Shoppings: templos de
consumo e de desejo (E muitas perguntas)
* Por Emanuel Medeiros Vieira
** Em memória do poeta
Juan Gelman
Os shoppings são a antiga Ágora grega – o coração da cidade. Globalização?
Da indiferença? Cabeças decapitadas, império do tráfico. Um menino me indaga;
“O mal está vencendo?” Olho fixamente nos seus olhos: “Está”. Consolo-o: “Mas
não será para sempre.”
Sociedade do espetáculo, e o templo é de consumo – não para
orar. O que significa isso tudo? “Rolezinhos” – transgressão? Desejo do tênis
de marca? Ou de proclamar: “também existimos?”.
Grito contra a exclusão, voz dos que não têm voz – a periferia berrando?
Não sei. Sei que a baixar o cacete não resolverá. A medida de valor ainda é o
dinheiro, a cor da pele. Sem as posses dos meninos ricos – os vícios são
iguais? Desigualdade? Sim. Viramos apenas consumidores. Não cidadãos. (Não
almejo o panfleto).
E só tenho perguntas. Fim de tudo? De sonhos, ilusões, projetos? Ou não
é nada disso? Um universo dessacralizado – sem fé. Crack, crime, medo – HORROR
-, e lagostas para a governadora.
“O presente. O presente é tudo o que tens como tua possessão. Como Jacó
fez com o anjo: retém-no até que ele te abençoe” (John Greenleaf Whittier). Que tempos!
Queria escrever no epitáfio: sem glória, mas com ternura).
(Brasília, janeiro de 2014*)
**Morreu no México, em 14 de janeiro de 2014, o poeta e jornalista
argentino Juan Gelman. Durante a ditadura militar argentina (1976-1983), Gelman
teve o seu filho ((Marcelo) assassinado. Sua nora, Maria Cláudia, foi sequestrada
enquanto estava grávida e levada ao Uruguai pela “Operação Condor”. Nesse país,
deu à luz e desapareceu. A filha do casal (Macarena) foi entregue a um policial
uruguaio e só teve a identidade revelada em 2000. Grande parte da vida deste
grande poeta e humanista foi dedicada (com comovente paixão e intensidade) a
esclarecer o que havia ocorrido (com sua família e com o seu país), naqueles
tempos tão sinistros e sombrios.
* Romancista,
contista, novelista e poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros
como “Olhos azuis – ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos
caminham comigo nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava
simpósios”, entre outros.
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