Carta
à ACL
*
Por Urda Alice Klueger
Sertão
da Enseada de Brito, 27 de maio de 2018.
Ilma.
Confreira
Maria
Tereza Piacentini
Ilmo.
Confrade
Apolinário
Ternes
Ilmo.
Sr. Presidente
Demais
confreiras e confrades
Prezadas
e prezados:
Queria
me dirigir, primeiramente, aos noveis imortais dessa Academia,
começando por Maria Tereza Piacentini. Recebi seu discurso de posse
e o li com prazer e orgulho por ter agora, dentre nós, pessoa que já
chega estendendo a mão e que nem consigo imaginar toda a importância
que virá a ter nesta minha vida de dúvidas gramaticais. Egressa que
sou do tradicional ensino de Português que me deu o inesquecível e
amado professor Evaldo Trierweiller, ao longo do Ginásio e do
Científico, lá na minha cidade natal de Blumenau, nunca até hoje
me atrevi a começar uma frase com pronome oblíquo, por exemplo, a
não ser em algum pecadilho de redes sociais, esses lugares onde como
que se cria uma nova língua, mas continuo cheia de dúvidas sobre a
crase e a colocação pronominal. Maria Tereza me parece alguém a
quem eu vou poder me apegar na hora de tais dúvidas, e que imagino
que será muito mais do que isso: ombro amigo, pessoa de coração
aberto pelo prazer das tantas realizações que ficam tão claras no
seu curriculum, “cheia de graça e beleza”, como diria um poeta
(alguém já disse tal coisa, com certeza), pois já tive o prazer de
conhece-la rapidamente ao vivo e ela me passou a imagem da melhor das
energias e simpatia. Bem-vinda, portanto, Maria Tereza, ao meu
convívio e ao meu coração.
E
sobre Apolinário Ternes, as lembranças antigas! Éramos
adolescentes quando nos conhecemos, mas duvido que ele se recorde de
mim, pois já teria, ele, dois ou três anos mais do que eu, o que é
uma grande diferença nessa altura da vida. Militávamos, ambos, na
JEC (Juventude Estudantil Católica) e Apolinário Ternes era já uma
liderança, capaz de fascinantes palestras de formação, e que se
dava ao trabalho de se abalar da sua Joinville até ao recôndito da
paróquia em que eu vivia, no bairro Garcia, em Blumenau, para nos
fascinar com as suas falas. Eu, sempre sequiosa de aprender, devo
tê-lo incomodado no seu trabalho, vez ou outra, pois escreveu-me uma
ou outra carta, usando uma inconfundível caneta Parker e me
obsequiando com o terno título de “irmãzinha”. Infelizmente,
fomos irremediavelmente separados pelo AI-5, que baniu da vida
brasileira coisas como a JEC (sem contar as TANTAS outras), inclusive
a possível amizade entre dois adolescentes que se atreviam a
participar de grupos onde os jovens podiam se tratar com o título de
irmãos. Somente agora Apolinário Ternes volta à cena da minha
vida, e quero lhe dar as boas-vindas pela sua posse na ACL.
A
todos, quero contar uma coisa que talvez venha a lhes parecer
irrelevante e boba, mas que tem mexido muito com a minha
movimentação. Acho que o melhor é começar pelo começo.
No
dia 21 de dezembro último eu tive um espaço de autógrafos na Feira
do Livro que acontecia em Florianópolis. Chovia MUITO, naquele dia.
Voltando da Feira, já um pouco além das nove da noite, a chuva era
tamanha e o trânsito era tão grande (considere-se a proximidade do
Natal), que dirigir na BR-101 estava sendo uma coisa muito penosa, e
que se tornou terrificante quando, num ponto onde a rodovia tinha
três pistas e eu me via cercada de caminhões por todos os lados,
alguém (que eu não parei para ver quem, claro) me abalroou por
trás, deixando marcas profundas no meu carro, mas muito maiores na
minha emoção. Desde então, tenho fugido quanto posso de andar pela
BR-101 à noite, amedrontada por aquele fato. Que me desculpem e me
perdoem pelas minhas ausências. Imagino que acabarei dominando este
pânico, mas por enquanto meu medo continua muito grande.
Queria
muito ter ido à posse de Maria Tereza e de Apolinário, mas aí
houve ainda outro agravante: a saída do meu novo livro, “No tempo
da magia”, que ocupou e ainda está ocupando todo o meu tempo e
energias.
Era
o que tinha para dizer. Que estejam todos com saúde, paz e
criatividade.
Atenciosamente
Urda
Alice Klueger
*
Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela
UFPR, autora de vinte e cinco livros (o 25º lançado em maio de
2018), entre os quais os romances “Verde Vale” (dez edições),
“No tempo das tangerinas” (12 edições) e “No tempo da Magia”.
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