domingo, 10 de abril de 2011



Horror


* Por Emanuel Medeiros Vieira


(Para todas as crianças do Brasil)

Um grito ouviu-se em Raquel, de pranto sentido e lamentação: é Raquel que chora seus filhos, e não quer ser consolada, porque eles não existem mais.” (Mt,2,18) Não, não quero fazer teses. Apenas indago: que sociedade é essa? É a da obsessão pela magreza, do culto da juventude eterna, da plastificação contínua do corpo humano, da paixão desvairada por academias, do pavor da velhice, da busca insaciável do prazer do reino do “comprar” e do sexo banalizado e vazio?

É isso: A VIDA NÃO VALE MAIS NADA. Na sociedade mercantil – insisto – o reino da morte é hegemônico. Não estou discutindo a psicose do rapaz assassino, da falta de porteiros na escola, da facilidade da compra de armas. É o reino da morte.

Como interromper brutalmente a vida de tantos jovens? São sempre os mesmos aqueles que mais sofrem mais: os humildes, os que não têm parentes influentes, os que vivem na periferia. É cada um por si. Ninguém se importa pelo outro. Sim, tudo isso é verdadeiro. MAS NÃO É SÓ ISSO.

Mirem-se nas tevês: é só compra! Compre e seja feliz! Faltam-me palavras – e trabalho com elas há mais de 50 anos –, mal rompe a aurora. Sim, faltam-me palavras para falar sobre o massacre dos inocentes na escola do Rio de Janeiro. E dizer: a escola é o local de proteção – que sempre imaginamos que fosse.

Amigos, filhos, irmão, netos: “Perdê-los no espaço sagrado de uma sala de aula, no início da madrugada ensolarada, é mais absurdo ainda”. Como disse alguém, talvez essa tragédia tenha na sua origem na adesão ao mundo torpe da competição desvairada, da eliminação do outro, do desprezo pela dignidade humana.

Egoísmo, indiferença pela sorte alheia, pela carência de compaixão: são os pilares desse mundo. Do fundo do coração, a sensação é de enorme luto. De mãos dadas com a minha mulher, com os meus filhos e com a nossa secretária doméstica, propus que rezássemos a oração que o Pai Nos Ensinou. Foi o que fizemos: com lágrimas nos olhos.


*Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava simpósios”, entre outros.

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