Resultado,
não objetivo
* Por Pedro J. Bondaczuk
Os conceitos de “sucesso”, em
voga na nossa sociedade, parecem-me bastante vagos e, sobretudo, subjetivos. Há
um equívoco básico nessa conceituação: consideramo-lo um “objetivo” a alcançar,
quando deveria se tratar de um “resultado” de nossas ações e aptidões.
Tentarei explicar-me melhor.
Tomemos como exemplo um clube de futebol profissional de primeira linha, da
Série A do Campeonato Brasileiro. Pelo menos em tese, todos eles almejam, ao
iniciarem a competição, o mesmo fim: serem campeões.
Alguns, no entanto, agem
efetivamente nesse sentido, mediante administração eficiente (sobretudo a das
finanças). Revelam competência na contratação de um treinador reconhecidamente
de “ponta”. Formam um plantel com os melhores atletas para cada posição e com
substitutos à altura para eventualidades. E proporcionam infraestrutura ideal,
como excelentes centros de treinamento, departamento médico reconhecidamente
eficaz, equipamentos de fisioterapia de última geração etc. para o grupo
trabalhar.
Enquanto isso, outros tantos
clubes apostam em aspectos meramente subjetivos, como tradição, tamanho da
torcida, prestígio, história etc.. Descuidam-se, no entanto, de aspectos
práticos, ao contrário da atitude dos reais candidatos ao título.
Têm, por exemplo, um presidente
centralizador, que confunde o patrimônio coletivo com um empreendimento seu,
particular. Além disso, para complicar, esse dirigente toma decisões
irracionais, movidas exclusivamente pela paixão e não raro desperdiça fortunas
nisso.
Contrata mal, tanto o treinador
quanto jogadores. Ao primeiro insucesso, demite o técnico e não raro repete
essa atitude por outras duas, três ou até mais vezes ao longo da competição. Em
contrapartida, não proporciona a menor estrutura de trabalho para a equipe e,
de quebra, atrasa salários, ou paga somente o das “estrelas” do plantel,
dividindo o grupo, que não se sente comprometido com o objetivo a alcançar.
Qual desses clubes tem maiores
chances de sucesso, o que se organizou, planejou e se preparou meticulosamente
para a disputa ou o que confiou, apenas, no acaso ou na tradição? A menos que
ocorra uma dessas casualidades tão características de qualquer competição (o
que é cada vez mais raro) claro que o campeão, com altíssima probabilidade, será
quem agiu para que isso ocorresse. Ambos tinham o mesmíssimo objetivo quando o
campeonato começou. Mas o sucesso não ocorre por acaso, pelo simples fato de
ser meta perseguida. É, sobretudo, resultado.
Isso vale não somente para o
esporte (no nosso exemplo, o futebol profissional). Em todas as atividades
também acontece a mesma coisa, com maior ou menor intensidade. Se eu escrever
um livro pensando apenas no sucesso (e ninguém se propõe a escrever de olho no
fracasso), mas não tiver talento, não me dedicar com afinco ao texto de sorte a
torná-lo próximo da perfeição, o resultado será um rotundo fracasso, tendo, de
lambuja, uma imensa frustração. Só serei bem-sucedido (e mesmo assim o êxito
nunca é garantido) se agir com eficiência nesse sentido. Caso contrário...
Tomemos outro caso, o de um
relacionamento afetivo, por exemplo. Podemos nos interessar por determinada
mulher por dois motivos básicos (embora isso possa ocorrer por “n” outras
razões): irresistível atração sexual ou isto e mais a detecção de inúmeras
virtudes nela, que a qualifiquem para ser nossa parceira por toda a vida e a
mãe dos nossos filhos.
O “sucesso”, no primeiro caso,
será a satisfação da nossa libido. Mas isso apenas será possível se ambos
tivermos compatibilidade física e nos desejarmos com a mesma intensidade, o que
raramente acontece. Caso contrário... poderá redundar num traumático (para
ambos) fracasso. Está aí. Mais uma vez, o sucesso se mostrará resultado, não
mero objetivo.
Aprofundemos nosso exemplo. Se a
nossa intenção for um relacionamento mais profundo e duradouro com determinada
mulher que nos atraia, “até que a morte nos separe”, não bastarão sua anuência
e o conseqüente casamento. Esse vínculo (como qualquer outro) pode ser
desfeito. Teremos que agir, e a vida toda, por anos e mais anos, no sentido de
preservar essa relação e ampliá-la ao máximo.
Como? Sendo responsáveis,
pacientes, compreensivos, cúmplices etc. Caso contrário, em três tempos, à
primeira rusga mais séria, o vínculo afetivo que nos parecia indissolúvel se
dissolverá, fazendo com que cada qual siga seu próprio caminho, o que é,
convenhamos, para lá de comum.
O sucesso, portanto, não será a
aproximação de ambos, o namoro, o casamento, a relação sexual e a geração de
filhos. Será a durabilidade da relação, ou seja, será conseqüência da mútua
paciência, responsabilidade, compreensão, cumplicidade etc.etc. etc. Pense
nisso.
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio
Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor
do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico
de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos
livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos),
além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O
Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com.
Twitter:@bondaczuk
Os áridos e descartáveis relacionamentos humanos chegam a assustar. Tão passageiros quanto o sucesso.
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