
Outro mito que se vai
Caros leitores, boa tarde.
Costumo dizer, amiúde, que sempre que um escritor morre, e não importa onde, com que idade e nem mesmo a projeção pública que tem, o mundo fica um pouco mais pobre. Quando tomo ciência do fato, invariavelmente faço um registro, uma crônica ou, algumas vezes, dependendo da oportunidade, até mesmo um ensaio.
Perda pior é quando o falecido é uma das figuras mais representativas da literatura contemporânea do seu país. É um potencial de criatividade, de informação e de idéias que deixa de existir e que, por conseqüência, empobrece o mundo das letras.
É certo que, como tudo na vida, este é um campo em que há, e deve haver, constante renovação: uns vêm, outros vão e a vida continua. Porém, mesmo não conhecendo pessoalmente os escritores mortos, encaro suas mortes como irreparáveis perdas pessoais. Coisa de apaixonado por livros!
Nesta sexta-feira, 12 de março, outro mito contemporâneo das letras se foi. Refiro-me a Miguel Delibes (parente remoto do conhecido compositor francês Leo Delibes, de quem seu avô era sobrinho), que morreu, em Valadolid, onde residia, aos 89 anos de idade.
É certo que, por causa de um câncer, que o acometeu há dez anos e que implacavelmente o consumiu, há já um bom tempo não vinha produzindo nada. A bem da verdade, estava mergulhado num certo ostracismo há já um bom tempo, pois a propalada fidelidade dos leitores é, na verdade, apenas mito. Ele é mais volúvel e inconstante que as ondas do mar.
Embora seu ilustre ascendente fosse francês, Miguel Delibes era espanhol, espanholíssimo, apaixonado por seu país e seu povo. Mesmo com esse longo período de ostracismo que marcou os últimos anos da sua vida, é considerado, pelos historiadores de Literatura (no meu entender, com absoluta justiça) um dos maiores expoentes das letras, não somente da Espanha ou da Europa, mas de todo o mundo, a partir da segunda metade do século XX.
Seus livros mais conhecidos são: “La sombra del cipres es alargada”, “El hereje” e “Los santos inocentes”. Para destacar sua importância literária, basta informar que Miguel Delibes (nascido em Valadolid em 1920), recebeu, em 1993, o Prêmio Cervantes, uma espécie de Nobel na Espanha. Essa premiação veio se juntar a tantas outras anteriores, notadamente a “Príncipe das Astúrias”.
Além de escritor, foi, também, jornalista (na verdade, dono de jornal), professor e admirado caricaturista. Sua formação acadêmica, todavia, foi voltada para o Direito e o comércio. A maioria dos romances de Miguel Delibes foi adaptada para o teatro e para o cinema, o que aumentou sua projeção e seu prestígio.
Seus livros são críticos e combativos. Investem contra as injustiças sociais e os males da sociedade espanhola e defendem os excluídos e os necessitados, dos quais seus personagens são autênticos porta-vozes.
Embora seja mais conhecido pelos tantos romances que escreveu, Miguel Delibes deixa extensa obra ensaística, além de saborosas crônicas de viagens, livros de caça e pesca e sobre Castela, região à qual sempre se sentiu profundamente ligado.
O despacho da Agência France Press, que noticia a sua morte, destaca que o festejado escritor espanhol “deixou uma extensa obra que prima pela defesa da natureza, de valores simples do árido mundo rural do centro da Espanha de meados do século XX e em defesa da liberdade individual”.
Para que os leitores tenham uma idéia sobre sua importância, destaco que publicou seu primeiro livro – o romance “La sombra del cipres es alargada” – aos 28 anos, em 1948, e foi, de cara, premiado com o Prêmio Nadal. Era talento puro!
Comentando a morte de Miguel Delibes – que era membro da Real Academia de Espanha e doutor honoris causa de várias universidades locais e da Europa – o ministro de Educação espanhol, Angel Gabilondo, destacou: “Ele nos ensinou que o cuidado da escrita e da palavra também são formas de construir a si mesmo”.
Que esta lição também nos sirva, a todos nós, que temos paixão por literatura e buscamos praticá-la com verdade, competência e integridade. Mas que o mundo ficou, intelectualmente, mais pobre, com a morte de Miguel Delibes, isso, creio, não há como contestar.
Boa leitura.
O Editor.
Caros leitores, boa tarde.
Costumo dizer, amiúde, que sempre que um escritor morre, e não importa onde, com que idade e nem mesmo a projeção pública que tem, o mundo fica um pouco mais pobre. Quando tomo ciência do fato, invariavelmente faço um registro, uma crônica ou, algumas vezes, dependendo da oportunidade, até mesmo um ensaio.
Perda pior é quando o falecido é uma das figuras mais representativas da literatura contemporânea do seu país. É um potencial de criatividade, de informação e de idéias que deixa de existir e que, por conseqüência, empobrece o mundo das letras.
É certo que, como tudo na vida, este é um campo em que há, e deve haver, constante renovação: uns vêm, outros vão e a vida continua. Porém, mesmo não conhecendo pessoalmente os escritores mortos, encaro suas mortes como irreparáveis perdas pessoais. Coisa de apaixonado por livros!
Nesta sexta-feira, 12 de março, outro mito contemporâneo das letras se foi. Refiro-me a Miguel Delibes (parente remoto do conhecido compositor francês Leo Delibes, de quem seu avô era sobrinho), que morreu, em Valadolid, onde residia, aos 89 anos de idade.
É certo que, por causa de um câncer, que o acometeu há dez anos e que implacavelmente o consumiu, há já um bom tempo não vinha produzindo nada. A bem da verdade, estava mergulhado num certo ostracismo há já um bom tempo, pois a propalada fidelidade dos leitores é, na verdade, apenas mito. Ele é mais volúvel e inconstante que as ondas do mar.
Embora seu ilustre ascendente fosse francês, Miguel Delibes era espanhol, espanholíssimo, apaixonado por seu país e seu povo. Mesmo com esse longo período de ostracismo que marcou os últimos anos da sua vida, é considerado, pelos historiadores de Literatura (no meu entender, com absoluta justiça) um dos maiores expoentes das letras, não somente da Espanha ou da Europa, mas de todo o mundo, a partir da segunda metade do século XX.
Seus livros mais conhecidos são: “La sombra del cipres es alargada”, “El hereje” e “Los santos inocentes”. Para destacar sua importância literária, basta informar que Miguel Delibes (nascido em Valadolid em 1920), recebeu, em 1993, o Prêmio Cervantes, uma espécie de Nobel na Espanha. Essa premiação veio se juntar a tantas outras anteriores, notadamente a “Príncipe das Astúrias”.
Além de escritor, foi, também, jornalista (na verdade, dono de jornal), professor e admirado caricaturista. Sua formação acadêmica, todavia, foi voltada para o Direito e o comércio. A maioria dos romances de Miguel Delibes foi adaptada para o teatro e para o cinema, o que aumentou sua projeção e seu prestígio.
Seus livros são críticos e combativos. Investem contra as injustiças sociais e os males da sociedade espanhola e defendem os excluídos e os necessitados, dos quais seus personagens são autênticos porta-vozes.
Embora seja mais conhecido pelos tantos romances que escreveu, Miguel Delibes deixa extensa obra ensaística, além de saborosas crônicas de viagens, livros de caça e pesca e sobre Castela, região à qual sempre se sentiu profundamente ligado.
O despacho da Agência France Press, que noticia a sua morte, destaca que o festejado escritor espanhol “deixou uma extensa obra que prima pela defesa da natureza, de valores simples do árido mundo rural do centro da Espanha de meados do século XX e em defesa da liberdade individual”.
Para que os leitores tenham uma idéia sobre sua importância, destaco que publicou seu primeiro livro – o romance “La sombra del cipres es alargada” – aos 28 anos, em 1948, e foi, de cara, premiado com o Prêmio Nadal. Era talento puro!
Comentando a morte de Miguel Delibes – que era membro da Real Academia de Espanha e doutor honoris causa de várias universidades locais e da Europa – o ministro de Educação espanhol, Angel Gabilondo, destacou: “Ele nos ensinou que o cuidado da escrita e da palavra também são formas de construir a si mesmo”.
Que esta lição também nos sirva, a todos nós, que temos paixão por literatura e buscamos praticá-la com verdade, competência e integridade. Mas que o mundo ficou, intelectualmente, mais pobre, com a morte de Miguel Delibes, isso, creio, não há como contestar.
Boa leitura.
O Editor.
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