

Zorba laranja
* Por Daniel Santos
O rapaz era bem apessoado. Alto, forte, bíceps poderosos ... Parecia um latagão de praia! Apesar da aparência, não enganou o policial que, tão logo o avistou, considerou-o altamente suspeito. O tipo não o enganava.
Pediu-lhe, por isso, documentos, perguntou-lhe onde residia, sua filiação e nível de escolaridade. O suspeito respondia com um vozeirão de impressionar o policial, que, no entanto, não se deixou intimidar.
Tipos assim – acreditava – são abusados, enfrentam autoridades, alegam protetores influentes; são, em suma, filhinhos de papai, criaturas que sempre tiveram tudo do bom e do melhor, desprezam a lei..
.
Pois, revistou-o, e nada. Ordenou-lhe arriar a calça, e nada. Mas o policial percebeu o abdômen bem estruturado e coxas de gladiador. Ora, o tipo cuidava bem do corpo, não devia trabalhar. Ah, vagabundo!
As suspeitas cresciam, e o rapaz nada confessava. Desconfiado do volume na cueca, o policial deu o xeque-mate: meteu a mão na zorba laranja e pegou na arma pelo cabo. Pediu, enfim, o telefone do moço.
* Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.
* Por Daniel Santos
O rapaz era bem apessoado. Alto, forte, bíceps poderosos ... Parecia um latagão de praia! Apesar da aparência, não enganou o policial que, tão logo o avistou, considerou-o altamente suspeito. O tipo não o enganava.
Pediu-lhe, por isso, documentos, perguntou-lhe onde residia, sua filiação e nível de escolaridade. O suspeito respondia com um vozeirão de impressionar o policial, que, no entanto, não se deixou intimidar.
Tipos assim – acreditava – são abusados, enfrentam autoridades, alegam protetores influentes; são, em suma, filhinhos de papai, criaturas que sempre tiveram tudo do bom e do melhor, desprezam a lei..
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Pois, revistou-o, e nada. Ordenou-lhe arriar a calça, e nada. Mas o policial percebeu o abdômen bem estruturado e coxas de gladiador. Ora, o tipo cuidava bem do corpo, não devia trabalhar. Ah, vagabundo!
As suspeitas cresciam, e o rapaz nada confessava. Desconfiado do volume na cueca, o policial deu o xeque-mate: meteu a mão na zorba laranja e pegou na arma pelo cabo. Pediu, enfim, o telefone do moço.
* Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.
Qual era o calibre?
ResponderExcluirTexto divertido, leve.
É difícil não sucumbir a
um belo abdômen.
beijos Daniel
Ora se não é o grande Daniel numa incursão rara - e não menos brilhante - pelo humor. Texto maroto com final hilário, sem perder o refinamento e a incrível síntese dos cinco parágrafos. Não mais que isso. E precisa? Parabéns!
ResponderExcluirTexto engraçado, sob constrangimento e com toda arbitrariedade; no final entendi que o policial é pederasta, acertei?, rsrs
ResponderExcluirAbraços Daniel!
Que concisão e sutileza, Daniel! Texto impecável. Parabéns!
ResponderExcluirBeijo
Eu jurava que o policial tinha pegado a arma pelo cano. Com tanto volume na roupa de baixo e nos bícepes, melhor arriscar tudo e mais um pouco. Audácia da boa.
ResponderExcluirÓtimo conto. Quem pode adivinhar o que vai no coração de cada um ?
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