A
toalhinha do amor
* Por Edir Araujo.
Era
uma toalhinha cor de rosa, confeccionou e bordou com muito carinho. Pendurava
no varalzinho do banheiro. Estava sempre lá, limpinha, cheirosinha, quietinha,
aguardando o momento de visitar nossa intimidade. Mas um certo dia ela
desapareceu.
"Você
viu a toalhinha do amor?" Perguntou ela.
Respondi:
"Sua toalhinha? Não, não vi. Por que? Sumiu?"
-
Minha não, nossa. Nossa toalhinha do amor! (zangou-se) E sumiu... por acaso
você pegou?
-
Claro que não. Só pegamos quando fazemos amor, lembra?
-
Pegamos não, eu que pego (corrigiu ela) e levo pra cama, uso muito mais
que você, sabe disso! E você nunca lembra dela.
-
Mozinho, já disse que não sei.
-
Mas não é possível. Lavei hoje de manhã e pendurei no varalzinho.
- O
quê? Tá maluca? Ontem não fizemos amor, nem hoje pela manhã...
-
É... é que...
Fui
até o banheiro, pensativo, com a pulga atrás da orelha. De fato, não estava lá.
-
Martha, você tá me traindo?
- Tá
duvidando de mim? Você tá me ofendendo..
-
Desculpa, vai... mas isso tá muito estranho. Há anos que a toalhinha fica lá
e... eu nem tinha percebido.
-
Pois é, mas sumiu...
-
Você deve saber, se lavou de manhã... não colocou noutro lugar?
-
Claro que não!
-
Isso tá me deixando confuso, por que lavou se não foi usada?
-
É... não sei...
-
Martha, você tá me escondendo alguma coisa.
-
Você pirou? Não tô escondendo nada. É que recebi aquela visita indesejável de
manhã...
-
???????
-
Que visita?
-
Ora, Afonso, não se faça de desentendido. O chico, porra...
-
Ué... Mas o chico foi embora há uma semana...
-
Tinha um restinho, vi na calcinha, pensei até que fosse corrimento, mas era ele
que ainda não tinha ido embora de vez.
-
Tá, vá lá que seja, mas você tem que lembrar onde colocou.
-
Peraí, a campanhia tocou de repente, fui até a porta, era Lourdinha, agora
lembrei...
- E
daí ?
-
Ei... ela usou o banheiro... será que...
- E
porque sua irmã roubaria a toalhinha? Uma coisa tão íntima, com nossos nomes
que você bordou nela, dentro de um coração...
- Aí
é que tá... só pode ter sido ela.
Telefonou
pra Lourdinha soltando cobras e lagartos: - Sei que foi você, Lou... trata de
me devolver.
- Tá
maluca? Pra que eu ia querer isso? Ah, fala sério, tenho mais o que fazer. -
Replicou Lourdinha batendo o telefone.
De
repente Zeus entra na sala e Martha dá um berro de susto:
-
Seu filha da puta, ai... não acredito nisso... - Esbraveja Martha, caindo em
choro convulso.
- Eu
mato esse cachorro, olha isso, estraçalhou a nossa toalhinha...
-
Mas como? Ele não alcança no varal.
-
Sei lá, deve ter caído do varal quando fui atender a Lourdinha...
-
Alô! Lou? Desculpa eu t... ter duvidado de você...
-
Calma, por que tá chorando?
-
Foi o Z... Zeus que pegou, quase me ma... (hic) matou de susto quando o vi com
a toalhinha na boca, toda retalhada...
-
Estou indo aí, mas para de chorar...
Eu
rachava o bico tentando tirar a toalhinha da boca de Zeus. Martha me fuzilava
com ódio no olhar:
-
Você acha engraçado, é? Agora deixa que ele engula essa porra. Já rasgou tudo
mesmo...
Nisso
chega Lourdinha tentando acalmar a irmã: - Não é o fim do mundo, Marthinha,
você borda outra toalhinha...
-
Leva esse filha da puta desse cachorro daqui senão eu vou matar ele...
Foi
aí que interferi com bravura: Nada disso, o Zeus não sai daqui nem morto.
- Ah
é? - Vociferou Martha histericamente: - Ou ele ou eu... Se ele ficar eu vou pra
casa da mamãe, e não duvide de mim, seu calhorda, e ainda se divertindo
com tudo isso, não é?
E
assim ficou tudo resolvido. Lourdinha levou o Zeus e a paz voltou a reinar...
Será?
Altas
horas, minha mão atrevida começa a bolinar o corpo de Martha: - Tira essa mão
pra lá... (ralhou). Não acredito que ainda consegue pensar em sexo. Além do
mais sem a toalhinha do amor, neca de pitibiriba...
Edir
Araujo resgatando suas crônicas do fundo do baú.
15
de março de 2007.
* Edir Araujo é poeta e
escritor, autor dos livros A PASSAGEM DOS COMETAS E GRITOS E GEMIDOS.
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