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O casal romântico por onde anda?
* Por Seu Pedro
Tenho procurado, incessantemente. nas praças floridas, nas varandas das casas ao cair da tarde, nos ônibus, trens e demais lugares onde possa estar, de mãos dadas, um casal romântico. Não o tenho encontrado. Terá se escondido?
Continuando a busca, até nos barzinhos e nas calçadas das alamedas, tenho procurado, em vão! As praças já não estão tão floridas. As varandas das casas, quando não se escondem por trás de altos muros, estão prisioneiras da modernidade, com grades que preenchem seus arcos. Nas conduções coletivas, as mãos já não se entrelaçam: seguram com firmeza a bolsa. Nos bares espalhados pela cidade, carros estacionados, com potente som ligado, que abafa as frases de amor.
Mas, com toda a modernidade, por onde andará o casal romântico? O amor não pode ser esquecido na mesa de um bar, em que as loiras frias substituem o doce néctar do romantismo. Apressam-se a serem extintos os toques românticos e, em seus lugares, só os “tin-tins” dos copos que ali brindam tudo: o candidato eleito, o time de futebol campeão, o bolão da loteria, as férias sinônimo de ociosidade, os presentes de aniversário...
Poucos brindam o amor eterno, em tempos que as varas cíveis se entopem de pedidos de separação, de pensões alimentícias, de divisão de bens, de tudo que os modernos casais pensam ser de direito. Estes casais cartoriais, que só se combinam na cama, não fizeram um amor resistente como a parede de usina nuclear, ou saboroso como os Pastéis de Santa Clara de receita original dos confeiteiros de Coimbra.
Os bombons, mesmo caseiros, não são mais recheados com licores feitos para cada ocasião, produzidos com os frutos daquela safra. O fruto do amor parece que seca esquecido no galho de uma árvore seca. Poucos casais fazem a colheita e provam de seu sabor. As coisas estão sendo muito materiais.
O tempo de se dizer coisas bonitas, e que despertariam o coração dos que fizeram juras de amor, estão ocupados com os tele-jornais ou as novelas, onde o normal é banalizar o casamento, com cenas de traição.
Os adolescentes crescem pensando no casamento, para depois então poder trair. Foi concebido um tempo que para mim é inconcebível, e nisto agradeço a Deus por não haver proporcionado aos homens e mulheres a vida eterna nesta terra. Não sei se suportaria acompanhar a evolução, testemunhar os novos tempos.
Assim como Diógenes de Sínope, tenho caminhado de lanterna acesa pelos dias, ajudando a luz do sol a iluminar onde possa estar aquele casal. Meus olhos, transformados em olhos de águia, sobrevoam novamente os parques e jardins, que dizem terem sido construídos para que ali se manifeste o romantismo.
Entre vendedores de pipoca, sorveteiros, brinquedos de plástico que substituem os carrinhos artesanais e bonecas de espigas de milho, vendo também os assaltantes que fazem da praça o ganha pão, minha visão esbarra em um casal. Ele, de cabelos brancos e bengala na mão, ela de unhas e cabelos pintados, como é próprio da vaidade conquistadora da mulher.
As mãos enrugadas, e despreocupadas com os atalhos da vida moderna, seguem com os calos se tocando, e vão pelo caminho da felicidade. Em determinado momento, ela, sabendo que ele sempre foi apreciador do belo, pergunta: “O que você gosta mais nesta praça?” Ele olha nos olhos daquela eterna namorada, e com os seus, umedecidos pelas lágrimas, diz: “De você, querida!”.
(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.
* Por Seu Pedro
Tenho procurado, incessantemente. nas praças floridas, nas varandas das casas ao cair da tarde, nos ônibus, trens e demais lugares onde possa estar, de mãos dadas, um casal romântico. Não o tenho encontrado. Terá se escondido?
Continuando a busca, até nos barzinhos e nas calçadas das alamedas, tenho procurado, em vão! As praças já não estão tão floridas. As varandas das casas, quando não se escondem por trás de altos muros, estão prisioneiras da modernidade, com grades que preenchem seus arcos. Nas conduções coletivas, as mãos já não se entrelaçam: seguram com firmeza a bolsa. Nos bares espalhados pela cidade, carros estacionados, com potente som ligado, que abafa as frases de amor.
Mas, com toda a modernidade, por onde andará o casal romântico? O amor não pode ser esquecido na mesa de um bar, em que as loiras frias substituem o doce néctar do romantismo. Apressam-se a serem extintos os toques românticos e, em seus lugares, só os “tin-tins” dos copos que ali brindam tudo: o candidato eleito, o time de futebol campeão, o bolão da loteria, as férias sinônimo de ociosidade, os presentes de aniversário...
Poucos brindam o amor eterno, em tempos que as varas cíveis se entopem de pedidos de separação, de pensões alimentícias, de divisão de bens, de tudo que os modernos casais pensam ser de direito. Estes casais cartoriais, que só se combinam na cama, não fizeram um amor resistente como a parede de usina nuclear, ou saboroso como os Pastéis de Santa Clara de receita original dos confeiteiros de Coimbra.
Os bombons, mesmo caseiros, não são mais recheados com licores feitos para cada ocasião, produzidos com os frutos daquela safra. O fruto do amor parece que seca esquecido no galho de uma árvore seca. Poucos casais fazem a colheita e provam de seu sabor. As coisas estão sendo muito materiais.
O tempo de se dizer coisas bonitas, e que despertariam o coração dos que fizeram juras de amor, estão ocupados com os tele-jornais ou as novelas, onde o normal é banalizar o casamento, com cenas de traição.
Os adolescentes crescem pensando no casamento, para depois então poder trair. Foi concebido um tempo que para mim é inconcebível, e nisto agradeço a Deus por não haver proporcionado aos homens e mulheres a vida eterna nesta terra. Não sei se suportaria acompanhar a evolução, testemunhar os novos tempos.
Assim como Diógenes de Sínope, tenho caminhado de lanterna acesa pelos dias, ajudando a luz do sol a iluminar onde possa estar aquele casal. Meus olhos, transformados em olhos de águia, sobrevoam novamente os parques e jardins, que dizem terem sido construídos para que ali se manifeste o romantismo.
Entre vendedores de pipoca, sorveteiros, brinquedos de plástico que substituem os carrinhos artesanais e bonecas de espigas de milho, vendo também os assaltantes que fazem da praça o ganha pão, minha visão esbarra em um casal. Ele, de cabelos brancos e bengala na mão, ela de unhas e cabelos pintados, como é próprio da vaidade conquistadora da mulher.
As mãos enrugadas, e despreocupadas com os atalhos da vida moderna, seguem com os calos se tocando, e vão pelo caminho da felicidade. Em determinado momento, ela, sabendo que ele sempre foi apreciador do belo, pergunta: “O que você gosta mais nesta praça?” Ele olha nos olhos daquela eterna namorada, e com os seus, umedecidos pelas lágrimas, diz: “De você, querida!”.
(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.
Ainda existem casais românticos e apaixonados, que se amam um ao outro pelo que o outro é, desinteressadamente, mas encontrá-los é a cada dia mais raro. O ritmo da vida engoliu o romantismo, e deu lugar a lógica do mundo material. O sentimento não pode ter valor de face, não pode ser transformado em valor monetário, assim está amplamente desvalorizado. Ninguém quer, assim, mesmo quem o tem, faz o descarte.
ResponderExcluirJovens enamorados não tenho visto mais, mas, recentemente, dois casais de idosos me surpreenderam - um num tradicional restaurante do centro e outro no Teatro Municipal. Mãos dadas, olhos sonhadores, sorrisos de plenitude, carinhos nas faces, eles chamavam a atenção de todos ao relembrarem que lá se foi o tempo em que havia menos asperezas entre homem e mulher. Duas cenas que nunca mais esquecerei, seu Pedro.
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