Quem lê poesia é mais inteligente
* Por Rodrigo Capella
O leitor de poesia não é qualquer
leitor. Ele é, na grande maioria das vezes, bem mais inteligente e sensitivo do
que o leitor de prosa. Ler obras com começo, meio e fim é muito fácil e chega a
dar tédio. O difícil e atraente é captar a essência, o dinamismo e o
significado dos versos, compostos por diversas sintonias e linguagens.
Tudo isso faz do leitor de poesia
um leitor mais exigente e participativo. Não é raro ele ser o primeiro a
perguntar e questionar determinada questão que está sendo debatida em um evento
literário. Não é raro, também, ele se levantar, ir na frente de todos e ler um
pequeno verso que escreveu.
O leitor de poesia é, portanto,
um poeta, enrustido ou consciente, mas ele é um poeta. Um ser apaixonado por
poesia e flexível aos movimentos contemporâneos. Diferente do leitor de prosa,
ele consegue enxergar tendências, captar informações únicas e vivenciar
momentos puros.
O leitor de poesia também é um
grande escritor. Machado de Assis, Hilda Hilst e o criador de Sherlock Holmes,
Arthur Conan Doyle, por exemplo, escreveram e publicaram poesia.
Quem lê poesia é um leitor
exigente, que entra em contato com o poeta para questionar, dialogar e propor,
exercendo a democracia, que está fortemente enraizada no conceito poético.
Freqüentemente, passo por experiências desse tipo em eventos literários e
debates sobre meu último livro, “Poesia não vende”. Leitores de várias partes
do Brasil perguntam e enviam e-mails.
O leitor de poesia é também um
leitor sincero e transparente. Aplaude quando gosta de um trabalho, questiona
quando se sente atordoado e lamenta quando suas expectativas não foram
atingidas. É um leitor que odeia marketing, não gosta das superexposições de
livros e foge das obras mais vendidas. Ele quer novidades, quer descobrir novos
poetas e quer compartilhar os seus momentos.
Tudo isso faz do leitor de poesia
um verdadeiro revolucionário, que não tem medo de sair ás ruas, ler boa poesia
e promover encontros, a base de vinhos, palavras e sugestões. O leitor de
poesia não teme o amanhã, sabe, aliás, que precisa ser parceiro do futuro e,
que junto com ele, pode valorizar a poesia.
O leitor de poesia não teme lutar
contra a maré, não teme enfrentar o mercado editorial, não teme as
conseqüências da valorização da poesia. Aliás, luta por isso a todo instante, a
cada dia, como se esse fosse um objetivo de vida, a principal das conquistas.
Sabe que enfrenta obstáculos diários, tem consciência de que essa é uma luta
sem fim e sem retorno imediato. Mas, sabe também que tudo tem um começo, tudo
precisa de poesia.
É graças a esses sentimentos e a
esses leitores que a poesia persiste e vive, livre, leve e solta, em busca de
patamares mais altos, de representatividade e, principalmente, de público, fiel
ou não, adeptos ou não, poetas ou não. O que importa é que a poesia seja lida,
como se fazia antigamente nos bares, lares e escolas.
(*) Rodrigo Capella é jornalista, escritor e poeta. Seu livro
“Transroca, o navio proibido”, vai ser adaptado para o cinema pelo diretor
Ricardo Zimmer. Informações: www.rodrigocapella.com.br
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