

Segundinho joga com centro-avante improvisado *
** Por Renato Manjaterra
Mesmo com um centro-avante da qualidade do Cachorrão “afastado”, o time da Cova continuou sua caminhada.
Domingo fomos para Silvolândia, a dez minutos da quebrada, em duas Kombis e mais um Opala.
Não tinham juiz para indicar (depois da briga da semana passada principalmente...). De forma que o Tina – de Tina Turner, dez anos atrás – foi para o apito. Burro.
Era bem preto, e já entrou em campo queimando uma bombona. O Dichava ainda disse que, pra maconheiro, ele não pagava um pau não.
-Ainda se esse arrombado chegasse com uma cota de quilo, pra fazer a cabeça de todo mundo... – reclamava.
Além de bem preto, tipo cem por cento mesmo, ainda inventou de usar uma camisa da gaviões. Aí era foda.
-Ô, juiz, põe a camisa! – gritava o Valter, o único mais prteto que o Tina. Engraçado é que os brancos não zoavam.
O Tina sabia apitar, o primeiro jogo terminou empatado, mas foi justo. Quem complicou mesmo foi o juizinho do “jogo de fundo”.
A exemplo do Tina, o segundo juiz apitou sem camisa, até aí tudo bem. Aliás, tudo ia bem até o pênalti, no meio do segundo tempo.
Quem estava no alambrado viu o lance. Todo mundo viu. Mas só o safado achou que foi pênalti. E ainda deu amarelo para o nosso zagueiro!
O Guerreiro decidiu trocar o Ninão, que estava mesmo nervoso. E o Ninão, ainda em campo, tirou a camisa que seria usada pelo reserva. A gente tem condução para ir jogar, mas também não somos nenhum Real Madrid. Tem camisa só para quem está em campo.
Foi nessa hora que o salafrário do juiz inventou de dar vermelho para o Ninão, por causa da camisa. Ele saía, mas o outro não poderia entrar.
- Ô, seu safado! Ce também está sem camisa!
-Quem é safado?
E o tempo fechou. A última porrada foi na porta do ônibus. Voltamos rindo, pondo a culpa no Ninão pela derrota. Passamos ao lado da Vila Argentina, uma favela que eu achava até bonitinha, mas onde a gente nunca jogou. Parece que tem sempre um da Cova que está tretado com alguém da Argentina.
-Essa vila é feia pra caralho... – resmungou o Odair, olhando pela janela, como se o barraco dele, ou a quebrada, fosse um luxo, tipo daqueles com água, esgoto tratado...
* Capítulo 9 do romance policial “Colinas, Pará”, edição independente, 1ª edição, Impressão Digital do Brasil, Campinas-SP
** Jornalista e escritor, Autor do livro “Colinas, Pará” com prefácio do Senador Eduardo Suplicy, bacharel em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCAMP, blog http://manjaterra.blogspot.com
** Por Renato Manjaterra
Mesmo com um centro-avante da qualidade do Cachorrão “afastado”, o time da Cova continuou sua caminhada.
Domingo fomos para Silvolândia, a dez minutos da quebrada, em duas Kombis e mais um Opala.
Não tinham juiz para indicar (depois da briga da semana passada principalmente...). De forma que o Tina – de Tina Turner, dez anos atrás – foi para o apito. Burro.
Era bem preto, e já entrou em campo queimando uma bombona. O Dichava ainda disse que, pra maconheiro, ele não pagava um pau não.
-Ainda se esse arrombado chegasse com uma cota de quilo, pra fazer a cabeça de todo mundo... – reclamava.
Além de bem preto, tipo cem por cento mesmo, ainda inventou de usar uma camisa da gaviões. Aí era foda.
-Ô, juiz, põe a camisa! – gritava o Valter, o único mais prteto que o Tina. Engraçado é que os brancos não zoavam.
O Tina sabia apitar, o primeiro jogo terminou empatado, mas foi justo. Quem complicou mesmo foi o juizinho do “jogo de fundo”.
A exemplo do Tina, o segundo juiz apitou sem camisa, até aí tudo bem. Aliás, tudo ia bem até o pênalti, no meio do segundo tempo.
Quem estava no alambrado viu o lance. Todo mundo viu. Mas só o safado achou que foi pênalti. E ainda deu amarelo para o nosso zagueiro!
O Guerreiro decidiu trocar o Ninão, que estava mesmo nervoso. E o Ninão, ainda em campo, tirou a camisa que seria usada pelo reserva. A gente tem condução para ir jogar, mas também não somos nenhum Real Madrid. Tem camisa só para quem está em campo.
Foi nessa hora que o salafrário do juiz inventou de dar vermelho para o Ninão, por causa da camisa. Ele saía, mas o outro não poderia entrar.
- Ô, seu safado! Ce também está sem camisa!
-Quem é safado?
E o tempo fechou. A última porrada foi na porta do ônibus. Voltamos rindo, pondo a culpa no Ninão pela derrota. Passamos ao lado da Vila Argentina, uma favela que eu achava até bonitinha, mas onde a gente nunca jogou. Parece que tem sempre um da Cova que está tretado com alguém da Argentina.
-Essa vila é feia pra caralho... – resmungou o Odair, olhando pela janela, como se o barraco dele, ou a quebrada, fosse um luxo, tipo daqueles com água, esgoto tratado...
* Capítulo 9 do romance policial “Colinas, Pará”, edição independente, 1ª edição, Impressão Digital do Brasil, Campinas-SP
** Jornalista e escritor, Autor do livro “Colinas, Pará” com prefácio do Senador Eduardo Suplicy, bacharel em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCAMP, blog http://manjaterra.blogspot.com
Nossa, já tive muita bronca de peladeiros.
ResponderExcluirO fim de semana era dedicado aos campeonatos, as confraternizações. Literalmente comiam bola.
Até o dia em que vi meu marido "tomar" um baita frango e ri de chorar. Deixa os nossos atletas
se divertirem.
Adorei.
Beijos
História curiosa e bem autêntica no palavriado.
ResponderExcluirDestaco: " Ainda se esse arrombado chegasse com uma cota de quilo, pra fazer a cabeça de todo mundo... " Ótimo! E para compreensão total só mesmo com tradução. Gostei!