pedir que acessem o Blog. que tal?
    Abraços

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