segunda-feira, 2 de janeiro de 2012







Sem chance

* Por Aliene Coutinho


Solidão...era o que ela sentia às vezes, podia estar onde estivesse, com quem estivesse. Nesses momentos, sem ninguém perceber, se desvencilhava do mundo, e embora permanecesse em meio a tudo e a todos, estava longe e só. Ou quase só. Seu pensamento sempre fora sua arma secreta, seu refúgio. Nele, viajava, voltava no tempo, buscava rostos e lembranças. Via-se criança, via-se adolescente, via-se adulta. Como conseguiu ser tão diferente em cada uma dessas fases? Ela sempre buscava a si mesma e nessa busca o encontrava. Ele estava ali, ora presente, ora ausente. Era parte de sua história e se apagara, se perderam um do outro. Bem que tentaram se reencontrar, mas já estavam tão distantes que não se entenderam. Embora falassem a mesma língua e sentissem as mesmas emoções, o destino conspirara contra o que poderia ser o amor perfeito. A vida, cheia de armadilhas, os traíra, e eles, sem perceberem, se deixaram ficar sós.

Naquele dia, em especial, em pleno turbilhão de uma festa, ela se refugiou em seus pensamentos e o encontrou. Ele ainda estava longe, ela se viu dentro de um carro parado num estacionamento, numa noite de chuva. Falavam ao telefone. Ele lhe dizia o quanto a amava, ela chorava. Quis entender o que as lembranças lhe traziam, sentia no peito a mesma dor daquele momento, porém por mais que buscasse, nada encontrava. Estava mais só do que sempre estivera, nem em seu refúgio mais seguro pôde compreender porque diziam adeus. E ela ouviu com todas as letras as palavras ditas por ele que ressoaram em sua cabeça. Era um fim. Sentiam medo do que sentiam, o futuro os assustava como fantasmas...não havia esperanças. O dia de amanhã não seria deles.

E ela mergulhou em suas lembranças e foi ainda mais longe. Ele sempre estava em algum canto de seus arquivos, dentro de caixas lacradas, de envelopes que nunca foram abertos, de gavetas limpas com cheiro de lavanda. Voltando à tona, percebeu que ela também não mudara. Continuava só, e embora soubesse que poderia buscá-lo a qualquer momento, assim como ele a ela, nenhum dos dois se atrevia a tentar ser feliz.

Nesses momentos de solidão, ela o tinha e não poderia ser diferente. Nasceram um para o outro, mas se encontraram no dia, local e século errados e por isso estavam predestinados a passarem o resto da vida sozinhos, pensando um no outro, se buscando sem se permitirem ficar juntos.

* Jornalista, professora de Telejornalismo.

Um comentário:

  1. Ai que loucura, amando e separados. Estranho, mas conheço esse roteiro. A religião pode ser o motivo do impossível.

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